Divulgação científica: o MIDIARS surfando nas redes

Por Joao Pedro

 

A divulgação do trabalho científico é fundamental para a propagação do conteúdo e dos resultados das pesquisas desenvolvidas pelo Laboratório Midiars (UFPel). Ir além do âmbito acadêmico e alcançar a comunidade é um dos principais propósitos do Laboratório de Pesquisa e, por isso, a equipe do MIDIARS procura sempre participar de ciclos de palestras, entrevistas e programas que ampliem o debate sobre ciência, comunicação e redes sociais.

 

Em 2022, o grupo continua com uma agenda repleta de atividades importantes para a divulgação da ciência e o combate à desinformação, o lançamento da Rede Interinstitucional de Enfrentamento da Desinformação em Saúde, que contou com a participação da coordenadora do grupo, Raquel Recuero.

 

O debate sobre polêmica venda do Twitter para o bilionário Elon Musk contou com diversos comentários das coordenadoras do grupo, Raquel Recuero e Taiane Volcan. Raquel foi fonte para os principais veículos de comunicação do país, como G1, Estadão e BBC Brasil, já Taiane participou do MyNews e do Podcast Anticast que comentaram o episódio, ainda em definição. Também no MyNews, Taiane Volcan participou de um episódio do programa Café MyNews que discutiu as estratégias digitais utilizadas por grupos bolsonaristas.

 

No programa, a pesquisadora discute o uso de memes na política, desde sua origem até as estratégias atuais utilizadas pelo presidente Jair Bolsonaro. Taiane afirma que é um método muito efetivo e está em vigor no Brasil desde 2013: “Os políticos publicarem memes têm um efeito de aceitação nas pessoas, potencializa essa aceitação e nós vivemos um momento que falar de política está muito difícil, então o humor abre essa brecha na comunicação com o público”. Já sobre a última compra de destaque do Elon Musk, ainda não há uma resposta exata, porém existe uma grande chance de mudanças ocorrerem: “Musk defende que o Twitter é um espaço de debate público, irrestrito e que o objetivo da sua compra é ter essa democracia irrestrita e essa liberdade de expressão absoluta. Porém, o controle de uma plataforma global é muito mais do que uma simples contribuição para o debate público”, afirma Taiane.

As entrevistas citadas aqui e outras participações dos pesquisadores do grupo MIDIARS estão disponíveis nos links abaixo:

 

Participação de Raquel Recuero no lançamento da Rede Interinstitucional de Enfrentamento da Desinformação em Saúde: https://www.youtube.com/watch?v=XVCUCFd3QsM&t=4089s

  • Pesquisadora explica estratégias digitais bolsonaristas, com a pesquisadora Taiane Volcan

https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=53_oWAGfSzg&ab_channel=MyNews

  • O Twitter de Elon Musk, com a pesquisadora Taiane Volcan

https://www.youtube.com/watch?v=PVeity6AobA&t=1273s&ab_channel=MyNews

Participação no programa Apura Verdade: https://www.youtube.com/channel/UC2klmeLZtHyr2YoTHouENKw/featured

Divulgação Científica: Últimas entrevistas, palestras e podcasts do Midiars

Por Taiane Volcan

Uma das principais atividades do grupo de pesquisa é a divulgação do trabalho científico. Tão importante quanto as análises e produção de artigos, para nós, é fundamental que os resultados e descobertas das nossas pesquisas cheguem até às pessoas. De preferência, de maneira clara e simples. Por isso, o MIDIARS faz questão de aceitar convites para entrevistas, palestras e eventos, especialmente quando o foco é debater temas atuais e relevantes para a sociedade e que estejam relacionados com os nossos temas de pesquisa.

Nesse sentido, os meses de outubro e novembro de 2021 foram especialmente ativos para o grupo. Tivemos a oportunidade de palestrar em eventos acadêmicos, participar de podcasts e dar algumas entrevistas que, esperamos, poderão ajudar até quem não é do meio acadêmico a compreender um pouco melhor as mídias digitais, o fenômeno da desinformação e o trabalho que desenvolvemos aqui no MIDIARS.

