Por Vitor Valente
O último cinema de calçada da região, no Cassino, não resistiu ao longo período fechado devido à pandemia
“Tenham todos e todas um ótimo filme, porque vocês e o Cassino merecem”. Não há quem tenha passado pelo Cassino e pelo Cine Dunas que não reconheça o mantra repetido vigorosamente ao início de cada nova sessão. A história do casal de professores Janete Jarczeski e Cleyton Abreu, fundadores do cinema, ajudou a moldar a cultura da cidade do Rio Grande. A oportunidade de vivenciar uma experiência cinematográfica livre dos grandes centros comerciais, como os shoppings, sempre foi um deleite para os cinéfilos da cidade. O tempo criou laços tão fortes com a comunidade, tanto é que as mobilizações em apoio financeiro à instituição mantiveram o Cine Dunas vivo por mais de um ano, mesmo que sem a magia da sétima arte em sua tela.
No dia 2 de maio de 2021, a esperança de dias melhores deu lugar a um sentimento agridoce de orgulho pela história construída combinado com a tristeza pelo inevitável fim. “A ousadia foi a marca da boniteza da história do Cine Dunas. Nessa caminhada houve momentos prósperos e difíceis e quem acompanhou um pouco, ao menos, sabe do esforço e da criatividade para superar os obstáculos”, afirmou a orgulhosa equipe na nota de despedida. Ainda que a pandemia, a ascensão do streaming e as grandes redes de cinema tenham abreviado a história, o diferencial de um pequeno cinema de rua, criado pela ousadia de um casal apaixonado pela arte e pela cidade em que vivem, está na relação humana com a comunidade que participou ativamente da história do primeiro ao último segundo. Porque o Cassino merecia, merece e mereceu.
Ao longo da carta de despedida, os proprietários destacam a paixão que sempre os moveu para manter as atividades do Cine Dunas, mas ressaltam a necessidade de tratar a situação de uma forma racional. “A lucidez que nos move nesse momento, nos inunda de gratidão infinita pela amorosidade recebida da comunidade e pelo reconhecimento da trajetória do Cine Dunas, bem como de todo apoio e generosidade despendidos. Essa mesma lucidez nos aponta que é a hora da razão tomar cena”, destacam.
O Cine Dunas passa a viver na memória daqueles que tiveram o privilégio de caminhar pela calçada da Avenida Rio Grande, esquina com a Rua Uruguaiana, no Cassino, e adentraram em um mundo mágico em que a paixão pela cultura importava mais do que qualquer outra coisa. Além disso, será construído um memorial dedicado ao cinema no Campus Carreiros da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), que recebeu a doação de parte do acervo. “De certa forma nos sentimos com o coração apertado, por ter essa decisão de não mais reabrir o cinema devido à conjuntura atual no país, mas ficamos confortados em saber que ele está sendo recebido com muito carinho, zelo e responsabilidade. Isto nos alegra”, declarou Janete Jarczeski.
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