Por Isabelli Neckel
“Uma antologia de sucessos”. É assim que Paula Toller, ex-Kid Abelha, define seu novo show solo, “Como Eu Quero”. No dia 6 de outubro, a apresentação lotou o Theatro Guarany e seus 1200 lugares. Trouxe sucessos dos anos 1980 e também novas músicas de 2019, a turnê já foi assistida por mais de 100 mil pessoas pelo Brasil. Em Pelotas, a cantora mostrou por que é considerada uma das vozes femininas mais marcantes das últimas décadas.
Depois de se dizer honrada em cantar no tradicional palco do Guarany, por onde já passaram artistas como Carmen Miranda, Paula abriu show com a clássica “Fixação”. De 1984, a canção ditou o tom do que viria a seguir: uma noite para relembrar hits marcantes das décadas de 1980, 1990 e 2000. Músicas recentes foram tocadas, porém, é inegável que a conexão entre o público e a artista se deu, principalmente, quando soaram pelo teatro os sucessos antigos da extinta banda Kid Abelha.
Do primeiro acorde à última batida, a plateia vibrou com o pop nostálgico de “Alice”, “Te Amo Pra Sempre”, “Eu Tô Tentando”, “Eu Tive um Sonho”, “No Seu Lugar” e “A Fórmula do Amor”. Nestas faixas, principalmente nos camarotes, a animação foi geral, tanto que o público se levantou para dançar – conforme permitiu o espaço apertado do teatro.
Já nas melancólicas “Nada Por Mim” e “Lágrimas e Chuva”, a letra foi cantada, uníssona, por espectadores emocionados. Além disso, houve a faixa que dá nome ao show, “Como Eu Quero”, anunciada por Paula no meio da noite como “motivo pelo qual estamos aqui”.
O público, composto principalmente por pessoas de meia-idade, parecia mergulhado em saudosismo. Muitos cantavam de olhos fechados, aparentemente passeando por lembranças que só a boa música pode marcar e, anos depois, trazer à tona novamente.
Paula apresentou suas versões para as canções “Ando Meio Desligado”, dos Mutantes, “Céu Azul”, da banda Charlie Brown Jr, e “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda”, de Hyldon. A elas, a cantora se refere como “músicas que não fiz, mas gostaria de ter feito”.
A artista também trouxe à plateia faixas mais recentes, como a novíssima “Essa Noite Sem Fim”, lançada nas plataformas digitais na semana passada e feita em parceria com Liminha, ex-Mutantes e reconhecido produtor cultural. Além desta, o setlist contou com outras músicas de sua carreira pós-Kid Abelha, como “À Noite Sonhei Contigo”, “Calma Aí” e “Oito Anos”, feita para o filho Gabriel.
Depois da já tradicional “despedida de mentirinha”, a plateia pediu bis e Paula retornou. Com energia, ela embalou mais três hits, “Grand’ Hotel”, “Os Outros” e “Por Que Não Eu?” e, por fim, despediu-se oficialmente com uma animada versão de “Pintura Íntima”, acompanhada, é claro, pelos gritos e aplausos incansáveis da plateia. Neste momento, ficou claro que, embora bem produzidas e com seus méritos, as novas canções nem de longe empolgam tanto quanto os clássicos.
Junto com sua banda, formada pelos incríveis Gustavo Camardella (violão e vocal), Pedro Dias (baixo e vocal), Pedro Augusto (teclados), Adal Fonseca (bateria) e Liminha (violão), Paula apresentou um show maduro e que deu ao público exatamente o desejado: um revival das décadas de 1970, 1980, 1990 e 2000. Sua voz, que já foi criticada pela imprensa e até por Cazuza no passado, hoje apresenta-se consistente e, ao mesmo tempo, suave, digna dos sucessos que canta.
Portanto, a apresentação entregou à plateia vozes e arranjos impecáveis, sem a menor necessidade de grandes efeitos de palco ou performances mirabolantes, tão comuns aos shows atuais. Paula Toller e sua banda bastam. Ela, mais uma vez, mostra-se uma artista com obras que resistem ao tempo e, seja nos discos de vinil ou no YouTube, continuam embalando romances, reflexões e despedidas.
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