Em seu livro, o cantor, compositor e escritor evoca a Pelotas presente no imaginário de todos que já conheceram a cidade
Por Fabiano Stéphano Roux Cordeiro Lautenschläger
Publicado em 2008, o livro “Satolep”, escrito pelo cantor, compositor e escritor pelotense Victor Ramil é uma obra de destaque na literatura contemporânea brasileira. Conhecido tanto como músico quanto como escritor, Victor Ramil é reconhecido por suas contribuições criativas e inovadoras no cenário da música popular brasileira. Seu envolvimento com a música desde a adolescência moldou sua abordagem artística, e temas como o regionalismo têm sido explorados em suas composições de maneira original. Ramil lançou seu primeiro álbum, intitulado “Estrela, estrela”, aos 18 anos de idade, e, desde então, tem sido aclamado por sua contribuição para a cena musical brasileira.
No entanto, o autor expandiu seu horizonte artístico e iniciou sua carreira como escritor em 1995 com o lançamento de seu primeiro livro, intitulado “Pequod”. Essa obra, que chegou a ser publicada na França, serviu como ponto de partida para suas reflexões sobre identidade sul-rio-grandense. Suas experiências pessoais, incluindo o período vivido no Rio de Janeiro durante a década de 1980, levaram-no a questionar a posição do Rio Grande do Sul em relação ao resto do país e a explorar as questões identitárias decorrentes desse contexto.
A cidade de Pelotas, localizada no Rio Grande do Sul, desempenha um papel central nas composições musicais e nos escritos de Victor Ramil. No entanto, ele retrata a cidade de forma adaptada, o que se evidencia no anagrama “Satolep”, título de seu segundo livro publicado em 2008 pela editora Cosac Naify. Nessa obra, Ramil cria uma narrativa que mergulha nas memórias do autor e nas reflexões sobre a identidade sul-rio-grandense.
“Satolep” apresenta uma trama que gira em torno de Selbor, um fotógrafo que sente a necessidade de retornar à sua cidade natal após anos de afastamento. O livro é caracterizado por capítulos curtos intercalados com mini ficções relacionadas às 28 fotos de Pelotas que adornam suas páginas. Através dessa estrutura narrativa engenhosa, Ramil oferece ao leitor uma experiência única, que vai além da narrativa convencional.
A abordagem do autor em “Satolep” transcende a mera descrição dos personagens e mergulha na própria cidade como protagonista. Ramil analisa meticulosamente a cidade, revelando suas nuances e refletindo sobre a natureza da identidade coletiva e individual. Como observado pelo autor, na época de lançamento, em 2008, “Satolep” “não é um livro qualquer, está muito além da valsa velha que embala nossa atual literatura, mas ao inventar um ritmo, uma milonga, por mais universal que seja, é natural que encontre algumas resistências”.
A atmosfera melancólica e a névoa que paira sobre Satolep contribuem para uma sensação de incerteza e transitoriedade. A cidade é explorada como um espaço físico e metafórico, onde as memórias e os sonhos se encontram. Essa abordagem é refletida por Ramil quando escreve: “Satolep é apenas um nome. Não existe cidade, gente, rua. […] Satolep não existe no presente. Existe em meu e em seu passado”.
Ramil utiliza fotografias antigas da cidade para complementar sua narrativa, estabelecendo um diálogo entre o texto e as imagens. Essa interação entre a palavra escrita e a imagem fotográfica evoca uma sensação de nostalgia e reforça a imersão do leitor na atmosfera de Satolep.
“Satolep” é uma obra literária marcante que transcende as fronteiras da literatura convencional. Victor Ramil demonstra sua habilidade artística ao criar uma narrativa que desafia os padrões estabelecidos. A intercalação de fotografias antigas com o texto amplifica a experiência do leitor, proporcionando uma reflexão profunda sobre questões de identidade, memória e a efemeridade da vida.
Com seu estilo narrativo poético e reflexivo, Victor Ramil oferece uma contribuição significativa para a literatura contemporânea brasileira. “Satolep” representa uma jornada literária que explora os limites da ficção, desafiando conceitos estabelecidos e abrindo caminhos para novas formas de expressão artística. Esta obra merece ser apreciada como um testemunho da criatividade e sensibilidade de Victor Ramil, além de sua capacidade de retratar a complexidade da identidade regional e sua relação com o tempo.
COMENTÁRIOS
Satolep…na névoa da noite do lançamento dessa obra, eu estava lá no teatro cheio 7 de abril… Peguei autógrafo, fiz foto de regata cor do arco-íris. O livro dei de presente, com dedicatória, a foto o orkut engoliu, mas ficou em mim a UFPel e os laços… Satolep também é um lugar no meu imaginário ; aportuguesei o nome de meu filho, “Dioukim”.
Francesca Batista de Azevedo
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