Vivências no Brasil
– Reportagem de Manuela Soares –
Professora russa fala sobre diferenças culturais entre o Brasil e seu país natal –
Natalya Victorovna Malskaya é russa, tem 40 anos, é graduada no curso russo tradução inglês na National University of Kharkiv, é casada e tem um filho. Há 15 anos, Natalya mora no município de Rio Grande. Atualmente, trabalha como professora de inglês na Top Way English School e é acadêmica do curso de Licenciatura em Matemática na Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
Ao longo de sua trajetória, Natalya já morou na Rússia, Bulgária, Alemanha, França, Inglaterra, Canadá, Ucrânia, Peru e na Colômbia. Com o acúmulo destas experiências, tornou-se poliglota e fala oito idiomas fluentemente.
Natalya vive há 15 anos no Brasil
Em meio a estas vivências Natalya aprendeu muito sobre a cultura dos diversos países em que morou. Adquiriu novos costumes, aprendeu conhecimentos variados e refletiu sobre o cotidiano em seu país natal, a Rússia. Natalya conta que a realidade brasileira é muito parecida com a que os russos viviam no período em que ela morou no país, em que a Rússia ainda fazia parte da União das Repúblicas Soviéticas Socialistas (URSS). “Analisando o cotidiano, posso dizer que são realidades parecidas, tínhamos rotinas de trabalho similares a dos brasileiros”, salienta.
Relacionando com suas memórias, a professora diz que os problemas de se viver no Brasil são a falta de lugares públicos para aproveitar a natureza e fazer piqueniques com a família. Ela percebe que no Brasil toda terra é particular e há poucos parques. Questiona a falta de lugares para assistir apresentações culturais, tais como teatros e óperas. Lamenta a supervalorização dada pelos veículos de comunicação do País à cobertura do futebol, utilizando muitas vezes o espaço que deveria ser destinado para a divulgação de informação de utilidade pública. “Futebol é entretenimento, não deveria ser notícia e sabemos que não é, mas, fazer o quê, a mídia serve para manipular e tirar nossa atenção das questões verdadeiramente relevantes”, ressalta.
Em relação às vantagens de morar no Brasil, a entrevistada atribui considerável importância ao “jeitinho brasileiro” de resolver as coisas, o que pode ser compreendido pelos estrangeiros como um modo menos tenso de lidar com os problemas. Outro ponto salientado pela entrevistada, é a possibilidade que os brasileiros têm de sair e ir a vários lugares para fazer refeições, como indo a restaurantes, pubs e shoppings, fato que quase nunca pode ser realizado pelos russos, devido aos elevados preços destes estabelecimentos no país.
Abordando a questão da cultura gaúcha, Natalya manifesta empatia pela cultura do chimarrão, pois toma a tradicional bebida com erva mate com os amigos na universidade. A entrevistada afirma que “gosta do compartilhamento que é realizado com o chimarrão e a integração que ele proporciona”. Em relação aos Centros Tradicionalistas Gaúchos (CTG), a entrevistada salienta que “as danças e cantos apresentados por estes centros são muito importantes como parte da cultura do Estado”. Natalya incentiva a ideia de que a cultura tradicionalista é algo que tem que ser desenvolvido, pois acredita que devemos agir de forma ufanista em relação ao que foi deixado por nossos ancestrais.
Sobre a temática dos costumes religiosos, Natalya conta que foi ensinada a ser ateísta quando fez o ensino fundamental e médio em escolas russas. A religião foi proibida por 60 anos na URSS e, com isso, as crianças aprendiam que era vergonhoso frequentar igrejas, porque as escolas ensinavam que religião servia para manipular as pessoas e contar mentiras.
Quanto à educação, Natalya aponta diversas semelhanças entre as universidades russas e brasileiras. Segundo a entrevistada, “ambas proporcionam diversas facilidades para os alunos, incentivando a sua escolarização no nível superior”. Na Rússia, as universidades são públicas, o governo proporciona moradia e uma bolsa para que o aluno tenha condições de estudar e se dedicar integralmente aos estudos. No Brasil, os alunos têm muitos direitos, existe a vantagem da prática da negociação entre alunos e professores, o ensino não é rígido demais, o que contribuiria positivamente para a formação dos alunos.
Para finalizar, a professora Natalya comenta como foi o acolhimento pelos brasileiros com ela e com outros imigrantes que conhece. “Nunca me senti tão acolhida nos demais países em que morei”, ressalta. Evidencia a ideia de que os brasileiros não a tratam de forma preconceituosa por ela ser russa e que respeitam as diferenças culturais das diferentes etnias que se estabeleceram no País.
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