Por Ana Rodrigues
Filme “Retrato de uma jovem em chamas” capta as delicadezas de um relacionamento
Depois do filme de 2013 “Azul é a cor mais quente”, é de se ter receio ao ver mais um título francês com o objetivo de retratar mulheres que amam mulheres. A produção citada, que traz uma relação lésbica de forma sexualizada, falha em mostrar as delicadezas de uma jovem descobrindo o seu interesse por outra mulher. Entretanto, em “Retrato de uma jovem em chamas” a diretora Céline Sciamma nos surpreende de forma muito positiva ao captar essas delicadezas, que, mesmo de forma meio clichê, constroem no cinema o que entendemos como paixão.
O longa estreou em Cannes em 2019. Conta a história da jovem pintora Marianne (Noémie Merlant), encarregada da tarefa de pintar um retrato de Heloise (Adèle Haenel) para seu casamento, sem que a moça saiba. Ao longo dos dias, Marianne que se disfarça de dama de companhia, passa a observar cada vez mais e a conhecer a sua modelo e suas angústias. Isoladas em uma ilha da França do século 18, as duas se aproximam e criam uma intimidade cada vez maior.
O filme de Sciamma nos traz com muita delicadeza e talento o surgimento de uma relação íntima entre mulheres. Para o espectador mais atento, é possível saber exatamente o momento em que o sentimento de paixão surge e isso é um grande mérito da diretora, que se dedica à temática LGBTQ+ no cinema.
Outro ponto de destaque do filme é a fotografia, pensada pela diretora de fotografia Claire Mathon. Cada cena do filme é como se fosse uma pintura. Segundo a artista em entrevista, isso envolveu muito pensar a iluminação conforme os desafios de gravar em um sítio histórico da França. Cada cena do filme pode ser considerada uma metáfora de amor e arte, que “por acaso” são os temas principais do longa. Certamente servem para nos inspirar e buscar o trabalho de mulheres que trazem temas que nos são
tão invisíveis na cinematografia convencional.
Retrato de uma jovem em chamas pode ser um filme um pouco maçante para quem não está acostumado com o estilo de filme que concorre em Cannes. Entretanto é uma belíssima introdução para quem quer buscar temáticas fora da heteronormatividade e, principalmente, pontos de vista femininos sobre o amor entre duas mulheres.
O filme está disponível no serviço de streaming Telecine.
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