Por Nathalia Farias Borges
Jovem artista rio-grandino lança videoclipe apesar das dificuldades durante a pandemia
Com a mensagem poderosa de “Pretos Unidos”, Isaque Acosta, artista rio-grandino de 21 anos, deu um passo importantíssimo na sua jornada dentro da indústria musical em meio a um cenário pandêmico. Em uma cidade pequena com pouco incentivo cultural, lançou o seu primeiro videoclipe. Mas a história de Isaque com a música é antiga e seus sonhos e objetivos são grandes.
O cantor explica que o envolvimento com a música inicia já na infância e, principalmente, com a relação com a igreja. “Eu venho de uma família majoritariamente evangélica em que a música sempre foi muito presente. Minha avó materna tem um CD gospel de músicas autorais no qual meu avô, algumas tias e minha mãe cantam junto”. Isaque também menciona a importância do hip hop para suas raízes: “Tenho um primo que participou do Estrela Meiaumtres, um grupo que ganhou alguma expressão no cenário Hip Hop da capital, inclusive tendo gravado clipes com a RapBox”.
Mesmo com as influências familiares, o artista também conta sobre os desafios com os quais lutou e continua enfrentando para perseguir esse sonho. Ele destaca as adversidades que mais o marcaram foram a relação com as igrejas que frequentou durante sua vida inteira e as difíceis condições econômicas e incentivos financeiros que o cenário atual oferece a artistas. Mesmo assim, ele não se deixou levar e conseguiu ultrapassar os obstáculos. Em março de 2020 foi demitido. Com todos os direitos rescisórios do comércio em que trabalhava, começou a investir na música. “Em relação a igreja, resolvi servir a Deus aqui fora”, diz Isaque.
O primeiro clipe “Estilo de Marca” foi lançado em 21 de janeiro de 2021, produção de SnakeBytte e direção de Ah Nanse, e conta com o protagonismo de vários artistas negros da cidade. “Estilo de Marca foi um desafio íntimo proposto pelo meu amigo diretor fotográfico Ah Nanse, também negro. Foi difícil para mim expor estas pautas, pois seria um discurso partindo de uma boca preta e gay. Referência de estilo para poucos”, o cantor explica. Quanto a mensagem da música, Isaque salienta a importância da família e do empoderamento para o crescimento dele, como homem e como artista: “Eu sempre me achei muito. Tenho a sorte de pertencer a uma família unida, onde 90% das pessoas são pretas retintas e que, nos seus limites, me ensinam, me encorajam, me empoderam. Sou bem acompanhado. Cantei o que eu vivo. Deste meu cenário é que consegui entender a importância da união e do empoderamento. Pessoas pretas precisam cada vez mais se enxergar em discursos para que alcancem a autoestima que verdadeiramente merecem”.
O artista explica ainda todo o processo de preparação e produção para que o projeto saísse do papel e fosse para rua. “Foi um tanto complicado pela falta de apoio financeiro. Batalhamos por dias para encontrarmos um local, por exemplo. Tivemos muito bloqueio por parte dos empreendedores rio-grandinos. Contudo, artista independente tem que fazer acontecer. A música foi gravada e preparada colaborativamente pelo produtor Snake, meu colega. Uma das dançarinas, também minha amiga, a Amanda, conseguiu o local pra gente três dias antes da gravação também com um amigo. Somos todos amigos. O clipe só existiu com a colaboração de todos e pelo poder da amizade”.
Isaque trouxe boas notícias. Foi recentemente contemplado seu segundo edital financiado pela Lei Aldir Blanc. “Tem sido, por enquanto, a única forma de retorno financeiro e investimento para minha arte. Contudo, tenho usado este tempo para refletir o momento, estudar, me planejar e executar coisas que darão fruto quando este mau tempo passar”, desabafa.
Quando questionado sobre projetos futuros e próximos passos, Isaque já tem “spoilers”. “Eu estou no processo de finalização do meu primeiro EP. Será um trabalho bem pessoal, cujo lançamento será em breve. Tenho certeza, quem me acompanha irá se orgulhar.
Decidi trazer neste projeto três sons que remetem à minha busca incessante por liberdade, pois, por muito tempo, correntes me privaram de ser quem sou. No momento em que me encontro, começando carreira, é crucial para mim que eu use e abuse da minha liberdade para alcançar meus objetivos. Precisamos nos fazer livres para amar, para sonhar, para aproveitar nossa caminhada e para conquistar nossos objetivos. Espero que a mensagem aqueça corações!”, finaliza.
COMENTÁRIOS
Lindo texto! Que legal o espaço que foi dado a um artista iniciante. Parabéns! E ao Isaque, você tem talento para isso.
Queithi Valente
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