Crônica – Alípio
Por Marcelo Nascente
Alípio é um cara normal, mediano. Classe média, meia-idade, calça 39 e usa jaqueta de brim….
Não reconhece a palavra jeans. Quase aposentado pelos Correios, não está certo se tem a vida ou se ela que o tem. Mas também não se importa muito com isso. Torcedor do Íbis, sabe o que é correr atrás do que nunca se alcança. Então, lá pelos trinta e poucos, deixou de tentar. Segue o curso da vida, sempre lembrando da importância do caráter e de lavar atrás das orelhas…
Mora só num sobrado verde da Barroso, e sempre diz que a melhor Seleção de todas foi a de 82. Espera, ansiosamente, as manhãs de sábado, quando vai ao Café Aquários debater política e teses conspiratórias com seus amigos de meia taça preta.
Acha que uma administração pública deve ser executada por alguém de presença. Não precisa tanto de ideias. Para isto existem os assessores. O negócio é ter postura e boa dicção. O resto vem com o tempo. Um bom camaleão precisa mexer um dos olhos, independente de pra onde o outro esteja olhando…
Sujeito sensato, Alípio jamais dorme sem deixar a roupa do outro dia pronta, em cima da cadeira da sala. Disciplina é tudo na vida. Mais, mesmo sem saber salmos de cor (outra de suas paixões). Por isso, todo sábado vai lá, cheio de raciocínios longos pra explicar que: quando um vereador participa de sacrifício de animais dentro do mercado público é uma coisa cultural.
Ou que não tem nada de errado com a saúde pública da cidade, isso é coisa pra vender jornal.
Nas horas vagas (que são muitas), ele anota todas suas ideias de articulações políticas, seus organogramas do secretariado e autarquias; confere o site do BNDES atrás de alguma verba que não tenha sido ainda descoberta. Alípio, no fundo, quer fazer a diferença…
No próximo sábado vai estar lá, na mesma esquina de sempre. Mesma mesa, se possível.
Gosta da rotina. Ela lhe dá segurança. E tudo que Alípio precisa pra viver é isso: segurança.
Pensa em criar um blog e tem pesquisado bastante o universo virtual. Pretende (ainda nesse fim de semana, se não tiver jogo de botão na casa do Tércio) fazer um perfil no Facebook.
Quem sabe um dia, uma fan page.
Mas o que ele quer mesmo é uma coluna semanal no jornal.
Alípio é uma figura…