Confira a seguir:

 

MIDIARS na sala de aula

Além de entrevistas e eventos acadêmicos, sempre que possível os(as) pesquisadores(as) participam de atividades acadêmicas, falando um pouco mais sobre as possibilidades e rotinas de uma carreira acadêmica na área da comunicação. Em novembro, o doutorando Calvin Cousin representou o laboratório na aula de Introdução do Jornalismo da UFPel e tirou diversas dúvidas dos futuros jornalistas e, quem sabe, pesquisadores!

MISDOOM 2021: Em evento internacional, pesquisadores do Midiars apresentam trabalhos sobre os efeitos da desinformação

Por Taiane Volcan

 

Nos dias 21 e 22 de setembro, apresentamos os resultados de alguns dos trabalhos desenvolvidos nos últimos meses pelo grupo, relacionados ao tema da desinformação, no Multidisciplinary International Symposium on Disinformation in Open Online Media (MISDOOM), organizado pela Universidade de Oxford.

O MISDOOM é um importante evento internacional para divulgação dos estudos sobre desinformação no país e também um espaço fundamental para a publicização e para o registro histórico sobre as características e práticas relacionadas à desinformação no contexto brasileiro.

Conheça os trabalhos apresentados:

 

Disinformation, Fact-Checking and the Far-Right: The Covid-19 pandemic on Facebook in Brazil:

(Raquel Recuero, Felipe Soares, Taiane Volcan, Otávio Vinhas, Ricardo Huttner e Victória Silva)

 

No primeiro dia, a coordenadora do Midiars, Raquel Recuero apresentou uma análise comparativa sobre a circulação de conteúdos desinformativos e de checagem de fatos sobre Covid-19 em páginas e grupos públicos do Facebook. O objetivo do estudo foi compreender como estes conteúdos circulam na plataforma, em quais grupos e páginas circulam mais e quais os efeitos da ideologia política no compartilhamento de links sobre Covid-19 no Facebook.

 

Para este estudo, usamos um conjunto de dados de 568 links de desinformação verificados sobre a Covid-19 fornecidos pela International Fact-Checking Network (IFCN)/Poynter, que foram analisados com o suporte do CrowdTangle. Os resultados demonstram que a desinformação circulou quase quatro vezes mais do que a verificação de fatos e que apenas 10% dos grupos que compartilharam desinformação também compartilharam um link de verificação de fatos.

 

Observamos, também, que a questão socioeconômica tem um papel fundamental na circulação da desinformação e na limitação do acesso a dados verificados. A maior parte da desinformação era composta por conteúdo nativo do Facebook, ou seja, os usuários não precisavam acessar outras páginas para ler o material completo. Já a checagem de fatos, normalmente, direcionava os usuários para outros sites, o que pode representar a cobrança pelo uso de dados móveis.

 

Por fim, identificamos que grupos e páginas políticos (principalmente de extrema direita), de mídia alternativa (hiperpartidários) e religiosos desempenham um papel importante na circulação de desinformação. Estes grupos eram, em sua maioria, ligados ao presidente Jair Bolsonaro. Além disso, o compartilhamento seguiu um padrão de cluster, ou seja, os mesmos usuários publicaram a maior parte das desinformações encontradas na rede. Com isso, consideramos que a disseminação de desinformação no Facebook sobre a pandemia da Covid-19 apresentou um caráter extremamente político e polarizado.

