NISE – O coração da loucura

Por Graça Vignolo de Siqueira

Sinopse:

   “Ao voltar a trabalhar em um hospital psiquiátrico no subúrbio do Rio de Janeiro, a doutora Nise da Silveira (Gloria Pires) propõe uma nova forma de tratamento aos pacientes que sofrem da esquizofrenia, eliminando o eletrochoque e lobotomia. Seus colegas de trabalho discordam do seu modo de tratamento e a isolam, restando a ela assumir o abandonado Setor de Terapia Ocupacional, onde dá início a uma nova forma de lidar com os pacientes, através do amor e da arte.”

   Não é à toa que a primeira cena de Nise é aberta e com a personagem batendo forte em um portão. Mas é necessário esmurrá-lo para que alguém decida atender a médica. Isso já nos mostra que tipo de mulher é Nise e que ela não desiste facilmente.

   Embora o filme não conte a vida da personagem, apenas que ela já estivera naquele hospital e retorna ao trabalho depois de algum tempo, fui pesquisar e descobri que Nise foi presa política.

   Mas nada de que se devia envergonhar, afinal foi presa durante o Estado Novo, por 18 meses, e partilhou cela com Olga Benário, judia que foi entregue à Gestapo de Hitler pelo governo brasileiro.

   Nise também foi contemporânea de Graciliano Ramos na prisão e foi personagem do livro e filme Memórias do Cárcere. A novela Kananga do Japão também fala de sua história.

   Nise da Silveira brigava pelo que acreditava, pela justiça e igualdade. E recebeu condecorações, títulos e prêmios nas mais diferentes áreas do conhecimento: saúde, educação, arte, literatura etc.

   Tendo Jung como pista e mestre, também era encantada por Laing. Acreditava que: “nós vivemos simultaneamente em dois mundos, o mundo externo e o mundo interno”. (Entrevista à revista “Psicologia: Ciência e Profissão “, em 28.07.1992)

   Quando retorna ao hospital e o encontra dirigido por médicos que fazem uso de lobotomia e tratamento com eletrochoque, ela se rebela e resolve fazer da ala esquecida do hospital, um lugar para que os “clientes”, como fazia questão de tratá-los, tivessem livre expressão.

   Uma mulher, médica formada, com ideias próprias na década de 40, por si só, já enfrentaria problemas. Imagine então Nise, a única mulher entre os 157 homens da turma de 1926 da Faculdade de Medicina da Bahia.  Ela passa não só a tratá-los com humanidade, como exige que todos os funcionários copiem sua conduta.

   Os internados, acostumados a serem maltratados por todos, custam a se adaptar à Nise, mas suas palavras e gestos de carinho faz com que recuperem a dignidade.

   Embora você não vá assistir isso no filme, sete anos antes de falecer, Nise já nutria uma antipatia pelo nome Terapia Ocupacional. Ela explicou que na terapia ocupacional exigia-se apenas que os doentes arrumassem, limpassem e varressem o Hospital. Então ela veio e criou as oficinas, por pretender que o cliente tomasse conhecimento da matéria.

   Um deles lhe provou que estava certa, quando lhe ofereceu um coração em madeira e no centro do coração um livro aberto. Ele explicou que: “um livro é muito importante, a ciência é muito importante, mas se se desprender do coração não vale nada”.

   A médica que revolucionou o hospital psiquiátrico morreu acreditando que “tudo que eu sei de psiquiatria aprendi com eles”. Só isso já demonstra sua humildade e sapiência.

   A trama é densa, mas com momentos leves, e Glória Pires está insuperável. Aliás, todos estão ótimos: Claúdio Jaborandy (Emygdio de Barros), Simone Mazzer (Adelina Gomes), Roney Villela (Lucio Noeman), Bernardo Marinho (Raphael Domingues), Fabrício Boliveira (Fernando Diniz), Julio Adrião (Carlos Pertuis), Flávio Bauraqui (Octávio Ignácio), Augusto Madeira (Lima) e Felipe Rocha (Almir).

   Com excelente direção de Roberto Berliner, fotografia e roteiro impecáveis, Nise – O Coração da Loucura é uma obra-prima nacional e já recebeu inúmeros prêmios em vários países, estando entre os campeões de bilheteria.

   Eu me apaixonei pelo filme e pela vida dessa mulher. Se após assistir ao filme, em cartaz no Cineflix do Shopping Pelotas, você quiser saber mais sobre a médica, procure aqui:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98931994000100005

https://pt.wikipedia.org/wiki/Nise_da_Silveira

   “É necessário se espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a realidade.” (Dra. Nise da Silveira 1905-1999)

   Nota 10.

   Link para o trailer: https://youtu.be/UeAUNvcM_xk

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