Conheça a história do Festival de Cinema de Gramado

Com uma trajetória de cinco décadas, evento se firmou como uma parada obrigatória do circuito de produções do audiovisual nacional        

Por Felipe Boettge e Jaime Lucas Mattos 

        

Entrada do Palácio dos Festivais, onde é realizado o festival    Foto: Cleiton Thiele/Agência Pressphoto/Divulgação

 

A 51ª edição do Festival de Cinema de Gramado foi realizada de 11 a 19 de agosto, sendo a principal premiação do cinema gaúcho e nacional. O grande vencedor deste ano foi o longa “Mussum, O Filmis”.

São cinco décadas desde a sua primeira edição, realizada em 1973. O evento nasceu como uma parceria entre a Prefeitura de Gramado, a Companhia Jornalística Caldas Júnior, a Embrafilme, a Fundação Nacional de Arte e as secretarias de Turismo e Educação e Cultura do Estado. Em sua primeira edição, esta realização foi oficializada pelo Instituto Nacional de Cinema (INC), tendo uma duração de quatro dias, durante o mês de janeiro.

Foi dessa forma que o evento, que se tornaria o mais prestigiado e ininterrupto festival de cinema, tomou forma. Entretanto, durante suas primeiras edições, as discussões a seu respeito  estavam envoltas em sensacionalismo e fofocas, algo que só foi transformado com o passar das edições. E o festival tornou-se um centro de debates sobre a cultura, a produção audiovisual gaúcha, brasileira e posteriormente ibero-americana.

Apesar das polêmicas e desvios do intuito principal, a celebração do primeiro ano premiou “Toda Nudez Será Castigada” (1972), de Arnaldo Jabor, como a primeira grande produção vencedora do prêmio de melhor filme.

Com a chegada dos anos 1980, o festival se concretizou como um encontro de cineastas, estrelas e pensadores do cenário audiovisual brasileiro e da América Latina. O evento, no entanto, sofreu com o processo político de desestruturação da indústria cinematográfica brasileira, especialmente durante o mandato de Fernando Collor, no inicio dos anos 1990, quando ocorreu o fim de Embrafilme.

Em agosto de 1992, o ano da internacionalização e inclusão do cinema ibero-americano no evento, a produção colombiana “Técnicas de Duelo” (1988), de Sergio Cabrera, ganhou o prêmio de melhor filme. Na mesma edição, Pedro Almodóvar, célebre cineasta espanhol, também foi premiado por sua direção em “Tacones Lejanos” (1991). A partir desse momento, as produções internacionais ganharam espaço dentro do festival e expandiram o escopo de pensamento dentro do festival.

 

Troféu Kikito 45º Festival de Cinema de Gramado em 2017         Foto : Diego Vara /Agência Pressphoto/Divulgação

 

E de todas as estrelas que já passaram por Gramado, uma em especial está sempre em destaque e marca presença em todas as edições desde sua primeira participação. O troféu principal da noite, o Kikito, começou como símbolo de boas-vindas da cidade de Gramado. Baseado no deus do bom humor e das energias positivas, foi idealizado por Elisabeth Rosenfeld e criado pelo artesão Orival da Silva Marques durante os anos 1960, posicionando a estátua em uma das entradas do município. Escolhido como estatueta do Festival de Cinema de Gramado desde a sua primeira edição, já foi inteiramente de madeira e posteriormente, passou a ser feito em bronze.

Observando todos esses pontos sobre o Festival de Gramado, nota-se que, em um contexto social que não valoriza o cinema nacional, termos um evento dessa dimensão é uma dádiva. A existência do festival joga luz ao cinema nacional, mergulhando nas diferenças e nas diversidades culturais que o nosso país pode apresentar.

Nestas 51 edições, o evento apresentou um grande repertório de filmes que foram destaque no festival e que também se destacaram no circuito tradicional de exibições em cinemas pelo País. Dentre eles, o festival deu holofotes a “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1977) e “Aquarius” (2016).

 

                         Abertura oficial da edição de 2023, com discurso liderado pela Ministra da Cultura, Margareth Menezes                      Foto: Edison Vara/Agência Pressphoto/Divulgação

Com uma gama enorme de filmes exibidos ao longo de cinco décadas, observa-se que o festival acompanha a história do cinema brasileiro, como evidencia, em entrevista ao próprio festival, o diretor paulistano Fernando Meirelles: “Se olharmos para a história do Festival, podemos saber como foi o nosso Brasil e o nosso cinema”.

Fato é que o Festival de Gramado, por ser realizado no Rio Grande do Sul, dá holofotes não só ao cinema nacional, mas ao cinema gaúcho. Os filmes do nosso estado ganham destaque no circuito de exibições, expondo produções independentes que comumente não circulam em salas de cinema tradicionais.

A existência do festival é importante também para a valorização dos cursos de cinema no Estado, dando atenção a filmes produzidos por alunos de diferentes universidades do Rio Grande do Sul, incluindo a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que todos os anos está presente com filmes de seus estudantes.

Premiados de 2023

 

          Filme vencedor pode ser visto nos cinemas a partir do dia 2 de novembro             Foto: Divulgação

 

O longa “Mussum, O Filmis”, que narra a trajetória de vida de Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, que integrou o programa de TV “Os Trapalhões”, foi o grande vencedor deste ano. Dirigido por Silvio Guindane, recebeu seis Kikitos: de melhor filme, melhor ator para Ailton Graça, melhor atriz coadjuvante para Neusa Borges, melhor ator coadjuvante para Yuri Marçal, melhor trilha musical, e melhor filme pelo júri popular.  A produção entrará em cartaz em 2 de novembro nos cinemas.

O festival também premiou os filmes “Tia Virgínia”, de Fábio Meira (melhor atriz, para Vera Holtz; melhor roteiro, Fábio Meira; melhor direção de arte, Ana Mara Abreu; melhor desenho de som, Rubem Valdés, e prêmio júri da crítica) e “Mais Pesado é o Ceú”, de Petrus Cariry (melhor direção; melhor fotografia, Petrus Cariry; melhor montagem, Firmino Holanda e Petrus Cariry, e prêmio especial júri, Ana Luiza Rios).

O documentário Anhangabaú, do diretor Lufe Bollini, recebeu o prêmio de melhor filme longa-metragem documental. 

PRIMEIRA PÁGINA

COMENTÁRIOS

Comments

comments