Entrevista com o cineasta pelotense Mateus Armas

Por Matheus Garcia

O quase cineasta por formação, Mateus Armas (22), pelotense de raiz, está concluindo o curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) agora no final do ano. E só para não perder a essência da sua personalidade hiperativa, ele está envolvido em diversos projetos dentro da indústria cinematográfica. Mas deu um tempinho na correria do trabalho, fim da faculdade e preparativos da formatura, para bater um papo sobre a carreira, a paixão pelo cinema, participação em festivais, aspirações na profissão e, também, sua visão a respeito do cinema brasileiro.

Mateus Armas se forma no curso de Cinema da UFPel no final do ano, mas já tem produções suas concorrendo em festivais pelo Brasil. Imagem: Divulgação/arquivo pessoal.

Como despertou teu interesse por cinema?

[Mateus Armas] Eu jamais sequer pensei em fazer cinema. Também sou ator e, até o final do meu Ensino Médio, tinha certeza que iria cursar teatro. Nesse momento, fui chamado para atuar em um curta-metragem chamado “Dança Prosaica” – em 2014, uma produção de Marcos Haas e Mateus Neiss, disponível na internet – e eu simplesmente me apaixonei pelo que vi: o pessoal ajustando luz, testando planos, correndo com planilhas, objetos, claquete. Achei aquilo muito divertido e me convenci de que queria fazer cinema – acredito que não poderia ter feito escolha melhor. Sempre fui uma criança muito criativa, vivia no mundo da lua, e eu meio que nunca perdi isso. Acredito que estudar e aprender cinema me deu a possibilidade de colocar todo esse vulcão de ideias que me veem na cabeça a todo momento, em algum lugar, e transformar isso em algo eterno. Aliás, talvez essa seja a característica que eu mais goste no cinema: após o término de um projeto, você pode assisti-lo centenas de vezes se quiser. Por exemplo: os atores mirins do meu primeiro curta que foi rodado em 2016. Quando eles tiverem 60 anos, ainda vão ter aquele registro, em forma de filme, de uma época na qual eles tiveram 8, 9 anos, e isso é fantástico!

 

Quais os momentos mais interessantes de se pontuar na tua carreira?

[M.A] Eu jamais teria tido qualquer contato com cinema se não fosse por meio da Universidade. Inclusive, acho assustador quando a relevância dela é colocada à prova ou descanteada. Desde que entrei para o curso, procurei ser sempre muito proativo para participar dos filmes. Durante toda a minha graduação, foram 22 projetos audiovisuais, entre eles: 17 curtas, 3 longas e 2 videoclipes. Acredito que “Rosana Pereira”, o primeiro filme que fiz, e “Garbo”, produção para o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) são meus maiores xodós porque eu realizei diversas funções nos dois curtas (roteiro, direção, produção, direção de atores e montagem). Gosto de dizer que existe um abismo entre eles e isso vai desde o roteiro: um é uma comédia de terror trash e o outro, um suspense com um toque de fantasia. E cada vez que eu me questiono sobre meu progresso enquanto profissional, coloco os dois filmes para assistir e consigo visualizar isso claramente. É o que me dá bastante ânimo para os projetos que vierem a seguir.

 

Conta um pouco da tua trajetória na graduação:

[M.A] Entrei na faculdade em 2015, com 17 anos, logo após as férias do Ensino Médio. Eu não tinha referência cinematográfica, nem repertório, nem habilidade com os programas, nem nada! Confesso que, às vezes, não tinha ideia do que estava fazendo ali, mas minha curiosidade era gigante em querer aprender tudo. Virei voluntário em todos os projetos que via pela frente e tentava trabalhar nos curtas dos veteranos para ganhar experiência. Acredito que isso foi muito importante, porque em 4 anos é muito difícil conseguir explorar e praticar um pouco de todas as funções que envolvem um filme e eu sinto que consegui fazer isso. Estou me formando agora, com 22 anos, e é muito transformador ver o quanto mudei e quantas coisas consegui aprender e realizar. Eu já tenho vários próximos projetos prontos para serem realizados e me sinto feliz de finalmente ter encontrado uma certa confiança para sair por aí fazendo meus filmes.

 

 E o teu contato com os festivais?

[M.A] Essa está sendo uma experiência nova para mim. Nunca lidei com festivais antes e agora eu procuro ficar atento para não perder nenhum. Recentemente, um filme que produzi foi indicado ao The Lift Off Sessions, no Reino Unido. Foi meu primeiro “sim” de um festival depois de bastante tempo tentando, sem sucesso, e isso me motivou bastante. Agora em outubro, minha primeira produção feita com a universidade, “Rosana Pereira”, um filme de terror/comedia trash sobre a história de um fantasma que quer voltar a assustar, vai ser exibido e concorrer na Mostra Pequeno Cineasta, o que me deixou bastante feliz também, pois tenho um carinho enorme por essa obra e pela equipe.

 

 Como tu enxergas o atual cenário do cinema brasileiro e como tu acreditas que vai ser daqui para frente?

[M.A] O cenário de cinema no Brasil quase nunca foi favorável. Os realizadores sempre tiveram que lutar pelo seu espaço e dialogar muito para conseguirem fazer seus filmes. Agora não é diferente e é claro que isso é desanimador. Mas o que sempre achei mais preocupante é o senso comum instaurado sobre cinema brasileiro na cabeça das pessoas. Quero dizer que muita gente sequer assistiu a um filme brasileiro na vida e mesmo assim se mostra incrivelmente resistente para sequer tentar dar uma chance a algum filme nacional. Realmente espero que isso um dia consiga ser mudado.

 

Entre os trabalhos do Mateus estão o longa-metragem “Pedro Sob a Cama”, dirigido pelo cineasta pedro-osoriense Paulo Pons e que conta também com as atuações das veteranas Letícia Sabatella e Betty Faria; e seus filmes mais recentes: “Rosana Pereira”, mais conhecida como a Loira do Banheiro – um fantasma que, após passar anos se divertindo com a ideia de assustar pessoas, se vê esquecido no tempo e vai precisar da ajuda de Laila: uma menina de 6 anos que possui uma criatividade fora do comum. A criança irá ajudar o espírito a se infiltrar em uma escola primária, entender o medo que as crianças da modernidade sentem e, finalmente, voltar a assustar. Você pode assistir ao trailer do filme aqui: https://www.youtube.com/watch?v=9ViA6YclekI; e “Garbo”, que tem como pano de fundo o casal Laura e Bernardo. Os dois estão começando a vida em uma nova cidade, onde ele será dentista em um consultório local. A trama se desenrola com uma associação de homens da cidade que dita o que todos devem pensar, vestir e fazer. Assista ao trailer do filme: https://www.youtube.com/watch?v=ByZB7wwTasM.

Recentemente, Mateus se aventurou pelos lados da música, dirigindo o clipe de FU – uma releitura da canção da cantora americana Miley Cyrus, onde ele também atuou. Está disponível na internet através deste link: https://www.youtube.com/watch?v=c0asii9jYL4. E, atualmente, o cineasta está finalizando as gravações do seu novo filme, ainda sem título e data de lançamento definidos.

 

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