IX Colóquio de Cinema e Arte na América Latina
Latinidades Afro-ameríndias
1a Circular
A comissão organizadora do IX Colóquio de Cinema e Arte na América Latina (COCAAL) convida pesquisadoras e pesquisadores a submeterem trabalhos para a nova edição do evento. De volta à modalidade presencial, o COCAAL 2023 acontecerá de 19 a 22 de setembro de 2023, na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia.
Temática do COCAAL 2023
O que está em jogo quando se designa a América Latina, seja para reivindicá-la ou recusá-la? A América Latina é uma fantasia ou um fantasma: não existe como presença plena ou projeto acabado, como identidade dada e território unificado; e é mais de uma, nos múltiplos tempos em que se desdobra, sem conjunção possível, como identidade fugidia ou terra dispersa, alheia a toda territorialização, isto é, a toda tentativa de apropriação e de instauração de um domínio unitário. América, em geral, e América Latina, em particular, se inscreveram na imaginação política global – naquilo que Walter Mignolo (2003) denomina “sistema mundial colonial/moderno” – como um campo de disputa. Dessa forma, a assinatura colonial inscrita na noção de América Latina deve ser reconhecida por qualquer reivindicação do termo e de suas derivações.
Ao mesmo tempo, sem apagar a assinatura colonial que a inaugura, a história da América Latina deve ser lida a contrapelo, para que seja possível saber as realidades que a constituem, as disputas que a atravessam, os horizontes e as vertigens que a jogam para fora de si mesma. É preciso reconhecer, ao lado dos fantasmas coloniais cuja aparição permanece visível desde o nome, a sucessão múltipla de fantasmas cuja desaparição deve ser confrontada, mesmo que faltem nomes próprios suficientes para essa confrontação (e que esses nomes também procedam de uma genealogia colonial): os fantasmas de todas as pessoas que, sob o regime colonial de distribuição da violência, foram forçadas a desaparecer, no processo histórico de construção da experiência latino-americana.
Reivindicar as latinidades afro-ameríndias, como faz esta nona edição do Colóquio de Cinema e Arte na América Latina, implica reconhecer a violência da nomeação colonial das gentes colonizadas e a assinatura colonial que aspira a unificar, assim, a noção de América Latina (como uma herança comum). Ao mesmo tempo, ao apontar para as latinidades afro-ameríndias, trata-se de repensar a América Latina a partir da relação e do diálogo entre culturas e perspectivas coletivas, por meio da abertura e da escuta às vozes e aos traços da multiplicidade de experiências das gentes que o projeto colonial pretendeu reunir de forma generalizada, sob signos de africanidade e amerindianidade, cujas designações genéricas uma série de movimentos posteriores buscaram e buscam transformar em alavancas estratégicas de intervenção social e política.
Diante disso, impossível não salientarmos que iniciamos o ano de 2023 com a posse histórica de Sônia Guajajara, à frente do Ministério dos Povos Indígenas, do professor, jurista e filósofo Silvio Almeida, no Ministério de Direitos Humanos com a recriação do Ministério da Igualdade Racial, a cargo de Anielle Franco, três instâncias fundamentais para implementação de políticas públicas voltadas para o enfrentamento da violência colonial atualizada constantemente por sistemas de policiamento e governo, e efetivamente de governo como policiamento, que persistem como norma em todo o continente. “Nunca mais o Brasil sem nós”, disse em seu discurso de posse Sônia Guajajara. “Não recuaremos, não retrocederemos, não vamos abaixar a cabeça mais, não sairemos daqui”, afirmou Anielle Franco. “Homens e mulheres pretos e pretas do Brasil, vocês existem e são valiosos para nós”, disse Silvio Almeida ao assumir a pasta. Falas que estão imbuídas de toda uma longa trajetória de movimentos e organização política de gentes negras e indígenas que têm buscado, desde o início, contestar as denominações coloniais a partir da reivindicação estratégica de seus termos, o que está presente ainda em outra fala de Guajajara: “Esse ministério é novo, mas na verdade esse ministério é ancestral”.
