50º Festa de Iemanjá reúne milhares de pessoas em celebração de cultura e religiosidade

Turistas e população local estiveram presentes para celebrar o Jubileu de Ouro com procissão luminosa e manifestações artísticas     

 

Por Isadora Jaeger e Maria Clara Goulart   

 

Público assiste a chegada da procissão luminosa à estátua de Iemanjá            Foto: Maria Clara Goulart

 

Realizada entre os dias 31 de janeiro e 2 de fevereiro no Balneário Cassino, a Festa de Iemanjá atingiu a marca de 50 edições, celebrando seu Jubileu de Ouro.  Considerado um dos maiores eventos religiosos do sul do Brasil, o evento reuniu milhares de devotos, turistas de diferentes regiões do país e moradores de Rio Grande para homenagear a Rainha das Águas.

A programação cultural do evento incluiu apresentações de grupos de maracatu, rodas de samba e capoeira, além de uma exposição fotográfica sobre a história da festa. Oficinas de turbantes e percussão também fizeram parte da agenda, promovendo conhecimento sobre a herança africana na cultura brasileira. Durante todo o evento, o Campo do Praião foi o principal ponto de encontro, abrigando uma feira de artesanato, apresentações musicais e manifestações culturais.

 

A mostra cultural de música ocorreu no Campo do Praião,  principal ponto de encontro   Foto: Isadora Jaeger

 

O ponto alto da festa é a tradicional procissão luminosa, realizada na noite de sábado. Os fiéis, juntamente da imagem da orixá, caminharam pela avenida Rio Grande até a estátua de Iemanjá, entoando cantos e levando oferendas e velas, em uma demonstração de devoção e espiritualidade que atraiu não apenas os religiosos, mas também o público em geral.

Luiz Arthur Telles, turista de Santa Catarina, que acompanhou a caminhada, destacou o impacto cultural da celebração. “Passo a temporada aqui no Cassino e a Festa de Iemanjá é um momento muito especial. É visível como a comunidade acompanha a procissão e participa do evento, seja dando alguma oferenda ou apenas assistindo, mesmo sem necessariamente estarem aqui por motivos religiosos”, comentou.

 

Fieis preparam as oferendas para a Rainha das Águas                   Foto: Isadora Jaeger

 

Para Pai Jorge de Xangô, líder espiritual, a celebração também é um ato de resistência contra o preconceito religioso. “Por muitos anos, nossos cultos foram marginalizados. Hoje, ver essa expressão de fé e cultura ocupando um espaço tão grande é uma vitória. A nossa religião também faz parte do Brasil, e momentos como este mostram a força da nossa tradição”, afirmou.

O fuzileiro naval Saulo Tavares reforça as palavras de Pai Jorge, destacando que, por muito tempo, essas manifestações não tiveram o reconhecimento e o espaço que conquistaram hoje. “É importantíssimo este evento ocorrer e tomar essa grande proporção. Por muitos séculos nossos cultos foram segregados, mas a verdadeira essência sempre prevalecerá. Hoje, a melhor maneira de demonstrar a resistência é levar a alegria de se viver livre, este era o sonho dos nossos antepassados”.

Saulo foi também um dos fieis que completou a tradicional peregrinação do Centro da cidade até a estátua de Iemanjá, percorrendo a ERS-734 e a BR-392. “É uma experiência única, em que se deve prestar atenção aos pensamentos, pois Iemanjá está em tudo e se faz muito presente. Participar deste momento significa reafirmar esses votos com a Mãe Geradora, ela que acolhe todos sem distinção”, ressalta Tavares.

 

Palco Principal recebe atrações na noite do dia 1º de fevereiro       Foto: Isadora Jaeger

 

Claudio Henrique Moraes, que participou pela primeira vez da caminhada, também relatou sua experiência. “Não pertenço à nenhuma religião, mas fiz uma promessa de que completaria o percurso a pé caso conseguisse me aposentar. Atravessar essa jornada foi emocionante e cansativo, mas traz um sentimento de orgulho”, relatou. Durante o trajeto, a Brigada Militar garantiu a segurança dos participantes e pontos de apoio ofereceram água e frutas aos peregrinos, bem como lugares com sombra e sanitários.

 

Público caminha pela ERS-734 até o Balneário Cassino        Foto: Giovana Costa/ Arquivo Pessoal

 

A relação da cidade de Rio Grande com o mar também se reflete na celebração de Nossa Senhora dos Navegantes, padroeira dos pescadores e navegantes. Comemorada no dia 2 de fevereiro, simultaneamente à Festa de Iemanjá, a santa católica também simboliza proteção e conexão espiritual com as águas, evidenciando a fé e devoção dos moradores com as forças do oceano, aspectos que têm grande valor cultural para a cidade do Rio Grande.

 

Fieis carregam imagem de Iemanjá durante procissão          Foto: Maria Clara Goulart

 

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