Reportagem de Estevan Garcia e Vanessa Kleber –
Sotaque marcante, ritmos tipicamente brasileiros e letras que transformam o cotidiano em poesia. Essas são algumas das características do trabalho do músico Juliano Guerra, nascido no município de Canguçu, em 7 de outubro de 1983.
O artista iniciou sua carreira ainda no final dos anos 90, quando participou de projetos como “Banda de Rock Revel e o Quinteto de Choro” e “Samba Noesis”, até começar a sua caminhada solo. Seu primeiro álbum, denominado “Lama”, lançado em agosto de 2012, mescla ritmos como bolero, samba e bossa nova, utilizando instrumentos musicais não muito usuais, como o sopapo, instrumento da cultura negra do Rio Grande do Sul.
Nos anos 2013 e 2014, Guerra se dedicou a produções com colaboração de outros artistas e às gravações de seu segundo disco solo, o “Sexta-Feira”. O disco, pré-produzido em parceria com o percussionista e baterista Davi Batuka, foi inteiramente gravado no município de Pelotas, produzido de maneira independente e distribuído pelo selo pelotense da Escápula Records. O “Sexta-Feira” conta com 10 canções com letras de um tom sarcástico e de amor, com um ritmo carregado instrumentalmente e ainda guardando um espaço para um diálogo com o samba. Entre as faixas está “Logo Vem”, que teve videoclipe produzido pela Moviola Filmes.
A fim conhecer um pouco mais o trabalho desse artista de personalidade, entrevistamos Guerra, que nos contou um pouco sobre a carreira, a música independente na região, o “Sexta-feira”, além do videoclipe de “Logo Vem” e seu mais novo show. Confira a entrevista.
Arte no Sul (AS): Como tu enxergas o desenvolvimento da música independente aqui na região?
JG: Acho que temos produzido cada vez mais (em quantidade) e, até por isso mesmo, temos progredido na qualidade e no acabamento das produções. A revolução digital deu essa possibilidade de se gravar com muito mais ferramentas em um home studio, por exemplo, do que aquelas que eu tive gravando pela primeira vez, em 2000, quando a Revel (minha primeira banda) foi para um estúdio em Porto Alegre gravar nossa primeira demo. Falando ainda das possibilidades de produção – e puxando a brasa pro meu assado sem constrangimento -, penso que termos selos como o Escápula Records, pelo qual lancei o “Sexta-Feira”, oferecendo ótimas condições de trabalho. Também há um estúdio com o equipamento e a perícia técnica do A Vapor, que contribui imensamente pra esse aumento de qualidade do qual falei.
Por outro lado, temos ainda bastante dificuldade com os shows, tanto pelas poucas possibilidades de circulação (mostrar o trabalho fora de Pelotas não é fácil) como pela ausência de um bom teatro de pequeno/médio porte no qual os artistas possam mostrar seu trabalho sem um investimento absolutamente fora da realidade de quem faz, por exemplo, música autoral por aqui.
AS: Quando tu decidiste que querias trabalhar com música? Da onde surgiu ou surgem as tuas inspirações?
JG: Eu não sei bem quando eu decidi trabalhar com música, foi mais uma coisa que me aconteceu do que uma decisão, até porque tive meu primeiro instrumento ali pelos 6 anos e desde então eu já gostava de “inventar” minhas próprias canções. Com 17 anos eu já tinha uma banda que tocava canções escritas por mim, além de minhas primeiras parcerias, feitas com o Mauricio Antunes, batera da banda que também escrevia letras que eu passei a musicar.
Sobre inspiração, eu gosto de ter cuidado quanto ao caráter meio místico que às vezes se dá a essa palavra. Meu processo de composição é fazer/refazer/revisar/desistir/retomar, muito mais do que descer uma entidade ditando a canção já pronta. Dito isto, os temas que me interessam na hora de escrever uma canção são diversos e aparecem de todo lado: das músicas que ouço, dos filmes, dos livros, da conversa na rua, do que está acontecendo ou aconteceu na minha vida. Depois do surgimento do tema (às vezes só um verso solto, uma expressão, um ou dois acordes no violão) começa a parte que considero a mais prazerosa: montar e remontar as peças até chegar a um resultado satisfatório.
AS: Esse ano tu lançaste teu segundo disco, o “Sexta-feira”. Conte-nos um pouco como foi o processo de produção desse álbum.
JG: O “Sexta-Feira” foi a realização de algo que eu ansiava muito por fazer, um disco com uma “bandona”, com uma turma de músicos com os quais eu tenho afinidade, pessoas que se envolveram de verdade com aquilo que estávamos fazendo. A gente ensaiou no estúdio do baterista e percussionista Davi Batuka, que foi meu parceiro na pré-produção. A logística da coisa toda foi da Ana Maia, que passou a ser minha produtora depois do “Lama”, meu primeiro disco. Quando fomos pro estúdio (o A Vapor, como eu disse anteriormente), as músicas já tinham arranjos definidos e, conforme gravamos, a coisa foi sendo burilada, ajustada. A captação, mixagem e masterização do disco foram trabalho do Lauro Maia – sem dúvida, um dos técnicos mais talentosos e dedicados da cena. Foi um bocado de trabalho e dedicação de bastante gente e o resultado está aí pra ser ouvido – eu tenho muito orgulho desse disco.
Você precisa fazer login para comentar.