Música para todos

Por Gabriel Antunes Gonçalves    

Orquestra Estudantil do Areal oferece aulas sobre vários instrumentos musicais

Estudantes da comunidade têm chance de vivenciar funcionamento de orquestra

Com seis anos de existência, comemorados sempre no mês de setembro, a Orquestra Estudantil Areal tem recebido alunos da rede estadual e estudantes da rede particular com bolsa de estudos. A iniciativa consiste em oferecer aulas gratuitamente para iniciantes em música que procuram desenvolver suas habilidades e conhecimentos para a atuação em conjuntos de câmara e orquestra. São oferecidas aulas teóricas e práticas de violino, viola, violoncelo, contrabaixo, violão, piano, escaleta, flauta doce e percussão.

As atividades da orquestra são coordenadas pela professora Lys Ferreira, a qual nos concedeu uma entrevista via Whatsapp.

Como surgiu o projeto Orquestra Estudantil Areal?

Lys Ferreira – O projeto da Orquestra foi uma iniciativa do governo estadual no ano de 2013 em escolas que aglutinavam pessoas de bairros diferentes, com históricos de violência e vulnerabilidade social. Esse é o perfil das escolas que o governo do estado investiu em kits de instrumentos musicais para a formação de orquestra, além da efetivação de um concurso para professores trabalharem nesse projeto. A Orquestra do Areal, então, não surgiu de uma iniciativa pessoal, apesar de ser uma busca de toda a minha formação profissional.

Como tu achas que a música impacta na vida dos jovens estudantes?

Lys Ferreira – O ensino das artes nas escolas por muitos anos ficou baseado apenas nas artes visuais. Atividades como música, teatro e dança acabavam sendo apenas atividades extracurriculares, fora da sala de aula. Porém o ensino das artes abrange várias linguagens artísticas e, na vida de jovens estudantes, é importante que eles tenham acesso a esse ensino. O jovem, muitas vezes, precisa de um incentivo para a música.

O que eu vejo que acontece com o ensino da música ou de qualquer outra linguagem artística é que o domínio cultural da sua região está totalmente perdido. A mídia tomou conta desse campo do entretenimento e as pessoas passaram a ver a arte como tal, enraizando isso na formação do jovem. Nós brigamos muito com isso nas escolas, pois trazemos a informação e o aluno aprende arte como entretenimento. Então, a partir do momento que conseguimos impactar um jovem através do nosso ensino nas escolas, estamos passando uma nova referência cultural a ele e a todos que o cercam.

Quais são as maiores dificuldades enfrentadas com a pandemia?

Lys Ferreira – O maior problema é a falta de acesso à internet dos alunos da comunidade do Areal. Vale ressaltar que nós não recebemos nada do governo estadual com relação a subsídios de internet. Eu, por exemplo, não tinha internet na minha casa. E, de repente, com a pandemia, não tem como viver trancada em casa sem ter o serviço.

Outro problema, que vem na sequência, é que essas tecnologias não abrangem as necessidades de uma aula assíncrona de fato , a gente não consegue ter uma conversa que flua naturalmente. Na música, então, isso é um caos. Ninguém pode tocar junto. O mais próximo que chegamos de isso acontecer é quando alguém toca e a gente acompanha a pessoa tocando, cada um no seu canto. A dor para um músico, ao meu ver, é essa falta de interação. A gente não consegue através dessa comunicação interagir, fluir e se perceber da maneira como se percebe em um encontro presencial.

A Orquestra Estudantil do Areal completa seis anos de existência

Qual o objetivo do projeto ao disponibilizar aulas gratuitas aos estudantes da rede pública?

Lys Ferreira – Justamente pela falta de acesso dos estudantes da rede pública, nós ampliamos para alunos da comunidade poderem ingressar. E foi uma grande procura, muitas pessoas apareceram interessadas. Atualmente, temos um pouco mais de 40 alunos na Orquestra do Areal e mais de 70 na Orquestra Municipal. Algumas atividades são realizadas juntas, então as salas ficam lotadas de alunos e isso é muito interessante, pois tem uma interatividade entre eles. Isso permite que esses jovens se conheçam, pois muitos estão em anos diferentes e não teriam a oportunidade de se conhecer, mas têm esse objetivo em comum de ser parte de uma orquestra, de estudar a música.

Ser estudante de música é uma coisa e ser membro de uma orquestra é outra. A orquestra é um espaço de socialização, em que além de se aprender a tocar um instrumento, se aprende a conviver. É por isso que o projeto foi criado, para levar às escolas a experiência de conviver em um grupo de orquestra, na qual cada um tem a sua competência, em uma diversidade de instrumentos, em níveis diferentes de estudo e conseguem tocar juntos. Então oferecer isso para a comunidade foi necessário.

Visite a página da Orquestra Estudantil do Areal no Facebook.

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