 

 

“Made in China”: Disinformation and Sinophobia on Facebook during the Covid19 pandemic in Brazil:

(Elisa Stumpf, Felipe Soares, Taiane Volcan)

 

Neste estudo, analisamos postagens de páginas e grupos públicos do Facebook para explorar o papel da desinformação e da sinofobia no contexto da pandemia de Covid-19 no Brasil. Fizemos duas coletas de dados, em março e novembro de 2020. Em março, momento em que o​​ termo “vírus chinês” foi reproduzido por políticos brasileiros, em particular pelo filho do presidente da república e deputado federal, Eduardo Bolsonaro. Em novembro, quando novamente Eduardo Bolsonaro divulgou uma teoria da conspiração sobre a Coronavac (a vacina Covid-19 desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan do Brasil), alegando que havia sido criada para fins de espionagem.

 

Para a análise de dados, criamos redes bipartidas para os dois grupos observados (páginas e grupos pró-Bolsonaro e anti-Bolsonaro). O grupo pró-Bolsonaro apresentou um discurso alinhado com a extrema-direita, com ampla reprodução de narrativas desinformativas e sinofóbicas. Já no grupo anti-Bolsonaro, temos veículos de mídia tradicional retratando os eventos e de políticos da oposição criticando Eduardo Bolsonaro.

 

Através da Análise de Conceitos Conectados (CCA – Lindgren, 2016), analisamos as postagens do Facebook contendo links que foram compartilhadas pelo menos 10 vezes em cada grupo. Observamos que os links compartilhados dentro do grupo classificado como pró-Bolsonaro reproduziam narrativas de desinformação, como culpar a China pela pandemia e acusar o país de criar intencionalmente o vírus. Já no grupo anti-Bolsonaro, as publicações reverberam a crise política e diplomática criada pelo governo federal com a China, além de críticas de lideranças de oposição ao comportamento de Eduardo Bolsonaro.

 

Concluímos que os materiais desinformativos sobre a pandemia circularam predominantemente no grupo pró-Bolsonaro e apresentaram um caráter sinofóbico evidente. Esse discurso, especialmente conspiratório, legitima o discurso de ódio e o preconceito contra a China e o povo asiático. Observamos também a relevância dos agentes políticos para a disseminação e legitimação do discurso sinofóbico.

 

 

Disinformation, social networks and cancel culture: notes on pop culture:

(Calvin Cousin)

 

Neste artigo, buscou-se debater o papel da desinformação na chamada “cultura de cancelamento”, tema frequente em debates contemporâneos relacionados à cultura pop e que envolve uma perseguição orquestrada contra determinados sujeitos nas redes. Considerando o contexto brasileiro extremamente polarizado, que atravessa as mais diversas esferas da sociedade, a prática do cancelamento pode decorrer de disputas entre sujeitos e envolver o compartilhamento de desinformação com o objetivo de estimular o cancelamento de adversários ou desafetos.

Para este trabalho, analisamos a 21ª edição do reality show Big Brother Brasil no Twitter, que em sua última semana teve os perfis na plataforma de dois dos mais populares participantes mobilizando seus fãs para lutarem contra as supostas “notícias falsas” espalhadas sobre cada um.

Na análise, observamos que o foco das desinformações espalhadas sobre os participantes teve caráter homofóbico e xenofóbico. Assim, o discurso de ódio foi adotado como uma importante estratégia de mobilização dos fandoms dos participantes para sabotar a vitória do adversário. As publicações apresentavam um forte caráter conspiratório com estímulo à intolerância e discurso de ódio contra os participantes em função de questões como origem (xenofobia) e sexualidade (homofobia). Com isso, foi possível refletir sobre as relações entre os fandoms da cultura pop, o discurso de ódio e a circulação da desinformação nas redes sociais.

