Por Lisandra Miranda
O Bando053 é um grupo de rap que foca no desenvolvimento de músicas no estilo trap, considerado um subgênero do rap. Atua em Rio Grande, e é composto por três integrantes, sendo eles Bruno Ribeiro (20), Yago Gonçalves (20) e Rafael Motta (20), que no meio artístico são conhecidos, respectivamente, como $mk TheKid, Rose G e Alemão.
O nome $mk TheKid de Bruno Ribeiro é baseado no personagem Smokey do filme Sexta-feira em apuros, lançado em 1995. Enquanto, Rose G, nome artístico de Yago Gonçalves, é abreviação de seus sobrenomes Rosa Gonçalves, porém ele afirma que Rosa G soaria estranho e preferiu escrever rosa em inglês. E Rafael Motta, o membro chamado de Alemão, escolheu esse nome, pois é a maneira que todos o chamam, principalmente na rua. Nesse contexto, o Bando053 representa o sonho de três jovens no município de Rio Grande que querem conquistar novos horizontes e conseguir viver de suas rimas e beats.
$mk TheKid e Rose G estão há quatro anos na carreira musical, pois em 2015 se uniram e criaram inicialmente o grupo UmTrago. Em 2018 conheceram Alemão, que passou a fazer parte do grupo e, no início desse ano, criou a proposta do Bando053. A concepção parte de acordo com Yago, de “sempre agregar novos artistas”. “A gente trabalha por isso, para fazer dar certo, e não só pra nós, porque, de que adianta a vitória, se só eu vou desfrutar”. Isso mostra a consciência dos rappers da importância do crescimento dos diversos grupos de trap e rap na cidade de Rio Grande.
Trap e Rap
Os rappers do Bando053 produzem música trap, mas para compreender esse subgênero do rap é importante entender o rap como um tipo de música que possui um discurso rítmico com rimas. No Brasil, o rap tem uma função social ao ser usado para relatar os problemas vividos pelos brasileiros das periferias e, especialmente, em focar nos jovens pobres desses locais, sendo chamado diversas vezes de rap de mensagem. Segundo $mk TheKid, “o rap de mensagem quer passar a visão da tua realidade passando na vila, no bairro.”
O trap, por sua vez, começou na década de 2000 nos Estados Unidos, e ganhou popularidade em 2007, ao redor do mundo. Esse subgênero possui características específicas como um som mais agressivo e rápido, que influencia no ritmo da rima. No Brasil, o trap conquistou nos últimos anos os mais jovens, sendo tocado em festas e festivais. Tendo letras que fazem apologia a drogas e crimes em diversas vezes são consideradas inapropriadas, como o funk ostentação. $mk TheKid comenta: “A gente faz um bagulho mais festa, mais batidão. Um lance mais pista. É só o que que toca, se tu for ver o funk é estourado em tudo que é lugar.”
Diante disso, é possível pensar em uma rivalidade entre rappers de rap e trap, porém essa não é uma realidade em Rio Grande. Segundo $mk TheKid, “todo mundo é da quebrada e todo mundo tá se dedicando, só que cada um faz um trampo diferente. Eu e os guris fizemos um trampo que é para tocar nas pistas, o outro faz o que é para tocar o coração da pinta, vai contar uma história tu vai chorar, a gente faz um trampo que tu vai rir.”
Os músicos ressaltaram a construção de suas letras como parte essencial do seu trabalho, e afirmam que o desenvolvimento acontece em conjunto. $mk TheKid relata: “A gente se junta como irmão e vai fazer, por que junto é mais fácil, entendeu, junto acontece.”
Outra parte essencial da criação de uma música trap é a produção da mixagem e masterização, sendo a mixagem o primeiro passo, em que são estabelecidos os níveis de volume de cada voz e do timbre de cada um dos instrumentos da música. O segundo passo é a masterização, quando se procura corrigir quaisquer deficiências sonoras. No caso do Bando053, eles citam os mix e master Alã, 808Luke e Duck Beats, como produtores de seus trabalhos. De acordo com $mk TheKid, eles fazem o trabalho dar certo, pois fazem o beat e a melodia. “A gente só chega com a rima,” diz.
Eles também relataram os desafios que o Bando053 enfrenta na elaboração das rimas, como o fato de cada membro ser de um bairro diferente na cidade. Rose G mora no bairro Getúlio Vargas, enquanto $mk TheKid, no bairro Municipal, e o Alemão, no bairro Parque Coelho. Dessa forma, o principal meio de mostrar suas letras uns para os outros é através das redes sociais, e, segundo Alemão, “vai montando, um dá uma ideia e os outros abraçam.”
Outro desafio é a falta de tempo, pois todos do Bando053 ainda não conseguem se manter da produção de suas músicas, sendo obrigados a realizar outras atividades. Durante a semana, Alemão trabalha em uma esquadria de vidros, e Rose G é estagiário em uma empresa de fertilizantes. Como ele mesmo afirma, é “uma mente milionária no corpo de um estagiário”. Enquanto, $mk TheKid atualmente está à procura de um emprego.
