Por Julya Bartz Boemeke Schmechel
Há oito anos nasceu a companhia que atua em São Lourenço do Sul e Porto Alegre
Não dá para negar: o teatro é uma das artes mais bonitas e originais que existem. Através das peças, os atores contam histórias que despertam no público os mais variados sentimentos. E com a popularização de plataformas de streaming, principalmente durante a pandemia, é fato que o teatro foi diretamente abalado. Mas esta arte segue viva e com cada vez mais força para levar cultura às pessoas. É o caso da Misenscene Arte e Cultura, empresa com foco na arte teatral que atua principalmente em São Lourenço do Sul e Porto Alegre.
Formado em licenciatura em teatro pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Lucas Lopes é criador, diretor e professor da Misenscene Arte e Cultura. A história começou em 2014, com a ideia de criação que surgiu dentro do ônibus na capital do estado (local onde mora atualmente).
Lucas, que é natural de São Lourenço do Sul, conta que o início aconteceu com alguns conhecidos de Porto Alegre que já faziam teatro. Para o elenco de apoio, foram convocados alguns membros de sua família, que tinham interesse pela arte. E foi assim que a companhia começou a caminhar: com dois grupos – de São Lourenço e Porto Alegre – que se uniram em uma mesma peça, que teve sua estreia realizada no município lourenciano. “Eu trabalhava como ator em uma companhia e percebi que queria mesmo dirigir, ter essa oportunidade de montar os espetáculos, de escolher a peça que eu iria trabalhar […] Sempre foi um desejo meu e foi aí que despertou o início da Misenscene”, explica.
Planejamento das peças
Lucas conta que o “carro chefe” da Misenscene são peças para o público infantil, pelas quais eles realizam adaptações de histórias clássicas e as transformam em espetáculos.
Ele ainda explica que o processo de montagem acontece a partir de três tópicos importantes:
1 – O seu interesse próprio, como diretor, em montar um espetáculo.
2 – O interesse do elenco em atuar no espetáculo.
3 – O provável interesse do público em assistir ao espetáculo.
Ao unir os três tópicos, é possível realizar o planejamento. Mas, em algumas situações, é necessário adaptar os espetáculos para conseguir realizá-los. Lucas explica que, em São Lourenço do Sul, a Misenscene não possui um espaço físico fixo para as apresentações, portanto não é possível ficar em cartaz por meses com uma mesma peça, como seria o ideal. Neste caso, é necessário ter uma demanda grande de cada mês para poder apresentar as peças.
Os ensaios das peças também são bem planejados e intercalados, ocorrem sempre de acordo com a disponibilidade do elenco.
Sobre a criação das peças, Lucas explica que os espetáculos infantis geralmente são adaptações de clássicos, enquanto as peças adultas são criações próprias. “Até agora, as peças adultas têm só duas adaptações. Dois textos que peguei de outros autores e eu criei em cima deles. Mas a maioria é criação minha”.
O elenco da Misenscene ainda pode participar da parte de criação: “Estou sempre aberto às sugestões do elenco. É bem livre, cada um pode trazer propostas”. Ele ainda conta que já criaram algumas peças para maiores de 18 anos, que abordam assuntos como racismo, xenofobia, LGBTfobia e violência doméstica. O próprio elenco propôs os temas que queriam que fossem debatidos nas peças.
O teatro e a pandemia do coronavírus
A pandemia modificou a vida de todos e obrigou o mundo a se adaptar ao digital. Lucas conta que estes quase dois anos parados foram utilizados para criar projetos, realizar ensaios online e discutir textos. Além disso, a Misenscene fez algumas vídeo-performances, além de cursos gratuitos para manter vivo o interesse pelo teatro.
O lado negativo foi o tempo longe do público, sem manter a rotina de apresentações em São Lourenço e Porto Alegre à qual estavam acostumados. A Misenscene perdeu um pouco do público e alguns dos poucos membros do elenco. Além disso, sem os espetáculos, não havia a renda a partir das apresentações.
Lucas também pontua como as plataformas de streaming balançaram a Miscenscene: “Apesar de serem coisas completamente diferentes, tivemos que “competir” com plataformas de streaming, por exemplo. Muitas famílias criaram o hábito de ligar a Netflix principalmente para os filhos e perderam o pique de sair de casa para assistir uma peça”.
Como lado positivo, Lucas cita a possibilidade de realizar ensaios virtuais e não perder o ritmo. Foi uma adaptação necessária e que se tornou benéfica, principalmente para o elenco de Porto Alegre.
A arte teatral no município de São Lourenço do Sul
São Lourenço do Sul é um município com cerca de 43 mil habitantes, conhecido principalmente pela beleza de suas praias e a receptividade dos moradores. Mas quando se fala em cultura, será que o munícipio é receptivo com o trabalho de artistas locais?
Lucas explica que a primeira dificuldade que encontram em São Lourenço é a falta do espaço próprio para apresentações, como dito anteriormente. A Misenscene aluga espaços dentro do município para realizar suas apresentações, mas não possui um local fixo, o que dificulta o trabalho. Quanto à receptividade dos moradores, Lucas afirma: “Da parte do público foi um processo bem complicado… A gente teve que “educar” o público para assistir teatro. Foi aos poucos, foi através de oficinas de teatro que eu dava, foi todo um processo de mostrar o que é o teatro, porque São Lourenço teve pouca referência”. Além disso, o criador da Misenscene explica que falta apoio e incentivo do poder público aos artistas locais. Existe o interesse no teatro, mas busca-se por apresentações que sejam realizadas de maneira gratuita.
“Muitas vezes, o poder (público) não investe em algo diferente para incentivar. E outra coisa: São Lourenço não tem um incentivo aos artistas locais. O que é de fora é bom, mas quando é do local, não. Muitas vezes contratam profissionais de outras cidades quando temos ótimos artistas aqui”.
Quem pode entrar para a Misenscene?
Para participar do elenco, Lucas reforça que o enfoque da Misenscene é escola de teatro, o que significa que eles estão disponíveis para ensinar a arte do teatro para quem está disposto a participar. “Às vezes eu oferto cursos gratuitos. Se a pessoa tem interesse em entrar para o teatro, eu faço um mês de curso ou ‘ensaios-cursos’, nos quais dou um pouquinho de curso no dia e, nesse mesmo dia, a gente faz um ensaio voltado para uma peça que vai estrear”. Desta maneira, os alunos têm a possibilidade de ensaiar na prática, tendo a chance de fazer uma apresentação para o público real.
Lucas explica que as portas da Misenscene estão sempre abertas, principalmente para quem está realmente interessado na arte do teatro.
Planos para 2022
Segundo Lucas Lopes, 2022 já está sendo um ano de recomeços: “Iniciamos o ano arrumando o nosso logo, antes o nome era “Companhia Teatral Misenscene” e agora somos “Misenscene Arte e Cultura”.
Atualmente estão apresentando peças em São Lourenço do Sul e Porto Alegre com frequência, mas já passaram (e ainda vão passar) por cidades como Canoas e Teutônia.
O foco para 2022 é realizar projetos voltados às escolas, para que as crianças tenham acesso à arte teatral. Nestes projetos, Lucas explica que geralmente é cobrado um valor baixo para que todos os alunos possam assistir aos espetáculos e que recomecem as aulas com mais ânimo.
Ele finaliza reforçando a importância de manter a arte viva e espalhá-la por todos os lugares, principalmente nas escolas: “O que a gente luta mesmo é pela arte e a cultura. E sendo mais preciso, a cultura e a educação tem que andar juntas”.
Para conhecer mais sobre a Misenscene, acesse as redes sociais Facebook e Instagram.
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