Mesmo sem trazer grande apelo emocional, livro comove ao narrar com detalhes experiência vivida por seis sobreviventes do ataque nuclear
Por Ana Beatriz Garrafiel
Um clarão silencioso. Segundo depois, um barulho estrondoso. Após, uma nuvem de poeira e somente destruição. Esse foi o cenário descrito por John Hersey, quando aproximadamente 77 mil pessoas perderam suas vidas, e outras tantas ficaram com sequelas para sempre. O livro “Hiroshima” acompanha e narra a história de seis sobreviventes da bomba atômica, lançada pelos Estados Unidos nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em 6 e 9 de agosto de 1945, respectivamente.
Com um texto mais objetivo e direto, bem característico do chamado Novo Jornalismo (gênero jornalístico/literário do qual Hersey era um dos principais representantes), a obra traz, aos mínimos detalhes, o cenário antes do atentado. Descreve onde cada um dos sobreviventes estava no momento da explosão e tudo aquilo que eles viveram após a tragédia, até 40 anos depois.
Mesmo sendo seis pessoas distintas, com histórias diferentes acontecendo ao mesmo tempo, o livro consegue manter uma narrativa que flui e não deixa o leitor perdido. Na verdade, muito pelo contrário. Apesar de não trazer um apelo emocional muito grande, o livro é capaz de nos envolver e nos conscientizar sobre o que realmente aconteceu naquela cidade japonesa rodeada por belas ilhas e com um futuro próspero, mas que se tornou símbolo de uma das maiores destruições já presenciadas pelo ser humano.
Apesar de sua edição mais recente ter sido lançada há 20 anos, a obra ainda é considerada um clássico atemporal. E não é à toa. “Hiroshima” é uma aula de conhecimento, de humanidade e, principalmente, de empatia. Nos faz entender (ou pelo menos achar que entendemos) o que é perder seus entes queridos, seus amigos, seus objetos pessoais, sua terra natal, sua história. E, quanto mais lemos, na verdade, mais desejamos nunca precisar entender o horror e o sofrimento que aquelas seis vidas ali contadas passaram.
O autor
John Hersey, apesar do nome americano, nasceu em Tianjin, na China, em 17 de junho de 1914. Filho de missionários, retornou aos Estados Unidos com dez anos, onde formou-se jornalista e começou a trabalhar para revistas renomadas, como a Times. Cobriu grandes confrontos, como o de Sicília e a Batalha de Guadalcanal, mas obteve maior êxito e reconhecimento em 1946, após lançar o artigo “Hiroshima” na The New Yorker, narrando a vida de seis sobreviventes da bomba atômica. Entre alguns de seus trabalhos mais notáveis estão “A Bell for Adano”, livro de ficção que o trouxe um Prêmio Pulitzer, “Men on Bataan” e “Into the Valley”. Faleceu em 24 de março de 1993, aos 78 anos.
COMENTÁRIOS
Você precisa fazer login para comentar.