Terror com “Substância”

Um dos favoritos no Oscar crítica com força a indústria de filmes estadunidense       

Por Augusto Lettnin Ferri       

 

Ótima atuação rendeu para Demi Moore o prêmio Globo de Ouro de Melhor Atriz em filme de comédia/musical de 2024    Fotos:Divulgação

 

“A Substância”, filme dirigido pela francesa Carolie Fargeat e estrelado pelas atrizes americanas Demi Moore e Margaret Qualley, é um dos filmes com mais prêmios e indicações de 2024 desde seu lançamento no Festival de Cannes. O que surpreende é que o longa conquistou isso mesmo criticando fortemente Hollywood e sua cultura.

O filme se passa em Los Angeles, contando a história de Elizabeth Sparkle (personagem interpretada por Moore), uma atriz de 50 anos que vem perdendo seu espaço no mundo do entretenimento justamente por sua idade. Sparkle já havia ganhado prêmios, tinha um programa de televisão matinal e até uma estrela na calçada da fama, mas, por não estar mais dentro dos padrões de beleza hollywoodianos, ela é demitida.

Após quase se acidentar e acabar em um hospital, é então que recebe a oferta da substância, uma nova droga capaz de trazer uma versão mais jovem, mais bela e mais perfeita dela mesma. E é exatamente isso que acontece quando Sue (personagem de Margaret Qualley) sai das costas de Sparkle.

Embora Sue seja um corpo diferente, ela ainda é Elizabeth. Com a atriz tendo que respeitar uma rígida escala de sete dias em cada corpo, respeitando o balanceamento para evitar qualquer problema. Mais e mais problemas aparecem quando ela começa a querer passar mais tempo como sua versão melhor e mais jovem.

 

Margaret Qualley como Sue, a versão de Elizabeth criada pela Substância

 

Demi Moore entrega uma atuação cheia de nuances e momentos inesquecíveis. A atriz de 61 anos, que sofreu muito durante sua carreira, foi a escolha perfeita para estrelar uma história sobre etarismo na indústria do cinema.

Também há algo muito gratificante em ver a atriz ser reconhecida como nunca havia sido durante sua carreira de 47 anos, em um filme que aborda o quanto a mídia está disposta a descartar alguém que não se encaixa nos ridículos padrões de beleza do mundo moderno, seja por aparência ou por idade.

 

Personagem enfrenta a crueldade a que o mundo do show business pode chegar

 

Sua outra versão, Sue, interpretada por Margaret Qualley, também faz um papel memorável mesmo tendo menos tempo de tela. Ela consegue mostrar o desejo que a personagem tem de se manter no topo em Hollywood, e também momentos de fúria e medo.

A personagem ostenta o corpo impossível que é tantas vezes anunciado em programas de televisão como se fosse algo alcançável, algo que apenas depende de exercício e dedicação. Mas, a própria Sue não conquistou esse corpo desse jeito, mas, sim, por ter usado a titular substância, fazendo com que o filme também possa ser visto como uma alegoria à dependência e utilização de drogas com fins estéticos.

Embora as personagens principais sejam personalidades tão diferentes e, até mesmo, antagonizam uma à outra, elas ainda são uma só. O filme traz uma mensagem forte de cuidar e querer o melhor para si, sobre como decisões que fazemos no calor do momento podem trazer satisfação momentânea, mas que irão voltar mais tarde para nos afetar. Essa mensagem pode ser resumida com o bordão que Elizabeth e Sue tem durante o filme: “Cuide de si mesmo”.

Mesmo tendo momentos de horror corporal que lembram filmes como “A Mosca” e “O Enigma de Outro Mundo”, graças ao uso de efeitos práticos ao invés de computação gráfica, o filme consegue ter um senso de humor sombrio. Há momentos engraçados que se baseiam na situação insana em que as duas protagonistas se encontram.

 

Filme mescla ficção científica, terror e ironia cáustica

 

Além disso, o filme satiriza Hollywood e a indústria de filmes de uma maneira que só alguém com anos de experiência e raiva dentro do mundo da mídia como a diretora Caroline Fargeat conseguiria trazer. O longa expõe o quanto as pessoas no poder da mídia irão descartar atrizes simplesmente por ficarem velhas demais, como se tivessem um prazo de validade.

Também é exposto o quanto as pessoas estão dispostas a fazer tudo pela fama e atenção. Elizabeth Sparkle, mesmo já tendo alcançado glória e fama e não aceitando que isso passou, destrói sua vida e ignora qualquer outra coisa e pessoa. Embora alguns momentos de “body horror” do filme sejam aterrorizantes, o terror maior vem com a inevitabilidade do envelhecimento humano.

Concorrendo nas categorias de “Melhor Filme”, “Melhor Atriz”, “Melhor Roteiro Original”, “Melhor Direção” e “Melhor Maquiagem e Penteados” o filme conta com muita substância para o Oscar, sendo ótimo para quem quer conferir um dos filmes mais renomados de 2024 ou para quem curte uma mistura de humor, terror e crítica social. “A Substância” pode ser assistido na Amazon Prime Video, Apple TV e Mub.

Ficha técnica:

“A Substância” “The Substance (2024)
Reino Unido, Estados Unidos, França
Duração: 140 min
Direção: Coralie Fargeat
Roteiro: Coralie Fargeat
Elenco: Demi Moore, Margaret Qualley, Hugo Diego García, Dennis Quaid, Oscar Lesage, Joseph Balderrama, Gore Abrams, Matthew Géczy, Vincent Colombe.

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