Voltado para reforçar raízes culturais, Festival Cabobu convidou público para as ruas de Pelotas no fim de semana
Por Thierri Cunha
A cidade de Pelotas recebeu com maestria o Festival Cabobu, conhecido como a festa dos tambores, nos dias 21, 22 e 23 de abril no Centro Histórico do município. O cenário para celebrar a cultura negra local e suas forças se dividiu entre o Largo Edmar Fetter, Praça Coronel Pedro Osório, Bibliotheca Pública Pelotense e a Secretaria Municipal de Cultura.
Em sua terceira edição, ao longo dos três dias, o público pode contar com diversos shows, oficinas, rodas de conversa e muita valorização da cultura negra pelotense. Como se sabe, Pelotas é uma cidade com um histórico marcado, desde a sua fundação, pela mão de obra escravizada, exemplificada pelas charqueadas e uma economia dependente do trabalho escravo. O evento surge como um respiro nesse processo histórico e o contexto que costumava inviabilizar pessoas negras. No último final de semana, o que se viu ao passar pelo Centro Histórico da cidade foi uma imagem diferente.
Pessoas negras sentiram-se contempladas ao sair de suas casas e ir resgatar um pouco mais da sua história na cidade, assim como serviu para um momento de descanso e entretenimento, de descoberta da cultura e dos ritos presentes na cultura negra, que nem sempre são abordados.
No palco principal, ao longo dos dias de evento, as apresentações de dança reforçaram esse cenário afirmativo. A Companhia de Dança Daniel Amaro, comandada pelo coreógrafo que faz um trabalho importante na cena local, voltado para as danças de matriz africana, mostrou o que vem sendo feito pela valorização da cultura negra.
Músicos e artistas importantes da cidade também foram chamados para prestar seu manifesto à população. Nos embalos do R&B, as DJs Vânia e Vanessa, DJ Helô, Xavabanda, Grupo Renascença e Mano Rick comandaram as pick-ups e mostraram para o público mais sobre a população negra aqui presente por meio do que fazem com excelência, a arte musical.
No salão principal da Bibliotheca Pública de Pelotas, intitulado para o evento de “Espaço Mestra Griô Sirley Amaro”, houve debates sendo encabeçados por pensadoras, pesquisadoras e figuras representativas na cidade quando se diz respeito à comunidade negra. Nomes como Ledeci Coutinho, Carla Ávilla, Ìya Sandrali de Oxum, Babalorixá e André de Jesus, falaram sobre temas como as charqueadas pelotenses, políticas de ações afirmativas, relações de gênero e demais temas que contribuem para o avanço da sociedade como um todo.
“É um evento muito incrível e, principalmente, para a comunidade pelotense como um todo, mostrando o que tem de melhor e feito pela comunidade preta. Eu estou realmente adorando e participei de todos os dias de evento”, conta Larissa Silva, estudante de Economia na Universidade Federal de Pelotas.
Reforçando ainda mais a cultura local, a Secretaria Municipal de Cultura de Pelotas foi palco para abrigar obras de diversos artistas residentes da cidade, como por exemplo da artista plástica e expositora Edilane Dutra. “O Festival Cabobu trouxe a oportunidade de a gente participar da feira e também da exposição na Secult com pinturas em tela. Gostaria de agradecer pela organização e pela proposição desse festival em sua terceira edição. E nós, expositores, torcemos para que não pare”, fala.
No mesmo local um destaque foi a exposição “Giba Giba – Guardião do Sopapo”, uma homenagem ao inspirador para a realização do evento. A mostra apresentou objetos, fotografias, roupas e adereços usados nos shows, resgatando uma parte da história do músico que lutou pela memória da música negra e é o grande inspirador do evento.
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