Em seu livro, a autora Martha Robles analisa histórias de grandes mulheres através dos tempos e as estruturas de poder entre os sexos
Por Hillary Orestes
“Mulheres, mitos e deusas” é uma obra da autora e socióloga mexicana Martha Robles publicada em 1966, mas que só ganhou tradução para o português recentemente, em 2019. A obra explora a figura feminina através dos tempos, em uma coletânea de histórias de figuras mitológicas e de mulheres reais, cujas histórias e obras transcenderam o tempo.
A autora utiliza uma linguagem clara e acessível para abordar tópicos complexos, o que torna a leitura do livro agradável e envolvente. Ela apresenta exemplos de deusas e heroínas de diferentes mitologias, como a deusa egípcia Ísis e a deusa grega Afrodite e analisa como esses arquétipos foram usados para transmitir valores culturais e morais, reforçando uma sociedade machista.
Durante a leitura, é possível entender como foi construída a visão da sociedade em torno da mulher e do seu papel social. Mais do que isso, a obra traz diferentes perspectivas sobre muitas das histórias que já conhecemos. Além disso, é uma ótima opção para os leitores que gostam de mitologia, com algumas histórias pouco conhecidas pelo público em geral.
E se engana o leitor que pensa que o livro é voltado apenas às mulheres. Já no início da leitura, em uma nota à edição brasileira, Martha diz que a obra é “Escrita por uma mulher, sobre mulheres e sua adjacência na história; mas não se dirige somente a elas. Narra e discute a grande aventura humana sob a ótica particular do olhar feminino.”
O livro é dividido em sessões: começando com as origens, a autora traz uma série de figuras mitológicas, como Lilith, Eva, Ísis e Afrodite. Na sessão “Da tragédia à história”, são retratadas mulheres como Circe, Medeia, Cassandra, Cleópatra e Hipátia de Alexandria, figuras conhecidas das mitologias e histórias grega e romana.
Outra parte do livro é voltada para mulheres cujas histórias estão relacionadas a narrativas românticas, como Dalila, Sherazade e Isolda. Enquanto na sessão seguinte, Martha se dedica ao mítico e encantado mundo das fadas, trazendo histórias sobre a Dama do Lago e Cinderela, por exemplo.
A coletânea não se limita a personalidades fictícias. A sessão “Rainha” traz nomes como de Catarina de Médici, Elizabeth I e Cristina da Suécia. E é, através delas, que a autora relata algumas histórias reais de mulheres poderosas. Logo depois, a autora passa pelo sagrado e pela religiosidade através de Melinche, da Virgem Maria e das “Nossas senhoras” das Mercês, de Guadalupe, de São João, de Zapopan e da Saúde, além de figuras como Teresa de Jesus e Sóror Juana Inés de la Cruz.
Por último e não menos importante, a última sessão de Mulheres, mitos e deusas é voltada para grandes nomes de ativistas e escritoras, trazendo autoras como Virginia Woolf, Simone de Beauvoir e Djuna Barnes.
Em geral, “Mulheres, mitos e deusas” é uma leitura enriquecedora para quem está interessado em mitologia e no papel das mulheres na história e cultura. O livro traz uma perspectiva importante e bem fundamentada sobre as relações entre gênero e mitologia e pode servir como uma inspiração para mulheres que buscam se conectar com as raízes espirituais de sua cultura.”
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