Preprint: YouTube as a source of information about unproven drugs for Covid-19: The role of the mainstream media and recommendation algorithms in promoting misinformation

Principais pontos

  • Analisamos 751 vídeos sobre cloroquina e hidroxicloroquina no YouTube. Buscamos compreender como é promovido o conteúdo favorável a essas drogas, que não possuem eficácia no tratamento da Covid-19
  • Identificamos um papel central da imprensa brasileira na promoção do uso de cloroquina e hidroxicloroquina para Covid-19. A maioria dos vídeos com desinformação sobre o tema foram postados por canais da imprensa tradicional.
  • Descobrimos também que os vídeos favoráveis ao uso das drogas receberam mais visualizações e geraram mais interações através de curtidas e comentários.
  • Por fim, identificamos que os algoritmos de recomendação do YouTube também promoveram o conteúdo desinformativo, já que os vídeos pró-cloroquina eram mais frequentemente sugeridos do que os vídeos que apontavam para a falta de eficácia do medicamento.

 

Overview

O nosso artigo “YouTube as a source of information about unproven drugs for Covid-19: The role of the mainstream media and recommendation algorithms in promoting misinformation” está disponível em formato preprint na SocArXiv, servidor de preprints da área da comunicação e de outras ciências sociais da Open Science Framework (OSF). Esta pesquisa será apresentada no dia 13 de setembro, durante a 7ª Conferência do International Journal of Press/Politics.

Neste estudo, exploramos a propagação de conteúdo sobre hidroxicloroquina e cloroquina no YouTube. Utilizamos o YouTube Data Tools para coletar vídeos sobre o tema. Os 751 vídeos do nosso dataset final foram analisados por meio de Análise de Conteúdo e Análise de Redes Sociais. Os principais resultados apontam para papéis centrais da imprensa tradicional brasileira e dos algoritmos de recomendação do YouTube na promoção de conteúdo promovendo as drogas que não possuem eficácia no tratamento da Covid-19.

A nossa pesquisa é relevante para compreender o contexto de promoção de cloroquina e hidroxicloroquina no Brasil. Em particular, nossos resultados apontam para o papel da imprensa brasileira na promoção das drogas, contribuindo para um cenário de desinformação. Além disso, mostramos como o YouTube também acaba promovendo conteúdo favorável a estas drogas, de forma que a plataforma também contribui para o fortalecimento da desinformação sobre Covid-19 no Brasil

 

Método

Utilizamos métodos mistosp ara a análise dos 751 vídeos sobre hidroxicloroquina e cloroquina. Utilizamos a Análise de Conteúdo para identificar o tipo de conteúdo produzido no vídeo: se favorável ao uso de hidroxicloroquina e cloroquina (pró-HCQ), se contrário ao uso das drogas para Covid-19 (anti-HCQ), ou se sem uma posição clara. A Análise de Conteúdo também foi utilizada para identificar o tipo de canal que postou cada um dos vídeos analisados. Com base na Análise de Conteúdo, utilizamos testes estatísticos para comparar o número de visualizações e interações (likes, dislikes e comentários) em vídeos pró-HCQ e anti-HCQ.

Utilizamos a Análise de Redes Sociais para explorar uma rede criada a partir dos vídeos recomendados pelos algoritmos do YouTube. Cada vídeo do nosso dataset era acompanhado por uma lista de até 50 recomendações. Com base nisto, utilizamos métricas de rede (E-I index e coeficiente de clusterização) para identificar a tendência de homofilia nas sugestões do YouTube. Isto é, se os vídeos possuíam tendência a sugerir outros vídeos com o mesmo conteúdo. Além disso, utilizamos testes estatísticos para comparar a média de vezes que vídeos pró-HCQ e anti-HCQ foram sugeridos pelos algoritmos do YouTube no nosso dataset.

 

Resultados

O nosso primeiro resultado relevante aponta para a influência da imprensa na promoção de conteúdo pró-HCQ. Os canais da imprensa brasileira foram maioria entre os produtores de vídeos pro-HCQ no YouTube, como mostra a imagem abaixo. Isto é relevante porque a imprensa é geralmente colocada em oposição a desinformação. Porém, como vimos neste estudo, a imprensa acaba contribuindo para um contexto de desinformação sobre Covid-19 ao promover medicamentos que não possuem eficácia no tratamento da doença.

