“O Poço 2″, uma continuação necessária

Produção dá sequência ao clima de extrema opressão e aponta para as desigualdades sociais       

Por João Victor Figueiredo Fagundes       

O filme espanhol “O Poço” tornou-se um fenômeno global em 2019. Sua sequência, “O Poço 2” (“El hoyo 2”), lançado no ano passado na Netflix, retoma o conceito distópico e expande a narrativa para uma reflexão ainda mais profunda sobre desigualdade, sobrevivência e a complexidade das relações humanas. Dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia, o longa aborda questões sociais com uma crueza desconcertante, enquanto aprimora elementos técnicos e narrativos.

A trama se desenrola em um novo cenário dentro do poço, que agora revela níveis ainda mais subterrâneos, explorando o impacto de sistemas sociais opressivos em diferentes comunidades. A narrativa é pontuada por novos personagens que, assim como os do primeiro filme, estão presos à mecânica cruel da distribuição desigual de recursos.

Diferentemente do primeiro filme, “O Poço 2” investe mais tempo em revelar os bastidores desse sistema, proporcionando ao público uma perspectiva mais ampla da estrutura que rege o poço. Essa escolha adiciona camadas à história, permitindo uma reflexão mais profunda sobre as instituições que perpetuam desigualdades.

 

A cena clássica do racionamento dos alimentos para os presos dentro do poço  Fotos: Divulgação

 

O impacto do visual

Gaztelu-Urrutia mantém sua assinatura estilística, mas eleva o nível de sofisticação visual. A fotografia, assinada por Jon D. Domínguez, é marcada por tons sombrios e composições claustrofóbicas, que ressaltam a desesperança do ambiente. Em contrapartida, cenas que retratam momentos de resistência e solidariedade são banhadas por uma iluminação suave, sugerindo uma fagulha de esperança em meio à escuridão.

A direção também destaca performances intensas, com os atores entregando interpretações visceralmente autênticas. A câmera é usada como um meio de explorar a psicologia dos personagens, aproximando o espectador da complexidade de suas emoções e escolhas.

 

Perempuan (atriz Milena Smit) e Zamiatin (Hovik Keuchkerian) observam o nível inferior ao qual eles estão

 

Um espelho perturbador

“O Poço 2” se consolida como uma obra provocativa que transcende o entretenimento para se tornar um comentário social contundente. O filme faz uma crítica feroz às estruturas de poder e à dinâmica da desigualdade, abordando questões como a falta de empatia, o egoísmo humano e as consequências devastadoras de um sistema que privilegia poucos em detrimento de muitos.

A alusão à luta de classes é evidente, mas o longa também dialoga com temas contemporâneos, como a crise climática e a distribuição injusta de recursos naturais. É impossível assistir à obra sem refletir sobre as desigualdades do mundo real e o papel de cada indivíduo nesse cenário.

Uma sequência necessária

“O Poço 2” é mais do que uma sequência bem-sucedida; é uma obra que expande e aprofunda a proposta do original, consolidando-se como um marco na ficção distópica. Com uma narrativa envolvente, uma direção impecável e um impacto social significativo, o filme é uma experiência cinematográfica intensa e reflexiva. Para além do cinema, sua mensagem é um apelo urgente por mudança em um mundo cada vez mais marcado por desigualdades e injustiças.

Ficha técnica

Gênero: Terror, Ficção Científica

Direção: Galder Gaztelu-Urrutia | Roteiro Galder Gaztelu-Urrutia, David Desola

Elenco: Milena Smit, Hovik Keuchkerian, Óscar Jaenada

Duração: 1h 39min

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