Filme rio-grandino compete no festival Visions du Réel  

Por Thiago Lehn e Vitor Valente    

O evento internacional ocorre na Suíça entre os dias 7 e 17 de abril

O filme “Madrugada”, com participação do cineasta rio-grandino Gianluca Cozza, terá exibição no festival Visions du Réel, entre os dias 7 e 17 de abril na cidade de Nyon, na Suíça. A Saturno é uma produtora criada por alunos de cinema da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) com intuito de produzir filmes ao longo do curso, mas que com o passar do tempo tornou-se profissional. O curta-metragem “Madrugada” é o seu trabalho mais reconhecido até o momento, que recebeu o título em inglês “Nightwalker” na programação do festival.

O curta será exibido no 53° Visions du Réel, dentro da mostra competitiva Opening Scenes. A história apresenta situações reais, tendo como plano de fundo a zona portuária da cidade de Rio Grande, mas dentro de um roteiro de ficção. Conta a história de trabalhadores informais do Porto de Rio Grande.  Com direção de Leonardo da Rosa e Gianluca Cozza, o filme teve sua estreia nacional em janeiro de 2022, na Mostra de Cinema de Tiradentes, na Mostra Foco, principal seleção competitiva de curtas do festival.

O filme curta-metragem tem direção de Leonardo da Rosa e Gianluca Cozza

E para conhecer mais do filme “Madrugada” e da produtora Saturno, o site Arte no Sul conversou com o diretor e idealizador, Gianluca Cozza.

Arte no Sul:  Por onde o filme já passou e como foi recepcionado?

Cozza: Discutimos bastante onde o filme deveria se apresentado primeiro, a decisão de apresentar na Mostra de Cinema de Tiradentes [,em Minas Gerais,] foi unânime porque é um festival muito importante para nós. As discussões que a programação do evento traz se ligam de certa forma com a nossa trajetória. O filme estreou na Mostra Foco (mostra competitiva de curta-metragem) e depois fomos selecionados para mais dois eventos internacionais, que recusamos em detrimento da seleção do Visions du Réel. O filme nasceu bem, a gente tem escutado coisas boas sobre o filme e espera passar no restante do circuito [de festivais] ainda esse ano.

Arte no Sul: Qual foi a tua reação ao receber a notícia de que “Madrugada” será exibido no Visions du Réel?  E qual a expectativa agora que a exibição e viagem estão próximas?

Cozza: Soubemos aos poucos da seleção. Fomos trocando informações com os curadores desde o final do ano passado, e recebemos a decisão final em janeiro deste ano. Ficamos muito felizes com o interesse do festival, era um desejo antigo passar o filme lá.

História ficcional lida com as diferenças entre a vida real e a narrativa de cinema 

 

Arte no Sul: O filme pode ser considerado híbrido, pois trabalha o ficcional com a linguagem de documentário. Quais foram as motivações e inspirações ao fazer essa escolha?

Cozza: Acredito que o filme seja ficcional, porém é natural que surjam essas questões, já que ele parte desse tensionamento entre a vida e o cinema. Tem algumas coisas que causam, a meu ver, essa sensação de que aquele universo vive sem a presença da câmera, afinal não é um estúdio. Essa realidade empírica é presente no filme através das paisagens naturais do Porto de Rio Grande, suas estruturas de ferro, os navios e os atores que exercem a mesma atividade que os seus personagens. [A realidade é] notada sem que seja dado qualquer aviso prévio [ao espectador], mas validada pelas características que esses corpos carregam. É uma sensação de que pouco se acrescenta quando se liga a câmera, uma estratégia de documentário que fazia sentido para o filme. [O intuito era que] essa forma concreta das coisas permanecesse.

Porém todo o processo parte de um gesto ficcional, que [se quis deixar] transparente no filme, pois foi construído junto com [os personagens, sujeitos reais deste espaço,] Daniel, Ludo, Anderson e companhia, durante dois anos. O roteiro, decupagem e documentos, que auxiliam nesse tratamento criativo da realidade, foram realizados em conjunto, observando as ações que os mesmos realizavam em seu cotidiano, fazendo recortes dessas situações para dar síntese, como se fosse uma crônica em formato de curta-metragem.

Arte no Sul: Quais foram os maiores desafios do processo?

Cozza: A preocupação maior era como propor um jogo de cena para essas pessoas que nunca participaram de um filme, sobretudo pessoas que não estavam familiarizadas com técnicas de atuação, atores não-profissionais. O primeiro passo foi deixar entendido que aquilo era um filme e não um registro da vida delas, elas não só teriam que reencenar suas ações, mas reinventar algumas características a partir da atuação.

Arte no Sul: E quais serão os próximos passos para a Saturno? O que pensam em fazer no futuro?

Cozza: Estamos desenvolvendo projetos que estão em fase de financiamento. Temos um roteiro de longa-metragem chamado “Grave” e outros projetos de curta-metragem que deverão ser rodados em breve.

Veja o trailer de “Madrugada”:

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