Exploramos também o número de visualizações, likes, dislikes e comentários dos vídeos, com o objetivo de comparar os índices de vídeos pro-HCQ e anti-HCQ. Descobrimos que os vídeos pró-HCQ receberam mais visualizações, likes e comentários (todos com relevância estatística), enquanto os vídeos anti-HCQ receberam mais dislikes, ainda que sem relevância estatística. Isto mostra uma tendência de engajamento de usuários no YouTube na promoção de conteúdo pro-HCQ.

Na análise sobre a tendência de homofilia das sugestões do YouTube, descobrimos que os algoritmos não favorecem a formação de “câmaras de eco”, de forma geral. Porém, descobrimos que vídeos pró-HCQ possuem maior tendência de sugerir outros vídeos pró-HCQ. Vídeos anti-HCQ e sem posição clara possuem maior tendência a sugerir vídeos com outro tipo de conteúdo do que o apresentado no vídeo. Assim, há maior tendência de homofilia entre os vídeos pró-HCQ. Descobrimos que isso ocorre principalmente porque os algoritmos de sugestões do YouTube deram preferência a conteúdo pró-HCQ. Como pode ser visto na imagem abaixo, estes vídeos possuíam maior média no número de vezes que foram recomendados no nosso dataset em comparação com vídeos anti-HCQ.

Ainda que o YouTube tenha anunciado ações para combater o espalhamento de conteúdo favorável a medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento de Covid-19, os nossos resultados mostram que a plataforma acabou favorecendo a propagação de vídeos pró-HCQ. Também analisamos quantos vídeos pró-HCQ seguem disponíveis no YouTube e descobrimos que o número é superior a 90%. Entre os que fazem parte do nosso dataset, apenas 20 vídeos pró-HCQ foram removidos por ferir as normas de conteúdo do YouTube e 12 vídeos pró-HCQ estão indisponíveis ou foram tornados privados. Juntos, estes vídeos foram assistidos mais de 4 milhões de vezes. Isto indica que as ações do YouTube foram tardias, já que os vídeos retirados do ar foram visualizados milhões de vezes, e tiveram pouca eficácia, já que a maioria dos vídeos pró-HCQ segue disponível.

 

Relevância

Drogas sem eficácia no tratamento da Covid-19 foram um dos principais tópicos da desinformação sobre a pandemia no Brasil. De forma particular, a CPI da Covid investiga questões relacionadas a lobby de empresas com políticos e também a pagamentos para que médicos prescrevam drogas do “kit Covid”. Por isso, é importante compreender como o conteúdo sobre cloroquina e hidroxicloroquina circulou nas mídias sociais, em particular, no YouTube, plataforma utilizada por aproximadamente três quartos da população brasileira – segundo dados do Digital News Report, da Reuters Insitute.

Os nossos resultados destacam o papel da imprensa brasileira na promoção de drogas sem eficácia para Covid-19. Isto é especialmente problemático porque a imprensa acaba contribuindo com o contexto de desinformação sobre a pandemia no Brasil. Além disso, vimos que as ações do YouTube no combate a desinformação foram insuficientes. Mais do que isso, o YouTube acabou promovendo conteúdo pró-HCQ ao mais frequentemente recomendar vídeos que promoviam as drogas.

 

Autores

Os autores deste artigo são Felipe Soares (MIDIARS), Igor Salgueiro (UFPEL), Carolina Bonoto (UFRGS) e Otávio Vinhas (UCD).

Manifestações de 07 de Setembro

A pedido do Estadão, demos uma olhada na mobilização em torno do 07 de setembro no Twitter e no Facebook. Buscamos por “07 de setembro”, de modo a observar um conjunto maior de dados, para além das hashtags que apresentam alguma filiação partidária ou ideológica. Para a coleta de dados utilizamos a API do Twitter através do Social Feed Manager e para dados do Facebook utilizamos o CrowdTangle.  Para análise, utilizamos Análise de Redes Sociais, focando em métricas de grupabilidade, grau de entrada e grau de saída. As principais observações estão a seguir.