Nesse sentido, além de pensar a América Latina no plural, por meio da noção de latinidades, se trata de reivindicar, por meio do adjetivo afro-ameríndias, a possibilidade de multiplicação de perspectivas para reinventar a vida em comum no continente, nos campos do cinema e da arte. As latinidades afro-ameríndias são uma abertura para as formas alternativas de vida em comum que Lélia Gonzalez designou por meio da noção de “Améfrica Ladina”, para as práticas de contra-colonização do que Antonio Bispo dos Santos chamou de “povos afro-pindorâmicos” e para as memórias e projeções que tanto Ailton Krenak quanto Davi Kopenawa, entre outros, têm encontrado no tempo do sonho, resistindo à colonização, às suas heranças e às suas formas de tentar impor o fim do mundo. Latinidades afro-ameríndias, portanto, são também ladinidades améfrico-pindorâmicas, e quantos outros nomes será preciso desarticular e rearticular, desmontar e remontar, para começar a reconhecer e a inventar a multiplicidade de suas figuras mundanas e fantasmas extra-mundanos.
Em articulação com as ideias aqui expostas, incentivamos o envio de propostas de mesas e comunicações que transitem nos seguintes eixos temáticos:
Histórias, memórias, fabulações e arquivos
Perspectivas teóricas e metodológicas
Estudos de recepção
Cinema, arte e educação
Corpos, gêneros e sexualidades
Poéticas sonoras e musicais
Linguagem: reconfigurações, experimentações, transgressões
Militâncias e ativismos
Representações, contra-representações e representatividade
Afetos, emoções, sentimentos
Bordas, margens, periferias
Coletivo, comunal, comunitário
Meio-ambiente e ecologias decoloniais
Audiovisualidades insurgentes
Artes e hibridismos
Submissões
A submissão de trabalhos deve ser realizada até o dia 30 de abril, por meio de formulário disponível no endereço https://forms.gle/9kK49BLMsLLAnHMg9, e pode ser em duas modalidades: mesas pré-constituídas e comunicações livres. Serão aceitos trabalhos em português e espanhol.
1 – Mesas pré-constituídas
As mesas pré-constituídas devem propor a articulação e o debate de pesquisas e discussões acerca de temas emergentes na América Latina, na área do audiovisual e das artes em perspectiva expandida.
Cada mesa deve ser composta por 3 participantes, sendo que pelo menos uma pessoa deve ter o doutorado concluído. Demais participantes podem ser discentes de doutorado, pessoas com mestrado concluído ou em curso, com notório saber e/ou produção artística. Uma pessoa deve atuar também na moderação da mesa.
O formulário de inscrição deve ser preenchido pela pessoa responsável pela coordenação da mesa. Ao formulário, deverá ser anexado o documento da proposta, em formato PDF, nomeado da seguinte forma:
COCAAL 2023_mesa_SOBRENOME_Nome,
O documento da proposta deve ser realizado a partir do modelo disponível em http:https://docs.google.com/document/d/1nNpaAZkv9TWLYAR3-j2tGAS6fpdhBU3UlANxaAN2ZtE/edit?usp=sharing e deve conter o Título da mesa, um Resumo de apresentação da temática da mesa e Resumos dos três trabalhos que compõem a mesa.
As mesas aprovadas deverão respeitar o tempo máximo de 90 minutos de duração, destinando 20 minutos de exposição para cada participante e 30 minutos para perguntas e discussões. Em caso de aprovação, todas as pessoas participantes das mesas deverão realizar a inscrição individualmente, segundo cronograma e condições a serem anunciadas na ocasião da divulgação dos trabalhos aprovados.
2 – Comunicações livres
Podem submeter propostas de comunicação pessoas com mestrado em curso, mestrado concluído, doutorado em curso, doutorado concluído, pessoas com notório saber e/ou produção artística. Só é permitida uma inscrição por pessoa, mesmo em caso de co-autoria. Cada proposta poderá ter a autoria de no máximo 3 pessoas, que devem realizar a submissão individualmente no formulário disponível em https://forms.gle/9kK49BLMsLLAnHMg9, ao qual deve ser anexado o documento da proposta, em formato PDF, nomeado da seguinte forma: COCAAL 2023_livre_SOBRENOME_Nome
O documento da proposta deve seguir o modelo disponível em http:https://docs.google.com/document/d/1okqSeaLpgqaRnMyfu9S6SUlErnKMsRaH5MA7kpb2cO8/edit?usp=sharing
As comunicações aceitas deverão respeitar o tempo máximo de 20 minutos para exposição, nas datas e horários estabelecidos e previamente anunciados.
