Pop norte-americano direto de Pelotas: bate-papo com Julie Schiavon

Julie Schiavon em apresentação na Universidade Federal de Pelotas, em 2017              Foto: Arquivo Pessoal

Por Arildo Palermo

Difícil é deixar de cantar os sucessos dos Bee Gees, dos anos 70, ou não dançar ao som do album mais vendido da história da música: Thriller (1982), de Michael Jackson. O pop é um gênero um pouco difícil de conceituar. Ele foi sendo construído com a mistura de vários estilos musicais, começando a surgir, de fato, em meados dos anos 50 nos Estados Unidos. As músicas consistem em melodias viciantes e comerciais, mas que mantêm o espaço para críticas sociais e produções mais intelectualizadas. É aquele ritmo que não conseguimos tirar da cabeça.

E quem nunca se imaginou sendo uma estrela? Cantando, dançando e sendo reconhecido em um palco internacional? Através do pop, a artista pelotense Julie Schiavon já tem certa experiência na bagagem aos 22 anos de idade. Com uma atuação notável no hip hop, ela canta, dança, faz performances e cria composições.
Julie apresenta certas peculiaridades na sua arte, começando pelas letras de suas músicas: a maioria é composta em inglês. Além disso, ela já tem três colaborações internacionais com produtores das Ilhas Maurício, que fica no continente africano. Nós conversamos com ela para entender um pouco mais da sua relação com a música, os desafios de ser uma artista independente e os sonhos para o futuro.

Arte no Sul – Bom, Julie, começamos te pedindo para contares um pouco da tua história e do teu envolvimento com a música.

Julie Schiavon: Então, hoje eu tenho 22 anos, mas a música faz parte da minha vida desde sempre, quando eu tinha uns três anos mesmo, eu já dançava e gostava de fazer performances para a família. Desde muito novinha, eu já tinha decidido que era isso que eu queria ser e fazer e nunca me imaginei fazendo nada que não estivesse relacionado à música. Meus pais sempre foram incríveis e super apoiadores desse sonho, e, com isso, eles sempre fizeram tudo que podiam para que eu pudesse viver no meio do que eu gostava. Quando eu tinha 11 anos, fiz aula de canto na Escola de Música Rass. Foi nessa época que eu realmente comecei a me envolver cada vez mais com a música. Além das aulas, eu também costumava compor em casa no teclado. Esse lance autoral sempre foi muito intuitivo pra mim. Sempre gostei de brincar criando melodias e letras, então, a partir dessa idade, eu procurei organizar melhor essas composições. E já, nessa época, eu gostava de compôr em inglês, a maioria das referências musicais que eu tinha em casa eram de artistas internacionais, vindas do meu pai principalmente. Isso me influenciou muito a sonhar em ser uma artista internacional também, então, acabei me sentindo bastante confortável em escrever assim. A maior parte das minhas composições acaba sendo em inglês por essa questão de gosto e conforto mesmo, mas eu também sempre procurei fazer músicas em português, que me agradam bastante. Acho que eu criei uma “facilidade” maior compondo em inglês por já gostar. Mas é muito significativo pra mim fazer letras em português, principalmente por saber que o alcance do que eu digo vai ser mais diretamente absorvido pelo público que me acompanha.

Arte no Sul – E diante dessas características artisticas, tu chegaste a pensar em fazer algum curso superior ou tentar outro caminho?

Julie Schiavon: Em 2016, eu ingressei na UFPel no curso de Licenciatura em Dança. Sempre tive a consciência de que a carreira de artista seria algo meio incerto e que demanda muitos fatores que não dependem só de mim. Então, como meu segundo plano de vida, meu sonho era me tornar professora de dança. E estar na faculdade me proporcionou diversas experiências relacionadas a essa arte, que também sempre foi uma paixão na minha vida. Acho que sempre amei tudo que envolvesse a música, tanto cantar quanto dançar, mas eu nunca tive muitas oportunidades de praticar dança durante minha infância e juventude. Eu costumava dançar em casa mesmo, assistindo vídeo. Depois de ter começado o curso, comecei enfim a fazer aulas. Também fiz parte do grupo de dança Rua Em Cena. Nesse período, eu realmente foquei e me desenvolvi mais como bailarina. Diria que a ideia de carreira profissional como cantora veio mais recentemente mesmo. Tudo que eu vivi até hoje me trouxe grandes reflexões e aprendizados pra esse momento que eu estou vivendo agora, que está mais voltado à estruturação e planejamento dessa carreira que eu sempre sonhei.

