Por Juan Tasso
Segundo episódio de “Street Food” mostra culinária de Salvador
Um dos temas mais populares entre os documentários do canal de streaming Netflix é o da culinária. A plataforma conta com produções renomadas como o “Chef’s Table”. Dentre os seus trabalhos está “Street Food: América Latina”, uma série documental que registra comidas de rua em seis países do continente: Peru, Argentina, Bolívia, México, Colômbia e Brasil.
No segundo episódio da série documental, os mesmos produtores de “Chef’s Table” vieram ao Brasil em busca de comidas de rua, na capital do estado da Bahia, Salvador. A intenção da série é valorizar a cultura culinária local, além de respeitar e representar a história da população negra baiana nesta edição.
Seis personagens participam do episódio. Para dar início a narrativa, Tereza Paim, chef do restaurante Caza de Tereza, traz para a discussão a importância da cultura africana na cultura gastronômica de Salvador.
Além de Tereza, a série contou com a presença do professor de Antropologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Vilson Caetano de Souza. Com nomes de peso que informam com seu conhecimento histórico, a produção consegue transmitir as nuances da religiosidade, contexto histórico e importância cultural da gastronomia da capital.
A grande estrela do episódio é Dona Suzana, dona do RéRestaurante. Ela conta sua história do interesse pela culinária, que começou com sua mãe quando ainda era pequena. De origem pobre, Dona Suzana conta hoje com um restaurante reconhecido nacionalmente, e amado pela comunidade local. Ela conta também com a companhia de seu marido, Antônio, pescador.
A equipe da Netflix gravou durante uma semana em Salvador, e conseguiu captar com sensibilidade a importância da gastronomia local, além das dificuldades que os comerciantes passam na região. Como destaque, a produção da Netflix mostra a moqueca de peixe de Dona Suzana, que faz sucesso entre os moradores.
Outros personagens marcam a narrativa do documentário. Uma delas é Martinha Rodrigues, destacada pelo documentário pelo pirão de aipim que serve nas praias. A produção expõe os desafios de uma mulher negra de fazer o que ama. Com Cláudia Bárbara, o episódio reforça a representatividade e a tradição da cultura negra, destacada pelo acarajé baiano.
Também tem destaque de Bar dú Kabaça, capoeirista e cozinheiro. Com o seu testemunho, mais uma vez, a história da cultura africana é presente na trajetória gastronômica da cidade. Ele lembra que a capoeira, a sua paixão que vem lado a lado com a gastronomia, foi criminalizada por muito tempo, e ajudou a construir a cultura que hoje representa o povo brasileiro.
Por ser uma produção norte-americana, é normal que se identifiquem detalhes e representações que não condizem com a realidade do povo de Salvador. O mérito da série da Netflix, porém, vem na tentativa de montar uma narrativa com o recurso histórico de especialistas na área.
A capital baiana respira cultura. Isso é refletido na arte e gastronomia da cidade, que faz parte do cotidiano do soteropolitano. As comidas típicas refletem centenas de anos de história de repressão colonialista, resistência do povo negro, e histórias de pessoas que buscam tornar essa cultura eterna.
As expressões culturais são formas de resistência. A gastronomia da cidade de Salvador é resistência.
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