Acervos contam histórias
22/set/2020
Muitas vezes situações adversas nos obrigam buscar soluções dentro de um espectro de possibilidades que, se não fosse pela situação de urgência, permaneceriam dormentes ainda por algum tempo. Temos ouvido muito afirmações dessa natureza – para o bem e para o mal – ao longo destes meses de COVID-19 que nos obrigaram a reinventar muitas das nossas práticas e atividades. Com os museus de arte e suas programações não foi diferente.
Talvez esta tenha sido a primeira exposição do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo pensada para plataformas digitais. Experiência ainda em construção, um misto de descobertas, tentativas e avaliações que vão ao encontro de uma atividade que já vinha sendo ensaiada pelo museu, que é justamente a revisão de suas coleções e suas possíveis (re)definições.
Apesar do MALG contar com 32 anos, alguns acontecimentos recentes impulsionaram essa atividade: o fato do museu ter mudado para uma sede própria em 2018 – isso lhe confere uma nova identidade – e o fato de sua equipe técnica ter sido incrementada com a presença de profissionais qualificados que sedimentaram as bases para que as comissões e conselho avancem em discussões e pesquisas que visam potencializar e ressemantizar seu acervo.
No momento em que o museu precisou transferir ou cancelar muitas das atividades de sua programação que contavam com a participação de artistas ou instituições externas, dedicamos nossa atenção à exploração do acervo e suas possibilidades, aproveitando diversos formatos de plataformas digitais para a divulgação desse acervo e das inúmeras possibilidades de conexão, leitura e cruzamentos possíveis. Assim, se enquanto “exposição virtual” as propostas do MALG ainda não dialogam com a especificidade dos meios tecnológicos, este tem sido um momento de experimentação compartilhada e divulgação do acervo que se abre como mais uma possibilidade de aproximar o museu da comunidade.
Num museu de arte, cada obra é um ponto de chegada e um ponto de partida: há sempre um longo percurso permeado por trajetórias nem sempre simples para que uma obra chegue até aqui. A vida do artista, sua obra, as exposições, os colecionadores, críticos, curadores, herdeiros, proprietários, comissões e todos os intermediários cumpriram algum papel até a obra chegar ao seu destino-museu. Depois daqui novos percursos: outras exposições, curadorias, expografias, pesquisas, publicações, itinerâncias – a obra assume o papel de produtora de novos conhecimentos e significados. O museu não é um local que apenas guarda obras, mas, ao contrário, expõe, explora e valoriza seu acervo porque muitas vezes apenas o real não nos basta: precisamos ver, rever, compartilhar e descobrir as possibilidades e os conflitos inerentes a nossa condição humana.
Acervos sempre contam histórias.
texto _ Dr. Lauer Alves Nunes dos Santos
Pelotas, setembro de 2020
curadoria _ LACMALG | Laboratório de curadoria do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo
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