Twitter

É um dos espaços mais interessantes para observar o contexto de articulação das manifestações. Coletamos aproximadamente 500 mil tweets entre os dias 30 de agosto e 02 de setembro. O que observamos, primeiramente é que existem dois grandes grupos articulando conversações em torno do tema. O primeiro, parece ter atores da esquerda entre os mais centrais (grupo verde), além de alguns veículos informativos. O segundo, o grupo rosa, é claramente bolsonarista, com atores centrais vinculados a grupos políticos de apoio ao presidente. (Observamos os nós mais centrais pelo grau de entrada ou indegree). (Figura 1)

Figura 1: Manifestações sobre o 07 de setembro no Twitter. Fonte: MIDIARS

Observamos também um maior nível de homogeneidade e conexão no grupo rosa, indicando um grupo bastante fechado. As conexões entre os dois grupos referem-se, principalmente, a citações entre os atores.

O grupo verde é menos coeso e mais múltiplo, com um maior número de atores diversos e citações a vários outros grupos (embora atores voltados à esquerda sejam mais centrais).

O ponto que achamos mais interessante é o da métrica de outdegree (grau de saída). O grupo rosa tem uma quantidade grande de atores que tuíta muito e repetidamente sobre o tema usando os termos da busca. Entre os nós que tuitaram mais de 50 vezes sobre o tema, nos três dias de coleta, a maioria está neste grupo (Figura 2). Olhando um pouco mais para esse grupo de nós muito ativos, observamos vários indícios de artificialidade e ativismo, como uma quantidade gigante de tweets em um curto espaço de tempo (por exemplo, contas com média de 1000 tweets por dia), contas relativamente novas, mas com alta quantidade de tweets, monotemas e etc. Isso mostra que há um grupo muito engajado (que possivelmente conte com contas artificiais ou mecanismos artificiais) que está diretamente envolvido com a promoção da manifestação e  ganho de visibilidade para a mesma, buscando tornar esta pauta presente na conversação.

Figura 2: Contas mais ativas nas conversações. Fonte: MIDIARS

Facebook

No Facebook, a conversa nas páginas e grupos públicos está bem menos inflada. Vimos cerca de 35 mil posts públicos, dos quais 16839 com links. Aqui temos apenas os posts com links na imagem a na análise, pois eles mostram uma filiação e uma conversação entre os diferentes grupos (o que poderia indicar uma articulação ou envolvimento maior de grupos).  Quanto maior o nó, maior a quantidade de vezes que ele publicou posts com links para conteúdos sobre as manifestações. Também é importante salientar que não coletamos dados privados, ou seja, só vemos o que aparece publicamente no Facebook.

Na figura 3, vemos as páginas e grupos que se manifestaram sobre o assunto. Temos três grupos de páginas: As do lado esquerdo, que apresentam um alinhamento discursivo com a esquerda (páginas relacionadas ao Partido do Trabalhadores, com denominações da esquerda e etc.), as do centro, que são veículos noticiosos e as da direita, que representam um núcleo de páginas de apoio à polícia, exército e forças armadas, páginas de conteúdo hiperpartidário, páginas defendendo golpe e páginas bolsonaristas e de apoio ao presidente. Esses dados indicam novamente a articulação dos centros discursivos manifestação, porém de um modo menor que o do Twitter. Os dois núcleos polarizados estão unidos pelas citações à mídia tradicional. O núcleo bolsonarista, no entanto, é mais ativo e compartilha mais conteúdo do que os demais.

Figura 3: Núcleo de páginas e grupos falando sobre o assunto no Facebook. Fonte: MIDIARS

Além disso, temos um grande universo de páginas que não se citam ou não compartilham conteúdo de outras no período analisado (7 dias), gravitando em torno deste núcleo (Figura 4)

Figura 4: Todas as páginas e grupos que falaram nas manifestações. Fonte: MIDIARS

De um modo geral, também, há uma tendência de queda nas interações sobre o assunto, pelo menos até a data do dia 03 (Figura 5).

