Eduardo Uhlmann
“Um monólogo, de duas pessoas ocupando o mesmo lugar de fala, interagindo com a persistente e desafiadora resposta negativa que o instrumental apresenta, e que reflete a posição da sociedade frente as iniciativas – reprimidas, de uma parcela da mesma, que encontra as portas do mundo fechadas pelo conservadorismo.
Os dois MC’s tentam driblar os constantes “NÃO’s” da vida enquanto desenvolvem suas ideias num espaço que pouco as aceita.”
Este é o texto de apresentação do clipe “Não” de Zudzilla e Zilla Sonoro. E realmente, o vídeo consegue repassar essa ambientação através de seus elementos. Ele foi produzido pelo Mauricio Nerva, da Crewative Cool Stuff e tem como instrumental o beat do Theo Franklin.
Em 2015, Zudizilla foi apontado como um dos pioneiros do rap nacional, é artista plástico e designer, e o último trabalho lançado foi no final do mesmo ano, o álbum “Faça a Coisa Certa”. Ele define esse momento como uma etapa de aperfeiçoamento. “Eu estava tentando desconstruir a minha própria forma de escrever e de fazer som,” lembra.
Zilla Sonoro, um hamburguense que começou sua jornada no rap em 2003, na cidade de Esteio, já desponta como um dos grandes nomes da cena local pelotense. Em uma entrevista, já declarou que encontrou em Zudzilla alguém que tinha ideias parecidas e que falava de maneira próxima a sua.
A princípio, inexistia a previsão de a música “Não” entrar em um álbum, muito menos ter um clipe. Ela foi fruto de uma construção entre estes dois artistas. “Eu mostrei pro Zilla a track e ele curtiu. Escreveu umas linhas e eu pirei muito. Achei maneiro porque me lembrou do minimalismo, eu gosto muito do minimalismo do rap”, descreve Zudzilla.
O vídeo da música conversa bastante com a mensagem que eles tentam passar na música. Porém, é simples e direto para não confrontar a complexidade da letra. Ele foi gravado na rua Gonçalves Chaves em Pelotas, e mostra os dois artistas escorados em um canteiro de flores, tomando cerveja, como se estivessem descontraídos trocando uma ideia.
“Não” tem elementos sonoros que remetem às formas mais básicas de fazer beat e fazer rap, sem seguir a fórmula verso-refrão-verso-refrão, desconstruindo a progressão que muitos artistas vêm tomando em suas produções. “Meu tom de pele escuro fez-me invisível e anônimo/Quase uma sombra viva no fundo do busão”, diz a letra.
Essa linha sintetiza o pensamento que é costurado na música, a caracterização do sentimento de exclusão. Esse sentimento é reforçado pelo título da obra e também pelo beat repetidas vezes ecoar a palavra “Não”, enquanto os artistas tentam expor suas ideias.
Então, o som vem como uma resposta aos “nãos” impostos pela sociedade, por que qualquer tipo de exclusão sempre deve ser questionada.
Os dois rappers tentam, através das rimas, discorrer sobre ser negro em uma sociedade racista e excludente, e mostrar a dificuldade de fazer rap no Rio Grande do Sul.
“Driblar esses não’s com a rima é a nossa forma de resistência. Essa é mais uma música na luta pelo respeito”, anuncia Zilla Sonoro.
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