Rayane Lacerda
Sensibilidade e um olhar maduro sobre o mundo são características importantes para consagrar um artista, principalmente quando o seu objeto de inspiração é o dia a dia caótico da cidade. Bruno Lavermo, artista pelotense, encontra beleza na simplicidade e busca sentidos profundos para o seu trabalho com ilustrações, desenhos e grafites. Com uma trajetória admirável, ele conta como conheceu as diversas formas de arte e como foi o início da carreira.
Bruno teve o seu primeiro contato com a arte por meio de desenhos que fazia quando ainda era criança. Ele explica que, inicialmente, não gostava dos resultados que alcançava, mas que sua mãe sempre admirou e incentivou o seu perfil artístico. Quando completou 12 anos de idade, passou a desenhar com uma frequência maior, preenchendo um pequeno portfólio composto por ideias projetadas no papel. Mais tarde, entre 15 e 16 anos, utilizava o tempo de aula na escola para aprimorar o seu traço, passando a reconhecer o seu próprio talento.
O contato com a arte do grafite
Dono de um trabalho que sempre ganhou destaque pelas ruas de Pelotas, ele vê o desenho como um ponto comum com o grafite e explica que o seu primeiro contato com essa prática surgiu por influência de Bero Moraes, artista e amigo próximo. Bruno conta que sempre percebeu uma estrela pintada pelos muros, mas, mesmo sendo amigo de Bero, não sabia que era ele o autor. “Eu pegava ônibus de manhã para o colégio com o Bero todos os dias, mas não sabia que ele fazia aquela estrela. Eu até já tinha desenhado ela nos meus cadernos. Quando descobri que era dele, foi um bom incentivo, passei a me interessar mais [pelo grafite] e a querer ir para a rua”, descreve.
Quando questionado sobre como acontece a escolha de muros para pintar, ele esclarece que sempre busca lugares que esteticamente combinem e encaixem com o seu formato de desenho: “Eu prefiro algum muro que tenha uma estética legal em que o meu trampo vai se encaixar com tudo que tem na volta. Mas, às vezes, só quero fazer um desenho e vou em qualquer muro ‘livre’ em que eu possa simplesmente criar”.
Transformando o olhar sobre a cidade
O grafite também foi muito importante para o amadurecimento e a transformação do seu olhar sobre a cidade. Bruno foi capaz de acessar outros pontos e formas de perceber o mundo, tendo contato com diversas pessoas e realidades. Para ele, não é algo superficial, pois passou a observar nas tags, papeis colados e texturas de muros algo mais profundo. “Indo para a rua passei a estar do outro lado da sociedade e, de certa forma, me tornando parte de um time de minorias que é visto com preconceito”, relata. Ele também acrescenta o contato direto com as diversas reações de quem encontra: “Além, ainda, do contato com as pessoas na rua, cara a cara com as diversas realidades, como mendigos que param para conversar, pessoas dizendo que irão chamar a polícia, senhoras dizendo que o desenho vai alegrar o local, etc.”.
Reconhecimento e processo criativo
Depois de experimentar o grafite, ele passou a buscar formas de sustento próprio, e foi então que iniciou o trabalho com design. Mesmo se considerando um freelancer ao longo da sua carreira de artista, hoje ele se percebe como um ilustrador autoral. Bruno começou em Pelotas, mas já passou por Florianópolis e, atualmente, trabalha em Porto Alegre. “Morei em Florianópolis por quatro anos e foi o período em que eu mais consegui viver de arte, trabalhando comercialmente e também espalhando elas por conta própria pela rua”, conta. Nessa fase da vida, ele construiu um reconhecido trabalho na área artística e teve importantes marcas como clientes, entre elas: Drop Dead Skateboards, Santa Cruz, Lay back beer, Hi adventure, Planet Hemp, Guaraná Antarctica e Noize.
Ao ser perguntado sobre o seu processo criativo, ele explica que é distinto entre trabalhos autorais e clientes específicos, dependendo muito do projeto que surge: “Quando o projeto é para algum cliente, tem que estudar conceito, público alvo, palavras chaves e fazer uma ligação de tudo para começar a criar. Quando é algo autoral flui mais naturalmente, a partir de reflexões que tenho – seja sobre coisas simples ou complexas –, mas é pensar sobre a vida, pegar uma caneta e jogar as ideias”. Além do processo criativo, algumas inspirações também são necessárias para embasar o trabalho de um artista. Para Bruno Lavermo, a rua, o cotidiano, o skate e as formas de expressões autênticas chamam a sua atenção: “Gosto de coisas verdadeiras, feitas com amor. Gosto quando o que a pessoa faz – seja na arte, no skate ou na dança – é uma expressão de personalidade própria. Isso se chama estilo”.
E é assim que ele trata o seu trabalho e percebe a vida: com amor e autenticidade. Com as ilustrações atuais, ele é dono de uma arte expressiva e verdadeira. “Meu trabalho é realmente uma extensão da minha personalidade, tanto na ideia quanto no traço. O que faço se tornou mais meu e mais verdadeiro quando aceitei o meu jeito de ser. Aceitei meus erros e parei de tentar ser e fazer as coisas perfeitas. Acredito que o erro faz parte de mim e eu gosto dele. É ele que diferencia”, orgulha-se.
Para conhecer mais o trabalho de Bruno Lavermo:
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