Por Ana Beatriz Assunção Garrafiel
Diretor e ator do grupo relata o funcionamento, a produção e as dificuldades no seu dia a dia
É impossível falar da história do mundo e não citar o teatro. Ele acompanha a civilização desde muito antes do que podemos imaginar, e sempre serviu como uma forma de expressar sentimentos, crenças e pensamentos. Pelotas, cidade conhecida por muitos como um polo cultural, abriga diversas companhias de teatro independente e cede espaço a peças e encenações que encantam e enriquecem ainda mais a história da cidade e de seus habitantes.
Porém, nem tudo é glamour. Apesar de ser uma arte muito reconhecida e estimada, o teatro, principalmente a modalidade independente, encontra diversas dificuldades para sobreviver em meio a uma desvalorização e não apreciação dos artistas. Para dar maior apoio aos atores e propagar a beleza da quinta arte, é preciso conhecer um pouco mais sobre as companhias e quem faz parte dela.
O ator e diretor Lucas Ribeiro Galho, da companhia Coletivo MeiaOito, diz ‘’que o público, principalmente o pelotense, é essencial para o desenvolvimento de grupos independentes na cidade’’. Nascido em 2017, o coletivo atualmente conta com quatro integrantes e possui dois espetáculos em produção. ‘’Sempre qualquer pessoa do grupo pode chegar e propor uma encenação. Aí ela é votada pelos integrantes [do grupo] e é aceita ou recusada’’, explica.
Os participantes do grupo fazem toda a produção das peças e propõem ideias para as montagens, além, claro, da sua própria atuação. Mas também podem chamar pessoas de fora do grupo para participarem e ajudarem na parte de figurino e dramaturgia, além da parte mais técnica, como iluminação. Lucas também explica que os temas das encenações do grupo são geralmente focados na dramaturgia mais recente: ‘’Geralmente as ideias que abordamos em nossos espetáculos vêm da realidade contemporânea, de como os jovens adultos percebem as relações e como percebemos a política, coisas que nos afetam diretamente, mas não de uma forma panfletária’’.
O grupo prefere abordar esses temas de forma humorística, mas sempre com um tom realístico: ‘’Trabalhamos muito com o humor enquanto forma de demonstrar e escancarar algumas coisas que, muitas vezes, não percebemos, ou que percebemos, mas não refletimos sobre’’, explica.
Apesar de trazerem temas reais e necessários em forma de arte, a companhia enfrenta diversas dificuldades por conta da falta de espaço e incentivo. Galho ainda completa: ‘’Muitas vezes, os artistas dos grupos têm que desenvolver outros tipos de trabalho para conseguir realizar a prática artística, justamente por não ter um espaço formal de trabalho, sem remuneração mensal. Isso é uma grande dificuldade que temos’’. O Coletivo MeiaOito, assim como muitos outros coletivos independentes, produz espetáculos com seus próprios meios, sem apoio público ou privado: ‘’Às vezes conseguimos recurso privado, porém tudo pontual, nada contínuo’’.
Lucas ainda aponta outro fator que vem observando há algum tempo por parte do público e dificulta a sobrevivência das companhias: ‘’Existe uma certa resistência do público pelotense a pagar por espetáculos locais. Geralmente, espetáculos de fora têm maior público pagante’’, completa. Para ele, o apoio dos espectadores é essencial, pois ‘’se não há quem veja as peças, as companhias perdem a sua finalidade, que é o encontro com o público’’, comenta o ator.
Não se precisa ir muito longe para descobrir diversos talentos prontos para serem explorados, mas que, por falta de incentivo, não possuem oportunidade de crescer e expandir ainda mais. Apoiar artistas locais é essencial para o desenvolvimento não somente destes, mas também do enriquecimento cultural de uma região. ‘’Acreditamos que a arte é uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de uma identidade cultural, pessoal e coletiva de uma região. A arte é fundamental para uma cidade se desenvolver de uma forma mais democrática’’, finaliza Lucas.
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