Resenha de John Wick 3: Parabellum
Por Roger Vilela
Depois de dois anos do lançamento do Capítulo 2, John Wick, interpretado por Keanu Reeves, está de volta ao jogo, ou melhor, aos cinemas com Parebellum. Uma história que começou quase sem muitas pretensões, com o roubo de um carro e o assassinato de um cachorrinho, é hoje uma das principais franquias de ação de Hollywood.
No final do filme anterior, ao dar fim a vida de Santino D’Antonio dentro dos limites do Hotel Continental de Nova York, Wick quebrou uma das regras mais importantes – nunca fazer “negócios” no Continental – e acabou excomungado da sociedade secreta de assassinos da qual fazia parte e, com isso, não poderia mais usufruir dos serviços prestados por ela. Além disso, um prêmio de 14 milhões de dólares foi oferecido por sua cabeça, chamando a atenção de todos os mercenários da cidade e do mundo.
Parabellum começa imediatamente após o desfecho do longa anterior, com Wick correndo ferido ao lado do seu cachorro sem nome pelas rua de Nova York com poucos minutos para encontrar um refúgio ou algo que sirva como arma.
Desde o primeiro filme, de 2014, John Wick é apresentado como uma força sobrenatural imparável, o Bicho-papão, e Parabellum confirma isso em seus minutos iniciais. Wick quer sobreviver e isso é o suficiente para dar a ele a determinação necessária para derrotar seus inimigos. Os bastidores da cidade é o cenário perfeito para cenas de ação intensas e muito bem coreografadas. Nas mãos do Baba Yaga (ser do folclore eslavo com qual o personagem de Reeves é comparado) tudo se torna uma arma letal, de um livro até um belo coice de um cavalo (sim, isso mesmo, um coice).
Nesse terceiro filme, assim como no anterior, a mitologia do universo de John Wick é aprofundada e ampliada. Somos apresentados a mais detalhes da organização comandada pela Alta Cúpula, agora inimiga de Jonathan. E aí reside um dos pontos fortes do longa, que não busca explicar o que não tem necessidade ou utilidade para o desenrolar da trama. As explicações que vemos são feitas de forma sutil e que encaixam no roteiro, sem prejudicar o desenvolvimento dos personagens ou da história. E o fato do filme ainda deixar perguntas sem respostas, ajuda a manter o interesse do público sobre esse mundo paralelo.
Também conhecemos um pouco mais sobre as origens de Wick: de onde ele veio, quem o treinou e como se tornou essa máquina de matar que testemunhamos na telona. John é diferente, visivelmente é o melhor (no exercício da profissão de matador), mas não o mais cruel dos assassinos. Ele possui limites e ideais, não mata por matar, mesmo que não verbalize seus motivos. Mesmo que muitas de suas ações sejam inaceitáveis, o lado humano do personagem o aproxima do público.
Dos novos personagens inseridos no universo de John Wick, duas merecem nossa atenção. A primeira é Sofia, interpretada por Halle Berry, amiga de John e gerente do Continental de Casablanca, no Marrocos. A segundo é a personagem da atriz Asia Kate Dillon, que é uma espécie de juíza que trabalha para a Alta Cúpula. Sofia participa menos do que era esperado, mas o seu tempo de tela é marcado pela ação, principalmente pela presença de seus dois cachorros altamente mortais. Já a juíza é a representação do poder da cúpula, que se vê abalado pela determinação e foco de Wick.
Um pouco mais de duas semanas se passam do assalto da casa de Wick no primeiro filme até o desfecho de Parabellum. E a sutileza em que pequenos detalhes, que ajudam a compreender essa breve passagem de tempo, são postos na tela é um outro ponto forte do longa. Um exemplo é uma porta de um táxi coberta de sangue que aparece nos porões do Continental, que faz o público relembrar os acontecimentos do segundo capítulo e compreender um pouco mais os serviços “especiais” oferecidos pelo peculiar hotel.
Uma das coisas que mais causam estranheza a quem assiste é como muitas vezes as outras pessoas, aquelas que não fazem parte daquele submundo, ficam inertes em relação aos acontecimentos do filme. Um corpo aparece caído no chão de uma estação movimentada, com sangue em volta, e ninguém reage a isso. Parecem NPCs (jogadores de qualquer jogo que apenas estão como fundo, não interagem na trama) mal programados. É um problema, mas não um que impede a imersão do espectador na história.
Diferente dos outros dois longas, em Parabellum Wick age para sobreviver e não para se vingar. O final do filme, com sua reviravolta, deixa o caminho aberto para um novo capítulo da franquia, no qual a vingança será novamente um dos pontos centrais da trama. Baba Yaga vai atrás daqueles que desejaram a sua morte e traíram sua confiança.
Parabellum consolida o personagem de Keanu Reeves no panteão dos anti-heróis dos filmes de ação de Hollywood e a franquia como uma das melhores do século.