Por Carolina Amorim
Projeto voltado à comunidade resultará em criação de documentário sobre produções e manifestações da zona oeste da cidade
O projeto “Cultura da Zona Oeste: a comunidade e sua arte” apresenta a voz da periferia com oficinas on-line para a criação de um documentário. Desenvolvido através do edital Procultura, da Secretaria de Cultura de Rio Grande, a ideia do projeto é promover gravações audiovisuais a partir do ponto de vista da periferia. Os protagonistas são a própria comunidade Moradores interessados estão sendo convidados a participar.
A instituição E.E.E.M Professor Carlos Lorea Pinto carrega um vínculo cultural que desperta o interesse não só dos alunos, como também da comunidade. Em 2019, os alunos iniciaram o “Jornal dos Negão” – o qual teve sucesso e desencadeou a criação do Laboratório de Ciências Humanas (LABTECH). No mesmo ano, a equipe decidiu concorrer a um edital público para fins de verbas educacionais e o resultado foi o início do projeto Cultura da Zona Oeste.
Por causa da pandemia iniciada em 2020, no Brasil, vários projetos como este sofreram atraso. No ano de 2021, porém, iniciam as atividades de uma maneira antes não esperada: on-line.
Vale ressaltar que com a vitória lá em 2019 no edital Procultura, a escola começou a procurar mais editais para concorrer. Como resultado de grande esforço, a Tropa Dark Side- outro projeto que faz parte da instituição, venceu o prêmio da Central Única de Favelas (CUFA), no valor de cinco mil reais, em nível estadual. Esta outra proposta permite aos alunos diversas atividades, como eventos geek e oficinas multidisciplinares.
*Leia também – Tropa Dark Side: a cultura geek como educação
Já na Cultura da Zona Oeste a história não é diferente, mas o foco é mais abrangente: a periferia. De acordo com o professor de história Felipe Nóbrega, a Tropa Dark Side é uma inspiração e exemplo sobre a importância da participação dos alunos como protagonistas das atividades. A criação de artes, fotografia, design, assessoria partem deles e esta é uma troca importantíssima.
“O projeto que existe só na cabeça do professor dificilmente ganha continuidade, pois vai sempre faltar a troca, a necessidade de deixar que esse mesmo projeto também caminhe de um jeito que nem sempre nós vamos ter o “controle”, daí a importância sempre da autoria dos alunos ser reconhecida em um processo continuado”, comenta Felipe.
O projeto conta com a colaboração tanto dos participantes quanto da equipe fundadora. Na execução das oficinas, não há uma separação, a ideia é unir saberes e pessoas para um bem maior: mostrar a voz da periferia.
Oficinas
“O centro tem que olhar e ir para a periferia, e ver que lá se produz muita coisa, e muita coisa de qualidade por pessoas que há anos estão na batalha”, afirma o professor Felipe Nóbrega.
As oficinas ocorrem via chamada de vídeo e são convidadas pessoas de diferentes áreas para tratar sobre o tema abordado. Mestre Toiço (fundador do grupo rio-grandino de Capoeira Berimbau de Ouro) e Sandrinha (coordenadora do grupo de rap gospel “Mente sem Limite” da Zona Oeste) são exemplos de convidados que participaram das oficinas.
A jornalista e doutoranda em educação ambiental (FURG/USP), Rachel Hidalgo, é responsável por ministrar o tópico de Educomunicação. Ela também vai produzir, através da produtora Preamar, as gravações do documentário.
De acordo com a equipe do projeto, estão sendo ofertadas oficinas de Educomunicação, Comunicação Comunitária e Produção Musical, que servem para ampliar a capacidade de expressão dos participantes antes das gravações do documentário.
Por causa do trabalho e outras atividades que cada participante possui, o ex-estudante da escola, Matheus Marques, teve a ideia de gravar as oficinas e publicá-las no Youtube. Segundo ele, esta foi uma maneira de não haver desistência e que qualquer pessoa possa ter acesso a qualquer momento o material.
Equipe
A representatividade do projeto chamou a atenção da ex-estudante Rayane Castro não só pelo enfoque, mas também pelas pessoas que fazem parte.
“Quando vi esse projeto sendo anunciado no status do Felipe, pensei que seria super importante contar a história da Zona Oeste com uma visão da própria Zona Oeste, sem serem pessoas de foras contando algo”, comenta Rayane
Para Matheus, a distância não impediu de colaborar com o projeto. Conhecido por suas edições de vídeo, DJ e youtuber, Felipe Nóbrega convidou o ex-estudante a ajudar no desenvolvimento e divulgação do projeto.
Igor Afonso, ex-estudante da escola Carlos Lorea Pinto e agora produtor musical da Zona Oeste, afirma ter sido incentivado pelo professor Felipe Nóbrega a participar por causa de sua afinidade com a música. Ao ser questionado sobre a importância que a Cultura da Zona Oeste tem para a comunidade, ele pontua que está muito interligada ao papel social:
“Hoje tem muitos jovens criativos que acabam se perdendo com drogas ou más companhias. Acredito que seja por não terem acesso à informação do que eles querem fazer e também por falta de incentivo. Eles acabam encontrando outros meios para ‘gastar’ o tempo, já que não têm esse acesso à arte.”
Apaixonado pela música desde cedo, Igor estuda e trabalha há quase cinco anos sobre produção independente. Ele frisa que informações sobre música são muito escassas e, por isso, viu também a Cultura da Zona Oeste como um meio de divulgar um tema tão relevante culturalmente: a arte na música. Em sua área, ele afirma: “Vou me disponibilizar para fazer o melhor conteúdo para quem tem interesse em iniciar na produção de música.”
Documentário
Sendo orientado pela Educomunicação e Comunicação Comunitária, o documentário é sobre manifestações e produções da Zona Oeste e tem o objetivo de unir e dialogar sobre narrativas a partir do ponto de vista da comunidade e apresentar à população rio-grandina.
“O Cultura da Zona Oeste não está à margem, ele é o centro de uma outra história que precisa ser contada”, diz Felipe Nóbrega.
Ainda não se tem uma previsão concreta sobre as gravações para o documentário. Conforme Matheus Marques, há oficinas para serem ofertadas que explicam como funciona um documentário. Devido à pandemia, ainda não se sabe também sobre o lançamento e isso será pensado mais para frente.
Inscrições
Com a intenção de formar “Jovens Mediadores Culturais”, como são chamados pelos colaboradores do projeto, a participação é livre. Segundo Felipe, a faixa etária prioritária é de 12 a 23 anos, mas caso alguém não esteja inserido nesta idade e queira fazer parte da Cultura da Zona Oeste, pode chamar na DM do Instagram.
Lembrando aos interessados que não só basta ter interesse em colaborar, mas também ter ideias a partir do ponto de vista sobre a comunidade da Zona Oeste.
O projeto “Cultura da Zona Oeste: a comunidade e sua arte” não se trata apenas de produções, mas de narrativas vindas da periferia. São histórias que precisam ser contadas e não esquecidas. A colaboração e o esforço de cada um apresentam um sentimento de fraternidade em tempos de distância.
Para mais informações sobre o projeto acesse este link.
O acesso direto para a página do Facebook pode ser feito por este link.
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