A resistência do cinema gratuito da UFPel

Por Gabriella Cazarotti   

Espaço universitário para filmes artísticos funciona desde 2015 voltado à comunidade

Projeto tem a missão de levar a produção cinematográfica relevante para toda a sociedade

A Sala Universitária de Cinema da UFPel é motivo de orgulho para Cíntia Langie. Professora dos cursos de Cinema e Audiovisual e de Cinema de Animação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), ela também coordena o projeto de extensão Cine UFPel.

O Cine UFPel é uma sala de cinema que foi constituída por iniciativa dos docentes do Colegiado dos cursos de Cinema do Centro de Artes através de um projeto de extensão.

No período pandêmico vivido coletivamente pelo planeta, a sala de cinema precisou se adequar às exigências de distanciamento social, portanto permaneceu fechada durante vários meses. Mas o que uma sala de cinema coletiva e pública representa não pode ser esquecido, e a história do Cine UFPel merece ser contada. Para isso, entrevistamos a professora Cíntia Langie. 

Arte no Sul: Como surgiu o Cine UFPel?

Cíntia: Em 2012, a gente sentiu a necessidade e o mundo estava confluindo para que fosse possível ter um laboratório de exibição. Era uma necessidade ampliada de ter um espaço para que os estudantes pudessem entender como funciona a exibição em uma sala de cinema de verdade: uma sala escura, com pisos inclinados, poltronas reclináveis, paredes pretas, telas grandes e som bom.

Arte no Sul: As exibições começaram imediatamente em 2012?

Cíntia: Em uma universidade pública, nem sempre todas as coisas são prontamente atendidas, então ficamos de 2012 a 2015 nessa gestão interna, entre diálogos com reitoria e a participação de alunos confabulando esse projeto. A sala mesmo passou a operar em 2015, na nossa primeira exibição.

O Cine UFPel existe desde essa época no mesmo espaço físico, sempre com a mesma meta: oferecer cinema de qualidade, tanto de produção quanto de programação. Além da qualidade, a gratuidade. Isso é muito importante quando se fala de extensão. O objetivo é levar cinema de graça para o público interno e a comunidade externa, que carecem de um espaço para discutir um cinema artístico.

Arte no Sul: O cinema e a arte dependem muito das pessoas, da coletividade. Como o Cine UFPel enfrentou o período de pandemia?

Cíntia: Essa é a parte complicada. Tem sido tenso esse momento geral no mundo inteiro, não só com a pandemia, mas também com essas ondas desses governos neofascistas. Há não só um descaso, mas um projeto de desmanche da educação e da cultura no Brasil.

Para as salas de cinema, esse período de pandemia foi um horror. A crise do setor é imensa. No projeto do cinema, tivemos que nos adaptarmos para seguir com os projetos culturais, e seguir a tendência geral da pandemia: realizar ações on-line

Se é que tem alguma coisa que a gente podia aproveitar do on-line, é trazer pessoas que não poderiam vir por serem de outras cidades. Então fizemos mostras de cinema com convidados de diferentes partes do Brasil. [Houve a Mostra Cinema Coletivo, a Mostra Virtual e o Festival Levante durante a pandemia.]

Mostras e encontros virtuais foram solução encontrada para o período da pandemia

 

Arte no Sul: Como ocorreram essas mostras?

Cíntia: Teve uma mostra com ex-alunos. Então os nossos alunos se formam aqui na UFPel e voltam para suas cidades, seja São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia ou Recife. A gente fazia mostras com curtas e realizava debates com eles.

Depois tivemos uma mostra voltada para Pelotas, o Cine UFPel Convida. A gente trouxe alguns coletivos da cidade para que eles escolhessem o filme. Convidamos a Usina Feminista, Bem da Terra, Grupo Também. Então a gente teve coletivos de cunho social da cidade que escolhiam os filmes e depois nós debatíamos sobre o filme. 

Arte no Sul: Como você interpreta o papel de um projeto de arte como o Cine UFPel para a comunidade?

Cíntia: É uma dupla missão. Fazer a arte chegar ao público brasileiro. As pessoas hoje vivem dentro de uma bolha de produtivismo, há uma dificuldade em manter-se no mundo capitalismo e elas não têm hábito, cultura ou tempo para usufruir de bens culturais, e isto é um problema histórico no nosso país. Essa é nossa grande missão, fazer a arte chegar ao grande público, não só àqueles que já gostam de cinema.

A segunda missão é entender cada vez mais o perfil da universidade que leva seus saberes para a comunidade de uma forma mais ampla. São coisas difíceis, pois é uma questão estrutural. A universidade ainda é elitista, muitas pessoas não se sentem pertencentes em alguns espaços. A população em geral, muitas vezes, passa no Theatro Guarany ou no Theatro 7 de Abril e, mesmo que houvesse algum espetáculo gratuito, não se sente convidada a entrar nesse espaço. É uma missão para a vida toda.

Links

As Mostras de Cinema do Cine UFPel podem ser assistidas pelo Youtube e as atividades da sala podem ser acompanhadas pelas redes sociais do projeto.

Conheça, por exemplo, a importância da parte elétrica na produção de filmes no debate com a chefe eletricista Carol Zimmer, na Mostra Cinema Coletivo #4. 

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