Pesquisa feita pela UFPel foi baseada na percepção dos próprios consumidores e resultou em uma série de orientações para o uso racional de energia nas residências
Rio de Janeiro – Há pouco mais de um ano, o anúncio da pandemia da Covid-19 feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) alterou a vida de grande parte da sociedade de forma drástica. Com as restrições sanitárias recomendadas para a prevenção à doença, a população precisou se adaptar, aprendendo a realizar suas atividades em ambiente domiciliar. Desde então, novos hábitos e rotinas foram incorporados à vida cotidiana, como o home office e o ensino remoto. Essa permanência das famílias em casa gerou reflexos no consumo de energia, que aumentou consideravelmente nesse período. De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia (MME), em maio de 2020, apenas dois meses após o início da adoção do distanciamento social, o setor residencial já apresentava um aumento de 6,5% se comparado ao mesmo período de 2019. Para compreender essa nova realidade, o Laboratório de Inspeção de Edificações em Eficiência Energética (Linse) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) empreendeu uma pesquisa sobre as mudanças no uso de energia nas residências. O levantamento deu origem a uma série de orientações sobre o uso racional de equipamentos domésticos, que visa auxiliar os consumidores no controle da conta de energia elétrica.
A iniciativa faz parte de um conjunto de ações promovidas por laboratórios e coletivos da UFPel como forma de apoio à sociedade durante a pandemia. Vinculado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAUrb), o Linse ficou responsável pelas questões relacionadas à conservação da energia. Assim, o primeiro passo foi fazer a coleta de dados que pudessem fornecer um panorama mais qualificado sobre essas mudanças. A pesquisa foi realizada de forma virtual durante três semanas entre setembro e outubro do ano passado. Os participantes foram questionados sobre o número de habitantes e o tempo de utilização de eletrodomésticos e eletrônicos em suas residências. A intenção foi não apenas coletar informações, mas entender os motivos do aumento da demanda de energia, sob o ponto de vista dos próprios usuários.
“Nós queríamos ter uma ideia de qual era a percepção das pessoas em relação ao consumo de energia. Então, a ideia foi fazer uma pesquisa para ter uma base maior para poder fazer o nosso trabalho, que era propor ações educativas para tentar frear um pouco esse consumo que certamente já iria aumentar pelo fato de as pessoas estarem se recolhendo mais em suas casas”, explica o engenheiro eletricista da UFPel e um dos coordenadores da pesquisa, Liader da Silva Oliveira.
Computador foi considerado o equipamento mais utilizado nas residências
No total, 508 pessoas responderam ao formulário eletrônico, que teve participação de representantes de todas as unidades federativas do país. A grande maioria (mais de 60%), no entanto, foi de moradores do Rio Grande do Sul, estado onde a universidade está localizada, que reportaram a realidade vivida por eles no período da entrevista. O levantamento também se baseou em informações subjetivas que podem não refletir com exatidão os fatores reais que levaram ao aumento do gasto energético. Ainda assim, os resultados obtidos representam uma amostra da situação vivida por muitos brasileiros nesse último ano, o que pode ajudar a entender e, sobretudo, driblar este novo quadro.
Do total de entrevistados, 340 – ou 66,9% – afirmaram que tiveram aumento do gasto mensal de energia, em comparação a igual período do ano anterior. Entre os demais, 28% responderam que não perceberam alteração e somente 5,1% disseram ter reduzido o gasto com energia. Para os 366 participantes que disseram ter tido mudanças nessa despesa, foram feitas perguntas adicionais, sobre a posse e o nível de utilização de aparelhos, de modo que os participantes indicassem quais eram, na opinião deles, os responsáveis pela intensificação do consumo.
Os resultados mostraram que 130 pessoas, 25,59% deste grupo, acreditam que o uso frequente do computador, para estudos e trabalho, tenha sido o principal motivo para o aumento da conta de luz. Em seguida, foram citados o televisor, por 16,14%, e o chuveiro elétrico, indicado por 12,4% dos participantes. O levantamento considerou ainda outros aparelhos comuns nas residências, como condicionador de ar/estufa e lavadora de roupas, que apareceram em quarto e quinto lugares respectivamente, além de micro-ondas, jarra elétrica, ferro elétrico, aspirador de pó, torradeira, secadora de roupas, identificados pelos respondentes da pesquisa com menor utilização.