Arte no Sul – E como foi a trajetória desde os teus primeiros videoclipes de The Fear e Only You até chegar nas parcerias internacionais?

Julie Schiavon: Então, essas parcerias internacionais são com produtores das Ilhas Maurício (África). Antes mesmo de conhecer a existência desse país eu sempre ouvi as músicas de gêneros que predominam por lá. Num dia qualquer, eu resolvi seguir um dos meus produtores favoritos no Instagram. Por uma grande sorte. ele me seguiu de volta no mesmo dia e, muito coincidentemente, eu já havia postado uma storie sobre o clipe The Fear. Ele acabou vendo e entrou em contato comigo, pedindo pra fazer um remix. A partir disso, conversamos e deixamos em aberto a possibilidade de criarmos algo original ao invés do remix. Um tempo depois, ele entrou em contato de novo me enviando o instrumental da música que então se tornaria Believe, que foi minha primeira colaboração internacional. Desde esse lançamento, outros produtores de lá foram me conhecendo e entrando em contato comigo também, e fui trabalhando da mesma forma. Eles me enviavam algum instrumental, eu trabalhava em cima e íamos discutindo sobre a música até finalizarmos. Como mencionei, sempre sonhei com essa ideia de trabalhar no exterior, mas ver que, de alguma forma, isso já está acontecendo, que pessoas de tão longe estão me ouvindo, é bem louco e surreal.

Arte no Sul – E conta um pouco pra nós como é ser uma jovem artista independente. Quais os desafios desse cenário?

Julie Schiavon: Sobre ser uma artista independente atualmente, eu diria que é meio complicado mesmo. Existem muitos fatores que me entristecem sobre a forma como a música está sendo consumida hoje, e o quão seletivo é esse sistema. Aparentemente, a meu ver, já não se leva mais tanto em consideração o produto do artista. Trata-se mais da sua distribuição. É um assunto um tanto complexo pra mim, porque eu não acho que tenha o direito de julgar a arte de alguém como merecedora de sucesso ou não. Na minha opinião, isso é extremamente subjetivo, mas tenho entendido que não é mais tão necessário que o conteúdo seja de qualidade. Não quero definir o que é qualificado ou não, se o mesmo for conduzido pelos meios e contatos certos. Entendo que existe um conjunto de caracteristicas e ações que levam alguns artistas mais longe e que, realmente, é preciso serem avaliados mais aspectos além de suas artes. Porém, ao mesmo tempo, gostaria que houvesse um pouco mais de apoio e oportunidades para os músicos locais. Refiro-me também aos públicos que, muitas vezes, não demonstram tanto interesse em consumir a arte independente ou a que soa “diferente” de suas preferências. Acho que, considerando o meu papel como artista, eu sempre tive muita sorte de apreciarem os poucos trabalhos que já lancei. Reconheço as pessoas incríveis que me oportunizaram espaços em que eu pudesse me inserir, assim, meu lugar de fala não faz tanto jus a esses pontos que mencionei. Acabo vivenciando mais a questão de ainda não ter os contatos certos que consigam propagar meu trabalho cada vez mais. No entanto, sempre tive muito apoio de todas as pessoas que se permitiram conhecer um pouquinho do meu amor pela música.

Arte no Sul – Falando desse amor pela música, Julie, e para finalizar a entrevista, qual é o teu maior sonho?

Julie Schiavon: Eu sempre tive diversos sonhos e metas em relação ao que gostaria de alcançar com a minha música. Mas, por agora, meu maior objetivo é ter estabilidade na carreira. Já falando de um modo mais geral e sonhador, eu gostaria muito de um dia participar de grandes festivais, sempre fui fascinada com a beleza e força de uma multidão unida. É uma emoção assistir a esses eventos, pois acredito serem os locais onde essas características se enaltecem de uma forma única e linda. Acho incrível o poder que a música tem de união e isso sempre me emocionou muito. Espero um dia ter a permissão e oportunidade de pisar em um desses palcos que unem tanto artistas quanto telespectadores, para compartilhar de um mesmo sentimento de amor a essa arte.

Contatos

É possível entrar em contato com a artista e contratá-la para shows e eventos pelo Facebook em dois endereços e no Instagram. Ela ainda disponibiliza o e-mail para contatos profissionais: julieschiavon@gmail.com. E se você quer conhecer mais do trabalho de Julie, dá uma conferida no canal do Youtube ou nos shows do Galpão Satolep nos fins de semana. Vai que, numa hora dessas, ela está fazendo uma apresentação por lá.

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