“Flores para Algernon”: Quanto pesa o conhecimento em uma sociedade desigual?

Através da ficção científica, obra faz uma crítica às ideologias capacitistas e preconceituosas      

 Por Ricardo Bandar       

 

 

Em seu romance de estreia, Daniel Keyes trabalha o preconceito e a vida de uma pessoa com deficiência intelectual em uma sociedade hostil. O livro “Flores para Algernon”, primeiramente publicado no ano de 1966, conta a história de Charlie Gordon: um homem de 32 anos de idade com um retardo mental grave. Ele vive seus dias trabalhando em uma padaria e escrevendo relatos em seu diário, até o momento em que passa a fazer parte de um experimento inédito de aumento de QI.

A obra aborda uma questão muitas vezes invisibilizada na sociedade, o capacitismo, neste exemplo específico, relacionado às pessoas com deficiência intelectual. O escritor traz situações degradantes pelas quais o protagonista vive no dia a dia, como “piadas” que o tratam como inferior, a falta de confiança das pessoas nas suas capacidades, a baixa paciência com os seus erros e a inexistência de respeito por ele.

A crítica social presente no livro é notável. A jornada de Charlie demonstra como a sociedade, inúmeras vezes, tende a marginalizar e desumanizar as pessoas com deficiência. Afinal, antes da cirurgia que iria aumentar o seu QI, ele é tratado como uma “coisa”, um objeto de piada e desprezo. A cada interação dele com outra pessoa, é revelado o preconceito enraizado nas atitudes dos indivíduos ao seu redor. O capacitismo é a discriminação e o preconceito contra pessoas com deficiência. O tema central enfatiza que a valorização de um ser humano, muitas vezes, depende de sua capacidade intelectual.

Conforme Charlie se torna mais inteligente, as suas relações mudam, mas também se complicam. Tornam-se evidentes para o protagonista as relações e interações baseadas em superficialidade que antes aceitava, bem como a fragilidade da felicidade ligada à aceitação social. Tudo isso resulta em questões importantes sobre o que realmente significa ser “normal” em uma sociedade incapaz de compreender o valor da empatia e da humanidade, em vez da mera conformidade às normas sociais e à valorização das coisas superficiais.

Dessa forma, “Flores para Algernon” é um convite à reflexão sobre como as pessoas com deficiência são tratadas, provocando uma nova interpretação sobre a humanidade. E evidencia como as concepções de inteligência e valor humano podem ser limitadas. A obra não apenas denuncia o capacitismo, mas também apresenta uma visão mais inclusiva e empática. O livro ressalta que a verdadeira dignidade e valor de uma pessoa não estão atrelados à sua capacidade de ser “normal” aos olhos da sociedade.

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