Por Carolina Amorim
Livro lançado em 1982 sintetiza várias indagações sobre o tema
O livro “O que é loucura?”, de João Augusto Frayze Pereira, foi publicado pela primeira vez em 1982 pela editora Brasiliense e é formado por indagações e pesquisas de um dos principais autores do campo, Michel Foucault e sua obra “História da Loucura”. No entanto, Frayze-Pereira deixa nítido que muitos são
os autores consultados entre os poucos citados para a elaboração do livro.
Dividida em cinco capítulos, Frayze-Pereira inicia sua obra com o subtítulo “Uma Questão Problemática”, em que aborda o tema loucura como uma maneira de despertar a reflexão, e deixa claro a sua intenção: dar margem ao leitor repensar seus próprios pontos de vista. Com isso, seu plano é questionar o vínculo tradicionalmente estabelecido como necessário entre loucura e patologia e compreender, ainda que em linhas muito gerais, como se torna possível a loucura no mundo moderno.
Em seguida, o autor refere-se à “Doença Mental ou Desvio Social”, trazendo a fórmula de Carl Wernicke: “as doenças mentais são doenças cerebrais”. Com isso, ele comenta sobre a doença mental ser algo orgânico e não imposto para um indivíduo, qual seja sua forma, comentando ainda sobre os sintomas e os especialistas de cada área. Com o decorrer das ideias, há explicações sobre a interligação do delírio e alucinações, além de psicoses, mudanças de humor e o desvio social de cada pessoa julgada pela doença. Sinaliza a colocação da antropóloga americana Ruth Benedict que, na década de 30, pontua sobre a sensação de pertencimento a um determinado grupo e o desvio social como uma fuga.
No terceiro capítulo, intitulado de “Uma Lição Etnológica”, há exemplos de como a cultura de um determinado povo pode causar confusões sobre o que de fato é a loucura. Por exemplo, Frayze-Pereira cita um tipo de crise de uma região na Malásia chamada “amok”. Um homem poderia sair do estado calmo e entrar em uma situação de fúria, assassinando a todos que estivessem em seu percurso. Essa atitude era considerada como uma forma de possessão demoníaca, mas integrada aos valores próprios daquela cultura.
O livro aborda que as variações de crenças em cada região podem ser também confundidas como doenças mentais. De alguma forma, conforme o autor, o corpo humano acaba se tornando o “veículo do sagrado”. Há diversas explicações do sobrenatural que desconhecidos no assunto podem ligar à doença mental. No entanto, o autor ressalta que essas diferenças são possíveis devido à diversidade dos povos e de suas religiões. Em seguida, em “A Determinação Histórica Da Loucura”, é citado Michel Foucault e sua obra, definindo a loucura em termos de “doença” como uma operação relativamente recente na história da civilização ocidental. O texto “História da Loucura”, segundo Frayze-Pereira, fundamenta essa afirmação, revelando as verdadeiras dimensões daquilo que se acredita ser uma realidade incontestável, isto é, a loucura tratada na medicina e não uma “aberração”. Ao longo das páginas desse livro a loucura ganha o sentido de “fato de civilização”, mostrando que em determinado momento histórico que a “doença mental” passa a existir como máscara da loucura.
O último capitulo é baseado em indicações para leituras, uma vez que Frayze-Pereira utiliza como base para seu livro. Em suma, a obra é composta por uma linguagem compreensível aos graduandos e é baseada em histórias interessantes não só para alunos de psicologia, mas também de outras áreas como medicina, história e antropologia, já que cita culturas e suas diversidades no mundo. O livro é indicado para alunos que querem uma base de como é a história de doenças mentais e suas interpretações de acordo com cada cultura.
Sobre o autor:
João Augusto Frayze-Pereira possui um histórico acadêmico ampliado, chegando a professor Livre Docente (USP) e Psicanalista (SBPSP). Além disso, ele possui experiência de pesquisa no campo interdisciplinar Arte-Estética-Psicanálise, com ênfase em Fundamentos e Crítica das Artes. É autor de livros e artigos sobre, principalmente, temas relacionados aos seguintes campos: Corpo, Arte e Dor; Estética e Clínica Psicanalítica; Fenomenologia da obra de arte, Psicanálise e Estética da Recepção.
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