Não serão aceitas propostas de mesas e comunicações entregues fora do prazo e que não estejam dentro das normas solicitadas pela chamada.
DATAS IMPORTANTES:
Inscrições de mesas pré-constituídas e comunicações livres – até 30 de abril
Divulgação das propostas aprovadas – Até 31 de maio
Pagamento da taxa de inscrição* – Até 20 de junho
Divulgação do cronograma de apresentações – Até 10 de agosto
Inscrição de ouvintes – de 30 de abril a 19 de setembro.
Realização do evento – de 19 a 22 de setembro
*Valores das taxas de inscrição
Docente/Pesquisador com vínculo profissional e com apresentação de trabalho | R$ 130,00 |
Pesquisador, mestre ou doutor, sem vínculo profissional com apresentação de trabalho | R$ 65,00 |
Estudante de pós-graduação com apresentação de trabalho | R$ 65,00 |
Docente/Pesquisador sem apresentação de trabalho | R$ 50,00 |
Estudante de pós-graduação e graduação sem apresentação de trabalhos | R$ 25,00 |
Estudante de pós-graduação e graduação sem apresentação de trabalhos (UFBA, UFRB, UESB) | Isento |
Estudante da rede pública do ensino médio, fundamental e técnico | Isento |
Professor do Ensino Fundamental e Médio de Escolas Públicas | Isento |
*A forma de pagamento da taxa de inscrição, para participantes do Brasil e do exterior, será informada na ocasião da divulgação dos trabalhos aprovados. No caso das mesas, todas as pessoas que participam devem pagar a taxa, assim como no caso de comunicações livres em co-autoria.
Informações sobre a inscrição de ouvintes e sobre o envio de resumos expandidos e artigos para os Anais do evento serão divulgadas nas próximas circulares.
Para dúvidas ou mais informações: coloquiococaal@gmail.com/ Instagram: @coloquiococaal
COMITÊ ORGANIZADOR
Dra. Ana Paula Nunes – UFRB
Dr. Glauber Lacerda – UESB
Dr. Guilherme Maia – UFBA
Dr. Marcelo Ribeiro – UFBA
Dra. Morgana Gama – UFBA
Dra. Priscila Miraz – UFRB
Dra. Regina Gomes – UFBA
Dra. Rosângela Fachel – UFPel
COMITÊ CIENTÍFICO
Álvaro Vázquez Mantecón (Universidad Autónoma Metropolitana-México)
Ana Laura Lusnich (Universidad de Buenos Aires – Argentina)
Ana M. López (Tulane University – EUA)
Ângela Freire Prysthon (Universidade Federal de Pernambuco – Brasil)
Antonio Carlos Amancio Da Silva (Universidade Federal Fluminense – Brasil)
Bertold Salas Murillo (Universidad de Costa Rica – Costa Rica)
Clara Krieger (Universidad de Buenos Aires – Argentina)
Claritza Peña Zerpa (Universidad Católica Andrés Bello – Venezuela)
Eduardo Victorio Morettin (Universidade de São Paulo – Brasil)
Geovanny Narváez (Universidad de Cuenca – Equador)
Izabel de Fátima Cruz Melo (Universidade do Estado da Bahia – Brasil)
Jerónimo Rivera (Universidad La Sabana – Colômbia)
Luz Mónica Villarroel (Universidad Central De Chile)
Laura Bezerra (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – Brasil)
Mariana Amieva (Universidad de la República – Uruguai)
Nilda Jacks (Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Brasil)
Ronald Antonio Ramírez (Universidad de La Habana – Cuba)
Yanet Aguilera (Universidade Federal de São Paulo – Brasil)
Yobenj Aucardo Chicangana Bayona (Universidad Nacional de Colombia)