Inicialmente, cabe citar a dinâmica turística do extremo sul do Estado do Rio Grande do Sul – RS, a Região Sul que é composta por vinte e dois municípios que abrangem uma área de 34.938,2 km², onde vivem 868.384 habitantes e cuja taxa de analfabetismo de pessoas com 15 anos ou mais (2010) é de 5,99%. A Região caracteriza-se por ser formada por municípios de grande extensão territorial, além de possuir uma urbanização de aproximadamente 84%, com densidade demográfica administrável do ponto de vista de mobilidade (PLANO ESTRATÉGICO DE DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO SUL, COREDE-SUL, 2015). Esta região localiza-se em posição estratégica em relação aos países do Mercosul, ao possuir uma ligação natural com o Uruguai através da hidrovia da Lagoa Mirim, tendo como ponto de ligação o Porto do Rio Grande. Ainda em termos geográficos, apresenta grandes mananciais de água doce, extensa costa marítima, planícies e serra. Sendo dominada pelo bioma Pampa, seus solos permitem elevada gama de produtos agropecuários e florestais.
A economia da região é fortemente baseada na agropecuária, destacando-se na criação de bovinos, produção de arroz, fumo, cebola, florestamento e fruticultura. Na área industrial, destaca-se no beneficiamento de alimentos. A Região atua também na industrialização de produtos químicos e na fabricação de embarcações.
Na área da prestação de serviços, se sobressai como centro de referência em educação. Na área do ensino superior, a região possui duas Universidades Federais (UFPel e FURG), uma Universidade Comunitária (UCPel), um campus da UNIPAMPA e um Instituto Federal (IFSul). Estas estruturas, somadas às demais faculdades existentes geram fluxos articulados de deslocamentos na área territorial, enquadrando-se como uma Região de Articulação Urbana. Mesmo com estas características positivas, a Região Sul apresenta indicadores sociais baixos, principalmente nas áreas da educação e saúde, além de gargalos na infraestrutura de transportes.
Em termos de organizações civis, cabe destacar a existência do Conselho de Desenvolvimento Regional Sul (COREDES-Sul), que reúne 22 municípios; e da Associação dos Municípios da AZONASUL, que reúne 23 municípios (com Aceguá que não integra o COREDE/Sul).
Em termos de zoneamento turístico, a região é denominada de Costa Doce Gaúcha e possui efetividades e potencialidades para o Turismo histórico, cultural, cívico, rural, gastronômico, de compras, ecológico e de aventura, sol e praia, e de experiência. De forma a evidenciar alguns atrativos turísticos da região, elencamos: o Parque Nacional da Lagoa do Peixe; a Estação Ecológica do Taim; os free shops localizadas nos municípios fronteiriços de Chuí (Brasil) e Chuy (Uruguai), de Jaguarão (Brasil) e Rio Branco (Uruguai), esses ligados pela Ponte Internacional Barão de Mauá, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio cultural edificado; o município de Pelotas (importante centro econômico e político no cenário estadual e nacional do século XVIII, em função do próspero e rico comércio de charque e couro) com a sua Festa Nacional do Doce (FENADOCE), e cujo conjunto histórico, assim como a tradição doceira regional, doces finos e coloniais, foram declarados, respectivamente, como patrimônios culturais material e imaterial brasileiros em maio de 2018; o município de Piratini, Capital Farroupilha e cultuador das tradições gauchescas; o roteiro Caminho Pomerano e as praias de água doce do município de São Lourenço do Sul; a tradição náutica do município de Rio Grande, ‘porta de entrada de toda a história do Estado’, com seu Porto e sua extensa praia do Cassino; Turuçu, a capital nacional da pimenta calabresa. São tantas as potencialidades que seria impossível mencionar todas neste documento e considerando que o espaço turístico é sempre um devir, citamos ainda a proximidade com algumas cidades da região turística do Pampa, tais como Bagé, Aceguá, Pinheiro Machado e Caçapava do Sul, cujas Guaritas em seu entorno regional são consideradas uma das sete maravilhas do Rio Grande do Sul.
Por esses, além de outros atributos, a AZONASUL, possui um Arranjo Produtivo Local – APL/Turismo, reconhecido no final de 2016 que, segundo o Plano Estratégico de Desenvolvimento da Região Sul 2015-2030, entende:
[…] haver na área de abrangência da Costa Doce, aglomeração de empresas e instituições localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e que mantenham vínculos de interação e cooperação, comércio, tecnologia e aprendizagem entre si e com outras instituições locais, acentuada, fortalecida e originada das características geográficas e paisagens locais, bem como, dos aspectos culturais geradores de traços culturais identitários e caracterizadores de um “território”, entendemos a constituição de um Arranjo Produtivo Local, cujo enquadramento se dá nos setores da Economia Tradicional e Turismo (PLANO ESTRATÉGICO DE DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO SUL, COREDE-SUL, 2015, p.120).
Contudo, diante de tantas potencialidades e da evidência de que a região tem expectativas em relação ao desenvolvimento do Turismo, uma análise mais profunda se faz necessária. O Turismo, via de regra, tem sido compreendido como uma atividade econômica capaz de ampliar os processos de geração de trabalho e renda. Essa tem sido a justificativa mais comumente utilizada para legitimá-lo enquanto fenômeno social e também, em alguns casos, como área de saber. Contudo, não é menos verdade que em muitos casos o maior crescimento econômico do Turismo, por si só, não foi capaz de minimizar, de modo significativo, as desigualdades sociais e as disparidades regionais, sabendo, inclusive, que, em determinadas situações, as primeiras foram notadamente agravadas.
Nesse sentido, reiteramos o papel da Universidade Pública como espaço plural de formação para a mudança e a ruptura dessas relações sociais e econômicas desiguais que acabam naturalizadas e reproduzidas em nosso cotidiano enquanto sociedade sem a reflexão necessária.