“A Hora do Mal” foge da mesmice no gênero de terror

Com estrutura narrativa inusitada, o novo filme de Zach Cregger se destaca ao entregar uma experiência memorável    

Por Isadora Jaeger    

 

Filme está sendo avaliado como um dos melhores do ano entre os lançamentos  Fotos: Divulgação/Warner Bros

 

Dirigido por Zach Cregger, “A Hora do Mal (“Weapons”) estreou nos cinemas brasileiros no dia 7 de agosto. O longa apresenta a misteriosa história do desaparecimento de um grupo de crianças da mesma turma escolar, que foge de suas casas exatamente às 2h17 da madrugada. Após o sumiço, todas as suspeitas e desavenças da cidade recaem sobre a professora da classe, interpretada por Julia Garner.

Logo em seus primeiros dias de exibição, o filme conquistou público e crítica, sendo chamado de “o mais ousado de 2025” e “melhor terror do ano”, além de ser comparado a obras de Stephen King e aos contos dos Irmãos Grimm. O sucesso refletiu também nas bilheteiras: tornou-se a segunda maior pré-venda de um filme de terror no ano, atrás apenas de “Pecadores”.

 

                       Professora da turma desaparecida, Justine Gandy (interpretada por Julia Garner) vira principal suspeita                       

 

Mas a que se deve tamanha recepção positiva? O filme opta por uma narrativa fragmentada, dividida em capítulos que acompanham a perspectiva de diferentes personagens. Apesar de ser uma estrutura arriscada, o filme acerta nesse formato para melhor desenvolver seu suspense, com intersecções de pontos de vista que não se tornam cansativos. Em vez disso, as rupturas da trama instigam a curiosidade do espectador, aos poucos montando a imagem completa do enredo.

O recurso não é exatamente novidade para o diretor Zach Cregger. Em seu filme anterior, “Noites Brutais” (2022), o diretor já havia arriscado uma estrutura semelhante. Na época, o filme foi bem recebido pela crítica, mas ainda divide opiniões. Para alguns espectadores, a ousadia da ruptura narrativa no segundo ato é o destaque do filme, já para outros, a distinção das partes fazem com que a narrativa não funcione como um todo.

Além disso, “A Hora do Mal” compartilha com “Noites Brutais” certos elementos visuais e simbólicos, como a figura da mulher debilitada ou envelhecida representada como uma imagem aterrorizante e o porão da casa como cenário crucial para a história. O uso de idosas como vilãs do terror não é um fenômeno recente, tem se tornado cada vez mais uma obsessão no cinema recente, aparecendo em produções como “X – A Marca da Morte”  (2022), “A Libertação” (2024) e “A Substância” (2024).

 

Produção cinematográfica aposta em recursos pouco convencionais

 
Apesar disso, “A Hora do Mal” evita recorrer a outro clichê típico do gênero: a criança como a fonte do terror no filme. Enquanto muitos filmes de horror retratam crianças em situações de possessão ou como agentes do mal, aqui eles aparecem como vítimas. O filme também não exagera em truques como jumpscares, mas utiliza destes momentos para segurar a tensão do espectador em seu ápice, com cenas que demonstram a proeza de Cregger.

O grotesco aparece especialmente nas consequências sofridas pelo único menino que não desapareceu junto com seus colegas, Alex. Por particularidades da trama, seus pais são reduzidos a um estado catatônico, deixando-o sozinho para lidar com a presença maligna em sua própria casa e tentar reverter a situação de sua família.

 


Alex, interpretado por Cary Christopher

 

Com essa mesma abordagem amarga do terror, Cregger foge da convenção de restaurar a ordem no desfecho do filme. O público mais otimista encontra um final apenas parcialmente satisfatório, mais próximo de uma realidade onde as consequências dos acontecimentos estarão sempre presentes nas vidas dos afetados.

No fim das contas, “A Hora do Mal” não é um filme perfeito e deixa furos narrativos pelo caminho. Ainda assim, o simples fato de apostar em meios não convencionais já é positivo em uma época em que filmes de terror se mesclam por sua mesmice.

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