De acordo com esses resultados, o Linse/UFPel preparou um documento detalhando as medidas que podem ser adotadas para economizar energia e a forma correta de utilização dos principais eletrodomésticos. Confira ao final da reportagem dicas de economia de energia elaboradas pela equipe da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).*
Cenário previsto para os próximos anos exigirá mudanças de hábitos
A pesquisa realizada pela UFPel considerou o cenário de crise gerada pela pandemia. O relatório que compõe o levantamento aponta que, ao mesmo tempo que o nível da energia usada pelas residências aumentou, os setores comercial e industrial tiveram queda, motivada pela paralisação ou redução das atividades, impactando diretamente na situação financeira das concessionárias. Além disso, o aumento da taxa de inadimplência, os programas de isenção oferecidos pelo governo à população e a suspensão do sistema de bandeiras tarifárias no ano passado também contribuíram para reduzir a arrecadação das empresas de energia.
Para minimizar esse prejuízo, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) criou a chamada ‘Conta Covid’, por meio da qual são repassados valores às concessionárias para compensar as medidas adotadas até o momento. Esses empréstimos vão passar a compor a tarifa de energia, que deverá aumentar nos próximos cinco anos.
Nesse contexto, o documento aponta para a necessidade da adoção de medidas que busquem a eficiência energética no ambiente domiciliar. Para tanto, o estudo da UFPel indica a utilização de eletrodomésticos mais econômicos e recomenda a escolha por aparelhos que tenham o Selo Procel. Outras medidas destacadas como importantes são a realização de programas de educação para que os usuários saibam como utilizar a energia de forma correta e a mudança de hábitos da população.
“No nosso material cita duas formas de economizar. Uma é usando equipamentos mais eficientes. Já temos vários equipamentos eficientes que não tínhamos anteriormente, e o Procel, com o Selo, já nos mostra
isso. A outra seria a questão do hábito, a forma de usar. As pessoas já estão comprando os equipamentos em função das etiquetas. Tendo o equipamento eficiente tem que saber a forma de usar para consumir o mínimo possível sem perder o conforto”, destaca Liader de Oliveira.
Já o coordenador-geral do Linse, Antonio César Silveira Baptista da Silva, alerta que essas mudanças são imprescindíveis, considerando que tal condição crítica deve permanecer ainda por algum tempo no país. O especialista acredita que as dificuldades enfrentadas agora podem ser um incentivo para que as pessoas mudem seus hábitos de forma definitiva e afirma ainda que, sim, é possível economizar energia mesmo ficando a maior parte do tempo em casa.
“Nesses momentos de crise somos obrigados a rever nossos padrões. Essas mudanças são possíveis e podem ser positivas depois que esse momento passar. E elas vão ser quase que obrigatórias em função da situação econômica que o país, as famílias enfrentam”, avalia o coordenador do Linse.
Descubra como economizar energia durante o período de pandemia*
Chuveiro Elétrico
É o principal responsável pelo consumo de energia residencial. Para reduzir o consumo de energia através dele, pode-se: adquirir um modelo com controle eletrônico de temperatura; diminuir tempo médio do banho; regular a vazão de água do seu chuveiro
Condicionador de Ar
Para fazer uma boa escolha, deve-se: definir capacidade do aparelho em relação a necessidade de carga térmica do ambiente que se quer climatizar; procurar um aparelho com certificação A de eficiência; ajustar a temperatura de uso corretamente; manter os filtros limpos
Lâmpadas
Para fazer uma boa escolha, deve-se: adquirir lâmpadas tipo LED sempre que possível, pois são mais eficientes; ligá-las somente no cômodo no qual se está; utilizar iluminação natural sempre que possível
Jarra Elétrica
Para fazer uma boa escolha, deve-se: adquirir aparelhos mais eficientes; aquecer somente a quantidade a ser utilizada; caso haja sobra de água quente, guardá-la numa garrafa térmica para não perder a temperatura
Lavadora de Roupas
Para fazer uma boa escolha, deve-se: adquirir modelos mais eficientes e usá-la de acordo com as especificações do fabricante para quantidade de água x roupa
Computadores e Notebooks
Para fazer um bom uso, deve-se: adquirir modelos mais eficientes; programá-lo para modo de suspensão ou hibernação depois de algum tempo
Lembre-se sempre de procurar adquirir produtos com nível A de eficiência energética e usá-los conforme indicação. Além disso, procure utilizá-los com consciência. O planeta e seu bolso agradecem!
*Fonte: Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
________________________________________________________________________
Esta notícia não é de autoria do Proben, sendo assim, os créditos e responsabilidades sobre o seu conteúdo são do veículo original. Para acessar a notícia em seu veículo original, clique aqui.