O skate como saída do consumo de drogas ilícitas

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Os próprios skatistas trabalharam nas obras de restauração da pista no Parque Marinha

Reportagem de Débora Klein

O esporte como fuga do uso de drogas pesadas é o que promove o movimento “Skate pra Frente, Vida sem Crack”. Desde 2010 o projeto, nascido no bairro Parque Marinha em Rio Grande, mostra caminhos de manobrar o consumo de drogas ilícitas através da prática de atividade física aos jovens rio-grandinos. Ainda que malvisto por parte da sociedade, o skate é hoje o segundo esporte que mais ganha adeptos no Brasil.

Tudo começou quando Luís Duarte Lobo, mais conhecido como Guga, retornou para o Parque Marinha junto com a sua família. Guga conta que era morador do bairro e realizava alguns eventos culturais e atividades esportivas aos moradores até 2008, mas, por dois anos, esteve fora da localidade. Ao retornar para o local, ele e sua mulher, Aline Lobo, encontraram a praça abandonada. “O pessoal parou de praticar e estava usando como ponto para consumo de drogas pesadas”, conta Luís. Foi aí que o casal resolveu mudar a característica do espaço novamente. “Demos um viés mais preventivo em relação ao consumo de drogas e começamos a luta pela reforma da pista”.

E foram os próprios skatistas que restauraram a pista. Após problemas com a empresa responsável pela construção, Guga e outros atletas assumiram a responsabilidade e criaram o espaço que hoje recebe jovens de diversos bairros da cidade. Seja com reuniões na pista, seja na casa de Luís: o movimento tenta, a cada dia, aproximar mais os jovens do esporte e afastar das drogas. “Não adianta a gente querer se iludir que vai tirar um cara que está há 40 anos nesse caminho, tu tens que prevenir quem está querendo entrar, tu tens que mostrar para esse cara que tem que ser consciente do que está fazendo, do que está usando”, afirma.

Skatista há 20 anos, Lobo conta que já conheceu muitas histórias, positivas e negativas. “É uma via de mão dupla, a gente vê tanto jovens saindo quanto entrando e tentamos dialogar, mostrar as consequências do consumo”. Através de uma conversa aberta, consciente e por meio do livre arbítrio, o movimento debate sobre as ações negativas e proativas, tanto para eles mesmos quanto para terceiros.  “Com a velocidade de raciocínio que os nossos jovens têm, não adianta dizer para eles que isso está errado, tem que mostrar por que está mal”, afirma.

Com a força de vontade e amor pelo esporte, o movimento também ajudou a impulsionar a visibilidade da prática na cidade. Em agosto de 2015, a pista de skate do Parte Marinha foi espaço para um dos maiores campeonatos de skate: a segunda etapa prata do Circuito Gaúcho de Skate, que reuniu atletas de diversas regiões. E tem mais: o primeiro colocado na categoria Amador é William Ribeiro, uma das revelações do skate rio-grandino.

Agora, além de continuar a auxiliar os jovens rio-grandinos, o movimento quer fazer com que os atletas sejam reconhecidos na cidade. “A cada esquina tem um cara andando de skate e a gente tenta fomentar a situação, dar uma característica mais séria para o pessoal parar de achar que é um bando de maloqueiro”, comenta Luís. Entre os planos está a realização de eventos na cidade, que necessitam de algumas mudanças para acontecer como, por exemplo, a construção de pistas no Balneário Cassino e na Perimetral – promessas que a muito não saem do papel – além de estrutura profissional e financeira.

De acordo com Luís é preciso profissionalismo básico para haver capacidade de Rio Grande sediar bons eventos e movimentar a comunidade em prol do esporte. “Muitos não sabem, mas o skate rio-grandino é conhecido no Estado inteiro, em qualquer cidade que tu chegas e fala que do município, o pessoal respeita muito, por que a cena sempre foi forte”, finaliza.

No vídeo Pista de Skate no Parque Marinha, os atletas falam da sua experiência e amor pelo esporte.

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