Lançado em agosto de 1975, filme criou uma legião de fãs ao longo de décadas
Por Vinicius Terra
Nesta quinta-feira, dia 14 de agosto, o filme “The Rocky Horror Picture Show” (1975) comemora seu aniversário de 50 anos de lançamento. O filme é dirigido pelo australiano Jim Sharman e foi escrito por ele e por Richard O’Brien, que também é o criador da peça de teatro que inspirou o musical. Produzido no Reino Unido, foi exibido também nos Estados Unidos na década de 1970, momento de virada para a expressão popular depois dos movimentos da contracultura dos anos 60. Rocky Horror chocou o público mais conservador ao mostrar uma liberdade sexual que parecia inimaginável e, em meio ao caos, surge como um dos principais ícones de sexualidade, gênero e liberdade. Embora tenha recebido pouca audiência no primeiro ano de exibição, o filme logo se tornou um sucesso como “midnight movie”, sessões que ocorriam à noite e exibiam filmes obscuros e de terror.
O musical de terror de ficção científica começa com a brilhante música “Science Fiction/Double Feature” que, durante os créditos iniciais, aborda os principais filmes de ficção científica lançados anteriormente, como “Planeta Proibido” (1956), “O Dia em que a Terra Parou” (1951), “O Homem Invisível” (1933) etc. Nas primeiras cenas, somos apresentados ao casal de protagonistas Janet (Susan Sarandon) e Brad (Barry Bostwick), que estão no casamento de uns amigos. Após Janet conseguir o buquê da noiva, Brad pede ela em casamento em um número musical bobinho e que exemplifica a dinâmica mais inocente dos dois (“Dammit Janet”).

Brad declara seu amor a Janet após casamento de amigos Fotos: Divulgação/20th Century Studios
Quando ficam perdidos na estrada ao sair do casamento, enquanto escutam com pouca atenção o ex-presidente dos Estados Unidos Richard Nixon renunciando do cargo no rádio, decidem seguir a pé e encontram uma mansão. É nesse momento que há uma ruptura do filme com o que já estávamos acostumados – saímos do então dia e natureza verde, para uma noite de tempestade, árvores mortas e cores mais escuras. Então, “Over at the Frankenstein Place” começa a tocar, com os personagens maravilhados por encontrar uma possível ajuda e sendo recebidos pelos moradores Riff Raff (Richard O’Brien) e Magenta (Patricia Quinn). Os ajudantes levam eles para um lugar com pessoas dançando e cantando a música “Time Warp”, que elucida desde o início do filme que os personagens dessa mansão estranha pareciam ser de outro mundo e estavam prontos para sair desse planeta.
Daí então entra em cena o grande antagonista dessa história, Dr. Frank-N-Further (Tim Curry), que chega com um dos números mais famosos do filme, “Sweet Transvestite”. Na música, ele incorpora o contraponto do que os protagonistas eram, já que ele mostra mais o corpo e usa bastante maquiagem, enquanto o casal era mais ingênuo e conservador. Além disso, o personagem não tem medo de jogar água e olhar para a câmera, quebrando a quarta parede. Logo em seguida, um dos maiores sonhos de Frank como cientista está para acontecer: ele vai criar um homem, Rocky (Peter Hinwood) para satisfazer seus desejos, em uma cena homenagem a “Frankenstein” (1931), e convida todos para isso.

O Dr. Frank espera os convidados em seu laboratório
Por meio do número “I Can Make You a Man” o filme comenta sobre os valores que são atribuídos a homens “másculos” e o desejo de Frank de criar um. O laboratório possui tons bem saturados, entre o branco e o vermelho, muito diferente dos laboratórios que normalmente são vinculados às mídias. Interrompendo este momento, porém, entra em cena Eddie (Meat Loaf), que estava congelado no laboratório de Frank. A cena é caótica, com a música “Hot Patootie – Bless My Soul” marcando uma homenagem ao rock and roll dos anos 50, do guitarrista Buddy Holly e da sensação de liberdade. Ainda sobre os arquétipos da época, há a presença da Columbia (Nell Campbell), uma groupie que ama Eddie. Tomado pela raiva, Frank mata Eddie de forma brutal, para que assim possa retornar para a sua performance de “I Can Make You a Man”, quando fica evidente que o filme não se leva a sério, o que é justamente um dos seus maiores acertos.
Após o caos, Janet e Brad são colocados em quartos separados, em um esquema de luzes mais avermelhadas e rosadas no quarto de Janet, e luzes brancas no quarto de Brad. Com uma câmera fixa e voyeur no quarto, e através da contraluz, vemos os dois recebendo em seus quartos Frank. O casal acaba tendo relações com o cientista e, apesar do filme não levar para o frontal, ele acaba discutindo sobre sexualidade e gênero por meio das ações, que mostram como poderia ser libertador para este casal não estar em amarras de padrões sociais. Após uma fuga, Janet encontra Rocky machucado e, em uma das cenas mais emblemáticas do filme, a personagem performa “Touch-a, Touch-a, Touch Me” – um hino de libertação sexual, carregado com a comédia norteadora do filme.
No último ato do filme, o professor de Janet e Brad, Dr. Everett V. Scott (Jonatham Adams), tio de Eddie e agora um investigador de presenças alienígenas, chega na mansão. É nesse momento que é revelado para os protagonistas que Frank, Riff Raff e Magenta são na verdade de outro mundo. Em um último ato de raiva, Frank petrifica em mármore os corpos do casal, do professor, e da groupie Columbia, que não aceita a morte de seu amor, Eddie. Frank coloca todos eles para performar no palco, com a música “Rose Tint My World”. Em uma virada surpresa, Magenta e Riff Raff decidem acabar com tudo e matar Frank, mas não antes da performance maravilhosa de “I’m Going Home”. No fim, Dr. Frank morreu porque gostava da liberdade de fazer seus experimentos na Terra, uma atitude talvez mais humana do que seus conterrâneos.

Frank, em uma última tentativa, implora em uma performance para não morrer
O filme não é, necessariamente, um espelho do que hoje é considerado aceitável como uma forma de representação da comunidade, contudo, ele pode ser visto como um dos marcos do cinema a abordar as questões de gênero e sexualidade para um público mais amplo. E, apesar da comédia, é bom lembrar que o filme é essencialmente de terror também, e algumas cenas são para incomodar e gerar um sentimento de horror. Após seu lançamento, é importante também comentar sobre o “culto” de fãs que surgiu, em que, inclusive, grande parte dele é formado por pessoas da comunidade LGBTQIA+, que na época finalmente se sentiram de alguma forma representadas nas telas do cinema.
O filme termina com o narrador, onisciente em relação a todos os acontecimentos da história, discutindo e comentando tanto as ações dos personagens quanto os sentimentos que eles experimentaram ao longo dos eventos. Desde sua primeira aparição, já sabemos que por ser um investigador criminal, o fim dos personagens possivelmente não seria algo positivo. No fim, ele fala como os protagonistas ficaram se rastejando na terra da mansão, perdidos no tempo, perdidos no espaço e significado, como toda humanidade.
O filme está disponível para streaming no Disney+.
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