Por Thiago Lehn
Evento teve sua primeira edição em março nas plataformas digitais
O Festival Levante foi produzido e dirigido pelos alunos dos cursos universitários de Cinema de Pelotas, João Fernando Chagas e Rubens Fabricio Anzolin, através da lei Aldir Blanc, com o intuito de trazer ao público filmes ainda não vistos, produzidos de forma independente, seja no ambiente da faculdade, através de editais ou por iniciativa própria, porém sempre com a vontade de produzir cinema brasileiro. Teve palestras sobre distribuição alternativa de filmes, cinema de animação, e filmes brasileiros voltados para as classes trabalhadoras.
O evento teve parceria com os cursos de cinema da UFPel, a ACCIRS – Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, o Centro Técnico Audiovisual e o Navega – Rotas Criativas e teve a curadoria de André Berzagui, Lauren Mattiazzi Dilli, Victória Kaminski, Gianluca Cozza, Lucas Honorato e Matheus Strelow.
De forma virtual, toda a programação do Levante ocorreu no Youtube, o evento trouxe entre suas categorias a mostra animada, paralela, retrospectiva e a mostra levante (de curtas live action) além de debates com convidados. Ao todo mais de 500 filmes se inscreveram para o festival.
Em parceria com o CTAv o Levante proporcionou o prêmio CTAv, para o qual todos os projetos participantes das mostras competitiva poderiam enviar seus projetos em desenvolvimento para uma banca formada por Guilherme da Rosa, Lanza Xavier e Roberto Cotta e disputar a premiação que consistia em empréstimo de uma câmera Black Magic e acessórios de produção.
O vencedor foi “Jornada de 16 horas”, de Clara Henriques e Luiza França.
As mostras competitivas contaram com o júri popular, o júri da crítica (formado por Luciana Tubello, Thomás Boeira e Carlos André Moreira) e o júri oficial (com Marco Antônio Pereira, Analu Favretto e Leonardo da Rosa).
O vencedor do júri popular foi o filme “Dez Conto” de Bruno Maciel, a premiação foi de mil reais, uma cópia do livro “Lei da Ancine Comentada” e outra de “Leis de Incentivo para o Audiovisual”, cedidos pelo palestrante Marcelo Ikeda.
O júri da crítica decidiu por “As canções de amor de uma bicha velha” como vencedor o contemplando com a premiação dos livros “Lei da Ancine Comentada”, Leis de Incentivo para o Audiovisual” e “Fissuras e Fronteiras”, também cedidos pelo professor Marcelo.
O júri oficial teve o papel de decidir os vencedores da mostra Levante e da mostra animada concedendo os prêmios de mil reais e um curso na Navega para cada um. Os filmes escolhidos foram “Subnews”, como melhor filme de animação, e “Dez Conto”, como melhor filme live action.
Ao longo do percurso, foram mais de 13 apresentações no Youtube com média de uma hora entre trocas de experiências, conversas e perguntas relacionadas às obras selecionadas e o cinema em geral. Um dos pontos altos do festival foram as palestras e debates,.
Por uma distribuição alternativa dos filmes
No dia 24 de março, as sessões no Youtube tiveram início com uma conversa entre um dos idealizadores do evento, Rubens Fabricio Anzolin, com o professor Marcelo Ikeda. A temática da distribuição de filmes alternativos no Brasil marcou o início do primeiro Festival Levante.
Nascido no Rio, Marcelo foi para o Ceará ser professor da primeira turma do curso da Universidade Federal do Ceará. É autor de livros sobre o cinema, tais como “O cinema independente brasileiro contemporâneo em 50 filmes”.
A conversa flui com o professor lembrando das facilitações da modernidade em gravar filmes de ensaio, caseiros e até filmes independentes pela facilitação da tecnologia, reforçou a ideia de que os cineastas devem lutar pelos editais governamentais de financiamento, mas que eles próprios deveriam criar seus próprios meios de produção.
Ao mesmo tempo que elogia os festivais, crítica como esses eventos e a comunidade do cinema vivem em uma bolha. Segundo Marcelo, ela precisa estourar para que a cultura chegue em mais pessoas, assim completando seu papel social. A conversa durou mais de uma hora e se estendeu por diversos caminhos sobre a produção e a distribuição brasileira de filmes.
Curtas de animação
A palestra sobre curtas de animação foi entre as criadoras Amanda Trindade e Helena Hilário. As duas tiveram reconhecimento importante e recente por conta do seu trabalho com animação e contribuíram para expandir a conversa no Festival.
Amanda é artista 2D formada em cinema de animação na UFPel e foi a animadora do filme “O céu da boca” que passou por festivais, inclusive os importantíssimos Anima Mundi e o Grande Prêmio Brasileiro de Cinema, no qual foi finalista. Apaixonada pelo seu trabalho, ela conta que agora seu objetivo de vida é contar histórias desenhando.
Helena Hilário é diretora e roteirista de “Umbrella”, curta de animação reconhecido em mais de 55 festivais e que entrou na lista prévia do Oscar, na qual acabou não se classificando. Foi o filme curta brasileiro que mais chegou perto da nomeação. O curta foi produzido com uma animação 3D de altíssimo nível durante dois anos, que é um período curto para esse tipo de trabalho.
A diretora conta que foi criada a empresa produtora Stratostorm, que tinha como um dos objetivos viabilizar o projeto de “Umbrella”. Mais tarde, em 2018, verificou-se a necessidade de estabelecer uma equipe própria.
Memória de camponeses e operários
A palestra “O que Brilha no choque?” tratou de montagens de camponeses e operários no cinema brasileiro. O debate tratou sobre os estudos de filmes e a análise de como esses recursos audiovisuais criaram, ao longo do tempo, uma imagem e uma memória que definisse os trabalhadores. Foi discutido como essas parcelas sociais foram vistas durante épocas passadas e como são vistas hoje em dia, com semelhanças ou não. Essas pesquisas buscam fatores de identidade e marcas temporais nos filmes que permitem compreender diversos setores sociais em cada período analisado.
A apresentadora Analu Favretto é mestranda da Unisinos, formada em Cinema e Audiovisual pela UFPel. É também crítica de cinema e realizadora audiovisual, com passagem por festivais em diversas partes do Brasil. Durante sua formação, teve um trabalho longo e duradouro nas salas de cinema do Cine UFPel, em Pelotas. Outro palestrante, Maurício Vassali, é doutorando em Comunicação pela PUC-RS, com pesquisa voltada às imagens do operário no cinema brasileiro. É formado pela Universidade Federal de Pelotas e também é membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS). Durante anos, fez parte do Zero4 Cineclube.
Visite a página do Facebook do Festival Levante.
Veja mais sobre o Festival Levante em “Diversidade de Ideias em Mostra Cinematográfica”
Entrevista com os realizadores do evento.
COMENTÁRIOS
Você precisa fazer login para comentar.