Por Isabelli Neckel
Todo sábado, há cinco anos, o Largo do Mercado Público de Pelotas ganha mais vida – e mais história. É que, logo pela manhã, as bancas com exposições de antiguidades tomam seus lugares no chamado Mercado das Pulgas. Até o meio da tarde, 40 expositores dividem com o público seus “garimpos”.
A feira já teve outras edições, de verão, na Praça Coronel Pedro Osório e também no Laranjal. Atualmente, está bem consolidada no Largo do Mercado, onde ficam expostos antiguidades, plantas, artigos de brechó, artesanatos e itens de colecionador, como discos de vinil, selos, cédulas, moedas, cartões-postais, revistas, gibis, facas, medalhas e máquinas fotográficas, entre outros.
A aposentada Nélia Morais, 64, é uma das expositoras do Mercado. Sua banca traz, principalmente, xícaras e artigos de cozinha. Há três anos, ela viu no hobby de colecionar antiguidades um meio para superar a depressão. “Comecei a garimpar e a colecionar para me distrair, hoje em dia amo o que faço”, explica. Nélia, que encontra seus itens principalmente em leilões e casas da área rural, vê na atividade um elo com o passado. “Traz lembranças boas, da infância, da época de meus avós”, reflete.
Memória
O monitor Júlio Petrechel, 49, começou o hobby após a morte de seu pai, quando encontrou uma garagem repleta de antiguidades. Desde então, sua banca expõe principalmente livros, discos, mapas e até mesmo revistas adultas das décadas de 80 e 90.
“Aqui, tu lidas com a memória, com a lembrança. O Mercado tem essa característica de marcar as pessoas. Elas vêm aqui, veem os itens e se transportam para aquela época, para suas lembranças”, conta.
Enquanto os mais velhos são atraídos pela nostalgia, os mais novos o são pela curiosidade. Camila Cruz, 20, é um exemplo. Ela observa as antiguidades com atenção, mas gosta especialmente do setor de brechós. “Acho interessante pela sustentabilidade. A ideia das roupas terem uma história também me agrada”, explica.
Por que colecionar?
O hábito é antigo. Vem desde a antiguidade, passando pelo século 16 e a “moda” de colecionar autorretratos e pelo século 19, quando as coleções tinham cunho científico. Hoje em dia, a prática se mantém. Quando se fala em colecionar antiguidades, a atividade está ligada a nossa busca pela permanência no tempo e também por classificar, ordenar e exteriorizar a existência.
Segundo um artigo de pesquisa da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), que analisou diversas entrevistas com colecionadores, o sentindo principal das coleções está ligado aos ciclos da vida: “As coleções que se diversificam na forma de exteriorização dos objetos colecionáveis guardam histórias particulares e afetividades, que se confundem com a trajetória biográfica dos colecionadores”, conclui a pesquisa.
Como Expor
Para ser um expositor no Mercado das Pulgas, é necessário entrar em contato com a Secretaria de Cultura de Pelotas, a Secult (53-3225-8355). Antes de serem aprovadas, as coleções são cadastradas, analisadas por uma comissão e, então, a autorização pode ser concedida.
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