Olho de Sogra: nova maneira de ver Pelotas

Projeto estimula novas percepções da cultura regional    Foto: Divulgação

Por Carolina Hackbart Batista

Pelotas é uma cidade historicamente conhecida pela sua tradição doceira e arquitetura única, conservando partes importantes das raízes as quais compõem o município. Porém, para alguns, o acesso ao Centro Histórico e a cultura não é tão facilitado, essa é a realidade de quem tem deficiência visual, ou pelo menos, era assim até a criação do Encontro Olho de Sogra.

O evento Olho de Sogra foi Criado e idealizado por Leandro Pereira, estudante do oitavo semestre de Museologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), e surgiu justamente com a ideia de proporcionar a esse público uma imersão cultural. Segundo o próprio criador, essa vontade de levar conhecimento para aqueles que não enxergam ou enxergam pouco, surgiu logo após uma visita à Serra Gaúcha, onde Leandro, também deficiente visual, sentiu a necessidade de um auxílio para que pudesse aproveitar melhor o passeio, tanto quanto os demais.

“Essa ideia eu tive depois de uma experiência, em 2015, quando eu participei de um encontro, para pessoas com deficiência visual, como eu. Então tinha lá pessoas cegas, pessoas com baixa visão e, durante os passeios que aconteciam na Serra, que é um lugar superlegal de conhecer, tem toda uma cultura bacana, só que não tinha acessibilidade. E aí, eu senti a necessidade de saber como eram os lugares visitados, porque, depois que eu voltei dessa viagem, eu não sabia dizer para as pessoas, para os meus amigos, para os meus parentes, como eram os lugares que eu tinha visitado. E aí eu me deparei com essa necessidade, de poder proporcionar pra quem não vê, informações que possibilitem que ela conte para outras pessoas, como foi o lugar visitado,” relata.

Assim, nasceu o Encontro Olho de Sogra que é um evento anual que proporciona uma experiência turística e cultural para pessoas com deficiência visual, contando com recursos de audiodescrição e a percepção tátil, voltados para a percepção e aproximação das pessoas com deficiência visual à cultura pelotense. Permite que as pessoas conheçam a história do local e detalhes que, até mesmo para aqueles que têm plena visão, por vezes, passam despercebidos. Além disso, a estrutura foi pensada visando uma visitação plena, por isso, para cada deficiente visual, tem um membro voluntário que o acompanha e o ajuda na compreensão dos pontos turísticos.

Em 2017, ocorreu o primeiro encontro, sendo como um teste de aprimoramento. Foi através dessa primeira atividade que se percebeu o que poderia ser melhor ajustado e quais ideias poderiam ser agregadas. Na primeira realização do Olho de Sogra, houve dez participantes. Na última edição do evento, que ocorreu neste ano, aumentou para 15 participantes. Parece não ser um número muito expressivo, porém considerando mais a equipe de realização mais os voluntários, esse número dobra. O número de 30 pessoas é bom para que ocorra um bom atendimento por parte dos restaurantes e museus.

Essa atividade proporcionada pelo encontro é de uma importância inestimável, levando em conta a pesquisa nacional de Saúde realizada pelo IBGE, em 2013, em que foi constatado que o número de pessoas com deficiência visual, que apresentam grande dificuldade ou não enxergam, representava 3,6% da população brasileira. Apesar dos números, o acesso à cultura, por parte do público deficiente visual, ainda carece de atenção e políticas públicas. Eventos como esse visam a aproximação e acabam por cativar aqueles que participam. Esse público sai entusiasmado ao voltar para as suas cidades e contar cada detalhe, como é o Centro Histórico, por exemplo, como é um museu.

Para Leandro, os relatos de quem participa do encontro são gratificantes, e a recompensa vem após as visitas, citando o depoimento de um visitante da terceira edição do evento (em 2018), que pôde conhecer melhor a Catedral Metropolitana de São Francisco de Paula, “Um dos participantes já tinha visitado várias vezes a igreja, mas ele comentou que foi nessa visita pelo encontro Olho de Sogra que ele ficou sabendo que tem uma pintura numa das torres da igreja que representa São João Batista com um cordeiro aos seus pés. E ele, por gostar muito desse Santo, ficou muito encantado e feliz em saber que tinha aquela representação através de
uma pintura Sacra, que nunca ninguém tinha falado pra ele. Então são pequenos detalhes e revelações que o encontro propicia para os participantes.”

O evento tem página no Facebook, onde são publicadas todas as atualizações sobre o Encontro Olho de Sogra, também é pela página que o público tem acesso ao agendamento de visitas e as datas nas quais ocorrerão os eventos. O próximo será só em setembro de 2020, mas o público já pode acessar as informações disponibilizadas na página.

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