Cassino Records: A música encontra o mar no extremo sul do Brasil

Na Praia do Cassino, o músico Don Douglas transformou aos poucos o quarto de sua casa em um estúdio, fazendo hoje parte da comunidade musical cassineira        

Por Gabrielle Peres        

Há quase 15 anos, a dedicação de Don Douglas movida por sua paixão pela música construiu a passos curtos, mas potentes, o único estúdio na maior praia do mundo em extensão, o Balneário Cassino, e que virou tema do documentário “No Extremo Sul: Onde o Mar Encontra a Música” (2025), disponível de forma gratuita pelo Youtube.

Na produção audiovisual, realizada pela autora deste texto jornalístico, foi resgatado como o estúdio Cassino Records ganhou vida aos poucos desde 2011. O espaço musical surgiu a partir da vontade pessoal do multi-instrumentista de ter um local próprio para a sua criação sonora. O músico iniciou os estudos dos instrumentos muito jovem. Lembra que o desejo de poder gravar suas composições, além de ensinar e compartilhar esse espaço com amigos, foram motivações para montar e aperfeiçoar o local.

“Quando criança eu sempre fui muito apaixonado pelos instrumentos, e sempre tinha muita vontade de tocar, de reunir com quem tocar, então, desde muito pequeno, eu já ensinava meus amigos para poder tocar com eles”, conta Douglas no documentário.

 

Don Douglas aparece na área interna do seu estúdio construído ao longo de anos em uma das sequências

 

A construção do estúdio foi feita lentamente pelo próprio músico, que transformou, pouco a pouco, o espaço que costumava ser o seu quarto, no que hoje se tornou um local de referência para diversos artistas quanto à qualidade para produção, ensino e prática musical.

“Eu comecei, muito assim, numa empolgação por fazer. Tinha uma ideia, e, daquela ideia, eu já ficava muito, muito afim, muito contagiado por aquilo, e fazia um jeito daquilo acontecer […] Foi bastante tempo, na real, para chegar até onde chegou. Parece hoje que está tudo pronto, mas [foi muito trabalho] até chegar aonde chegou…”, diz o músico sobre o processo de construção do estúdio.

 

A produção audiovisual recupera registros do músico Don Douglas trabalhando na construção do estúdio

 

Através de elementos que misturam narrativa com imagens e sons que trazem a leveza e a poesia da praia do Cassino, o documentário também introduz personagens importantes que vivem e frequentam o espaço. Antônio Ribeiro – artista plástico, designer e paisagista – em busca de aprender a estudar violão, encontrou Douglas como professor. Os caminhos que se cruzaram formaram uma amizade que se estendeu pela vontade de transformar o estúdio, cada dia mais, em um local de acolhimento aos artistas. Antônio conta como ajudou a montar pequenos detalhes do local, da dedicação de Douglas ao utilizar do próprio trabalho manual para fazer isso e como enxerga e sente o estúdio como um refúgio.

“Eu estava fazendo design, e, então, ele pedia auxílio naquilo que eu tinha como fazer na prática. Às vezes ele olhava e falava, vamos fazer tal coisa assim? Vamos. Vamos mudar o teto? Vamos. Mudar uma parede? Vamos. No dia seguinte, a gente ficava admirando, fizemos tudo isso, como ficou massa. Cada vez o espaço ia ficando diferente […] O estúdio me proporciona um refúgio. Quando a gente vem pra cá, às vezes a gente toca violão, fica aqui ouvindo as músicas, as bandas que se apresentam e fazem os seus ensaios. Então, é uma conexão muito, muito boa aqui com o estúdio”, relata Antônio.

 

Douglas e o artista visual Antônio Ribeiro lembram como espaço criativo vem reunindo talentos 

 

Todo esse cuidado e dedicação que transparecem nas falas de Douglas são embasadas por amigos como Antônio. Refletem diretamente em como os alunos e artistas que frequentam o espaço se sentem ao estarem presentes e reunidos no local.

A aluna de canto Luiza Olibone faz aulas individuais em meio à rotina acelerada do trabalho. “Às vezes, venho de uma semana com uma correria total”, diz. Momentos como esse acabam sendo os poucos em que ela consegue parar e respirar, sendo a aprendizagem da música um tempo que ela consegue voltar para si.

No documentário, também aparece a relação de Douglas com o Balneário Cassino, onde vive desde pequeno. O movimento da principal avenida e os sons dos pássaros são fontes de inspiração. A praia e a conexão com o mar acendem a criatividade e ajudam a encaixar as palavras nas composições. A canção “No Extremo Sul”, de autoria de Don Douglas, que dá nome ao documentário, é reproduzida durante a exibição da produção audiovisual e ilustra esse apego entre o músico e a Praia do Cassino.

“É um momento quando eu estou com o meu chimarrão, seja sentado, seja caminhando até a praia. É a hora em que eu estou geralmente compondo. Quando está vindo uma melodia, uma ideia. A praia, a cada dia, está de um jeito também. Às vezes, ela está agitada, às vezes mais calma. Cada dia que a gente vai é um encontro. Então, a praia está sempre nos presenteando com várias paisagens. E cada estação, cada mudança, também a gente sente bastante”, conta Douglas sobre sua relação com o local.

 

Don Douglas observa lindo entardecer da Praia do Cassino, fonte para sua criação musical

 

Através da própria música e elementos visuais, a história do Estúdio Cassino Records é contada no documentário de forma poetizada, com uma analogia simbólica à Praia do Cassino. Não se trata apenas de registrar um estúdio à beira-mar, mas de mostrar como a arte pode nascer da escuta atenta ao ambiente. O vento e o mar tornam-se parte do processo musical. O fazer artístico não está preso às grandes capitais: ele floresce em todo lugar onde há espaço para respirar e sentir.

 

Assista ao documentário:

 

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