Narcos: profundidade psicológica fascina

 

Wagner Moura protagoniza série sobre narcotráfico que está na terceira temporada                  Foto: Divulgação

Gustavo Pereira

      Partindo do pressuposto de que só quem aprovou a primeira temporada de Narcos assistiu ou assistirá a segunda, é fácil afirmar que a continuação da série tende a causar ainda mais fascínio. A produção não foge do seu padrão em nenhum momento, apesar de apresentar mudanças em aspectos mais detalhistas – principalmente na profundidade dada a cada personagem.

Se a história é baseada em fatos reais e leva toques de dramaticidade clássicos do cinema, o espectador de Narcos sabe que o protagonista Pablo Escobar morre ao fim da cruzada organizada por todas as forças rivais. Mesmo assim, os episódios são conduzidos de tal forma que dão a entender que o maior traficante de drogas do mundo à época não seria encontrado jamais. Em certas cenas, Pablo mostra seu lado mais afetivo, visto que passa muito tempo longe da família e, quando a encontra, demonstra seu amor em momentos de compaixão com os filhos e a esposa.

É essa pitada de ‘’humanização’’ colocada no papel do vilão que ajuda a tensionar ainda mais a produção. Entre um e outro atentado que mata centenas ou milhares de pessoas, Escobar tem explicitada sua forte preocupação com os elos familiares. O colombiano passou grande parte da segunda temporada ‘’de galho em galho’’, de esconderijo em esconderijo fugindo das equipes de busca que desejavam incessantemente matá-lo. Durante o transcorrer da série, a rivalidade é cada vez mais acirrada e mostra que não poderia chegar a um fim sem a definição.

Apesar de tratar de diferentes temas pessoais dos personagens, a obra nunca perde o seu foco: a já citada busca pelo traficante por parte dos inimigos. Os inimigos, por sinal, vão aumentando a cada episódio. Se na temporada de abertura eram basicamente as autoridades colombianas e o DEA (Departamento Antidrogas dos Estados Unidos), conforme a segunda temporada foi se desenrolando, o número de combatentes de Pablo cresceu exponencialmente. Entram no grupo guerrilheiros, bandidos, outros traficantes (Cartel de Cali), outros países (além dos EUA) e inclusive familiares de vítimas suas que lutam por justiça ou vingança.

Dentro de todo esse cenário, se destacam dois personagens, integrantes do DEA. Enquanto o agente Murphy perde importância e passa a ter menor impacto nas ações da organização antidrogas americana, seu companheiro Javier Peña, sempre envolvido com mulheres de programa, não desiste nunca da caçada. Na reta final, porém, Murphy volta à ativa e inclusive é um dos protagonistas do assassinato de Escobar – que, na série, busca ser praticamente igual ao realmente acontecido em dezembro de 1993.

Quem também tem seu peso elevado é Gilberto Rodríguez Orejuela, líder do Cartel de Cali. A direção de Narcos, já pensando na terceira temporada, tratou de dar mais relevância a este traficante em uma clara intenção de chamar o público à terceira temporada – que passa a mostrar os homens de Cali como alvos das autoridades competentes.

Se o roteiro conta com poucas imperfeições, tecnicamente a série é de primeiro escalão. Cada cena de ação, cada tiroteio e cada assassinato é perfeitamente encenado, usando os artifícios tecnológicos disponíveis para fazer de Narcos um sucesso. Aliando realidade, dramaturgia, ação, romance e um pouco de comédia, a direção da obra mostra que é possível agradar o público mesmo que o evento final seja de conhecimento absoluto.

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