Bastidores do Festival Levante

Por Thiago Lehn

Em entrevista, organizadores contam como foi processo de realização do evento

Os estudantes João Fernando Chagas e Rubens Fabricio Anzolin viram na sua faculdade de Cinema, na cidade de Pelotas e na pandemia a oportunidade de criar o Festival Levante. O evento on-line no Youtube trouxe a produção estudantil e independente para apreciação de um público que consome cinema brasileiro. Para entender como foi o processo desde a ideia inicial até as tratativas práticas da realização do evento, acompanhe a entrevista com os diretores e produtores do festival. Eles responderam às perguntas conjuntamente por e-mail.

João Fernando Chagas conta detalhes sobre empolgação antes e depois do Festival

Como foi realizar a primeira edição durante a pandemia? Foi uma escolha, já que no ambiente virtual dá para trazer pessoas de fora, ou só rolou mesmo?

É uma sensação ambígua, quase que de fim de festa. Quer dizer, obviamente é uma sensação positiva, feliz, alegre, principalmente depois de tanto tempo de troca e trabalho para levar algo ao mundo. Mas também vem com aquele misto de água fria, do que poderia ser e ainda não foi. Como tudo no on-line, é uma faca de dois gumes: o lado bom é poder alcançar mais pessoas, diferentes localidades e públicos. Já o contraponto, que pesa bastante para nós, é o de não poder levar isso fisicamente para a cidade de Pelotas, para o público dos cineclubes, os estudantes da Universidade, movimentar o espaço cultural que a nossa cidade abriga.

Sobre as escolhas: nós dois somos muito grudados, mesmo sem nenhum projeto novo em pauta para ser tocado, a gente está sempre trabalhando. Muitas vezes em algo que ainda nem existe. O Festival Levante nasce mais ou menos assim. Estávamos finalizando um projeto de roteiro para um edital emergencial e, no meio desses encontros, pensamos na possibilidade de idealizar um festival. Esse é um cenário ainda pouco sedimentado em uma cidade que tem um curso presencial de Cinema. Existiram outras mostras em Pelotas, a maioria desandou. Hoje, consolidada, tem só a Mostra de Cinema Negro que apresenta mais longevidade. A ideia de trazer um festival novo para a cena também tinha muito a ver com algumas impressões negativas que as curadorias do modelo on-line impuseram, ao redor do Brasil inteiro. Muitos filmes se repetiam no on-line, não se abria espaço para filmes sem as pompas, abertos ao erro, ao risco, ao acidente. E esse é o tipo de cinema que nós dois gostamos de consumir. Não apenas ele, claro, mas principalmente quando falamos em curta-metragem brasileiro, nos interessa muito esse grau de tentativa dos realizadores novos. Acreditamos que é ali que estão as joias do futuro, é importante abrir espaço para que isso seja visto. 

Como foi esse processo de realização do festival, as inscrições, convites e curadoria?

Foi excessivo, acima de tudo. No final, a gente só olha para trás com um sorriso, mas o processo foi bem árduo. Quando a gente definiu os pormenores, o perfil dos filmes, o número de mostras e cada uma das pessoas das equipes artística e técnica que precisávamos, passamos umas três tardes inteiras fazendo convites. Marcamos meia hora de reunião com um, com outro, e íamos explicando a ideia, o trabalho, as condições do trampo. Para nossa felicidade, todo mundo topou o desafio. Depois, foi questão de ajustar o orçamento, fazer cronogramas, além de muita reunião.

Cada fase do processo exigia demandas diferentes. No início, tudo era questão de organização, fazer as redes, definir prazos, além de muitas planilhas de produção.

A fase final foi a mais revigorante, porque a sensação era de que ia acontecer, estava chegando perto. E, depois, já não dava pra dar para trás. Então foi coisa de ajustar uma palestra aqui, outra ali, conversar previamente com debatedores, com o realizador da retrospectiva, pequenos ajustes e, por fim, finalizar o site. É importante também dizer que muito da divulgação se deu por redes sociais e pelas peças de design, que foram bastante trabalhosas. Em geral, o pessoal não tem noção de que fazer um festival exige muita organização, muitas subdivisões, trabalho de muita gente. Mas no fim é gratificante. Foi muito gratificante. Tem sido, ainda. No fim, vale a pena. Você deixa uma marca, um legado, um incentivo para o futuro. É difícil, mas alguém precisa encarar. Quanto mais gente fazendo coisas parecidas, melhor. 

Sobre os apoios ou edital, qual a conversa que vocês tiveram com eles para conseguir os prêmios e como se deram essas escolhas?

A gente pensou em coisas que fossem equivalentes ao gosto de quem nos assiste. Às vezes o pessoal tem medo de tentar, fazer o contato, mas é necessário, mesmo que venha um não pela frente. Primeiro fizemos o básico, que é a parceria com os cursos de Cinema da UFPel, nossa casa. Como nossos professores já conhecem essas logísticas e sempre apoiam nossas iniciativas, esse acabou sendo um abraço muito importante para o Levante. Depois veio a contribuição da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, o que, em partes, foi facilitado pelo fato de um dos diretores artísticos ser membro da associação, o que facilitou a comunicação. No fim, o Centro Técnico Audiovisual e o Navega – Rotas Criativas também cederam o apoio. O trabalho do CTAv é muito constante, então poder dar algo em troca para quem realiza audiovisual é essencial. São formas desse e de outros Levantes continuarem a existir, incentivar e possibilitar as pessoas a fazerem filmes. E o Navega, bom, todo mundo se amarra nas propagandas deles no YouTube, achamos que seria uma forma legal de parceria, mostrar o Navega a um público jovem e eles proporcionarem a nós um ou dois cursos gratuitos, testar o produto, comprovar a qualidade. No fim, tudo tem muito a ver com o Levante. E teve ainda o Marcelo Ikeda, grande amigo, que cedeu seus livros aos vencedores. O que é uma forma de difundir a literatura do cinema por aí. Ikeda tem um vasto trabalho teórico, pensa muito o cinema brasileiro de hoje, que é exibido no Levante, que passou por outros lugares. Colocar essas ideias na mão das pessoas é realmente valioso para nós.

Visite a página do Facebook do Festival Levante.

Veja mais em “Festival Levante Divulga Cinema Independente”

Mais detalhes sobre o evento em  “Diversidade de Ideias em Mostra Cinematográfica”

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