Todos garantem, no entanto, estar sempre escrevendo, pensando e vivendo as rimas, e através das batidas criam suas letras diariamente. Alemão diz: “Meu tempo é quando eu chego do trampo cansado, boto o som a tocar, escrevo alguma coisa e assim a gente vai fazendo.” Enquanto Rose G afirma: “Acredito na rotina, acordo às cinco e pouco da manhã para ir trabalhar, a hora da manhã é a mais criativa pra mim, se eu tô escutando um beat (batida), eu já chego cantando na minha mente, é essa rotina que tem me ajudado.”
O grupo ressaltou as inspirações musicais que influenciam na criação das rimas de cada um deles. Citaram Sabotage, rapper que encontrou no gênero uma maneira de mudar a sua vida, conquistando reconhecimento na música brasileira. E o grupo Racionais MC’s, composto pelo mc’s Mano Brow, Edi Rock, Ice Blue. Mais DJ KL Jay, representante da vida de jovens negros, pobres e da periferia. Também lembraram de rappers estrangeiros, como Travi$ Scott, americano do Texas, que pode ser considerado um dos maiores representantes da música trap no mundo. Como fala $mk TheKid: “Minha inspiração vem do gringo, Travi$ Scott é o cara do momento do trap music, aí ele é inspiração pro cara, tá ligado.” Além dos rappers, os membros citaram que suas inspirações também vêm do dia a dia, a partir de suas vivências. Rose G diz: “O que mais me inspira é pensar, ter uma ideia e, pô, isso aqui é diferente, isso aqui é criativo.”
Com relação à entrada de cada membro no meio da música trap todos concordaram que sempre escutaram rap, algo que pode ser explicado por todos terem nascido em bairros periféricos, locais onde ainda o rap é mais cultuado. Alemão lembra: “Escutava os cara e pensava, acho que eu consigo fazer isso também e fui começando, escrevendo a primeira vez, escrevi a segunda, a terceira ficou boa, a quarta eu levei pra rua, e todo mundo curtiu, assim fui começando.”. Enquanto Rose G, o filósofo do Bando053, afirma: “Acredito que todo o artista quando vê algo que inspira, algo que ele sinta que possa estar naquele lugar e fazer, sempre carrega um sentimento de grandeza. Eu já tive várias viagens, assim eu comecei no rap e o sentimento foi sempre o mesmo.”
Cenário do trap e do rap no município de Rio Grande
Os rappers também conversaram sobre o trap na cidade de Rio Grande e sua valorização. Falam da falta de espaço, ainda mais para o trap, que traz apologias em suas rimas. $mk TheKid comenta: “Em Rio Grande, não se tem tanto espaço pra tocar nos eventos, a gente tocou na Boate Kali, mas, até pelo fato da gente fazer apologia, fica meio assim da gente tocar nas festas em Rio Grande sabe, tipo mateada, que rola aqui.”
Mesmo que Rio Grande não possua tanto espaço ainda, Rose G ressalta: “É uma cidade pequena com um grande sonho, tem muita gente talentosa, a gente acredita nisso, a gente tem a visão, por isso a gente tá procurando isso na verdade pra fazer dar certo, e não só para nós, porque de que adianta a vitória, se só eu vou desfrutar.”
Braion Alves (20), do grupo Artigo Rap, também de Rio Grande, concorda com todos do grupo sobre a falta de espaço do rap na cidade. E ressaltou a distância de Rio Grande do resto do Brasil, sendo importante usar as redes sociais para a divulgação dos seus trabalhos. Braion defende: “Rap vem muito da nascença, o rap veio da favela, o cara que cresceu em bairro sempre escuta rap desde criança, por isso que o cara tá sempre fazendo um som. Tem muita gente boa no Sul, na real, eles não dão muito espaço para nós, porque tamo meio afastado, mas tem que impulsionar na net”
Outro fato destacado pelos rappers é a relação do apoio financeiro com patrocinadores. $mk TheKid afirma: “O erro aqui na cidade é a aposta, não tem aposta, não tem um cara que vai chegar em ti, mano vou te empresariar, eu sei que tu tem talento. Então a gente tem que tirá do nosso bolso, ai dói, dói no coração do cara.” E com esperança Alemão complementa: “Tu sabe que aquilo vale a pena, mas falta quem te incentiva, por que eles tão precisando te escutar, não importa a gente tocar aqui e não escutar lá, a gente tem que ter um investimento, para ao menos escutar, porque a gente sabe que vale a pena.”
Mesmo com mais esse outro obstáculo, os membros do Bando053 ressaltam o apoio de suas famílias, mesmo que seus familiares possuam preconceito com o gênero do trap, apesar de ali estar muito dos seus sonhos. $mk TheKid diz: “Estourar no rap é apoiar o pessoal da vila, fazer ONG, bagulho para as crianças. Caso o bagulho estoure mesmo, é isso que vai acontecer, ajudar as crianças da área. Difícil é destruir os sonhos.”
Em relação à divulgação de seus trabalhos nas redes sociais, eles mantêm seus perfis no Facebook atualizados com as novidades individuais e do Bando053. Agora querem investir em outras redes sociais como Twitter e Instagram. Rose G fala que, nessas plataformas, “a gente acaba meio que conhecendo algum público, vai mostrando o som, aí eles já curtem”. O grupo também posta suas músicas no Youtube, como a trap Flexiona, e na plataforma Soundcloud, como Fuck And Choppa.
COMENTÁRIOS
Muito legal,sucesso a vcs !! Boa sorte!!! Top
Patricia Alves Bastos
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