Figura 5: Tendência de postagem e interações. Fonte: CrowdTangle

As interações e publicações mais recentes também parecem estar mais ativas nos grupos bolsonaristas, com uma menor ativação dos grupos da esquerda (Figura 6). Na imagem a seguir, vemos as últimas 24h, onde há uma concentração da ação e da atividade entre as páginas entre os grupos de apoiadores do presidente, defensores das forças armadas e de golpe militar.

Figura 6: Grupos e páginas mais ativos no dia 02. Fonte: MIDIARS

Conclusões

De um modo geral, as conversações na mídia social não permitem predições sobre a movimentação nas ruas. O que podemos dizer é o que estas conversações estão mostrando hoje. Porém, parece-nos que:

  • Há uma maior articulação de grupos bolsonaristas e de extrema direita, ainda que essa articulação seja, em muitos casos, artificializada com o uso de automatização.  Os grupos de esquerda estão menos articulados e, no Facebook, por exemplo, parecem menos ativos nos últimos dias.  Aliás, todos os grupos e conversações parecem menos ativos nos últimos dias, o que é incomum para manifestações. Geralmente espera-se que o engajamento aumente, não reduza, e que a articulação aumente, não reduza.
  • Há uma articulação fortemente baseada em automatização nas conversações da direita.
  • As conversações sobre as manifestações não parecem derramar para a sociedade civil como um todo, mantendo-se concentradas nos grupos vinculados às diferentes ideologias.

Características do Discurso Antivacina no Twitter

Esta semana saiu o e-book “Linguagem, Tecnologia e Ensino” organizado pelos professores Roberta Caiado e Vilson Leffa. O e-book tem um capítulo escrito por Raquel Recuero e Elisa Stumpf, pesquisadoras do MIDIARS e do PPGL/UFPEL e trata de “Características do Discurso Desinformativo no Twitter: Estudo do discurso antivacinas do Covid-19”.

Neste artigo, as autoras analisam as estratégias de legitimação discursos prevalentes no espalhamento do discurso antivacina do Covid-19, mostrando como no Twitter (entre agosto e dezembro de 2020), a vacina é politicamente enquadrada (vacina do Doria) e construída como “comunista” e “chinesa” como elementos negativos. O discurso antivacina neste caso específico está ancorado em um contexto macro que legitima a narrativa através de referências a um enquadramento político, onde tomar ou não vacina significa apoiar ou não um viés político-partidário. A principais estratégias de legitimação refletem uma autorização moral (enquadrando essas atitudes antivacina como uma cruzada moral) e de mitopoesia, que utilizam historietas e narrativas anedóticas para construir um discurso de “bem” x “mal”. A possível obrigatoriedade e o antagonismo entre os discursos pró vacina e antivacina também são discutidos.

O livro também conta com vários outros textos de linguagem, texto e ensino. Há vários capítulos relevantes para quem estuda linguagem e mídia digital, incluindo “Aspectos Multimodais nas Redes sociais Virtuais” do Robson Oliveira, “Relações Dialógicas nos Memes:Como a carnavalização e o riso contam a história política no Brasil de 2019” de Francilene Cavalcante e “Práticas contemporâneas de leitura: o que temos a aprender com ‘fake news'” de Beatriz Cruz e Valdir Silva. Ele está disponível para download aqui.

A coleção também conta com outro livro da área de Linguística, “Linguagem, Variacao e Estrutura, organizados por Carmen Matzenauer (pesquisadora do PPGL/UFPEL) e Demerval da Hora, com diversos textos sobre aquisição e variação da linguagem, disponível também aqui para quem se interessar.

Repercussão do nosso relatório na mídia

Neste post, agregamos os links para acessar algumas das reportagens e comentários da imprensa e outras instituições de pesquisa sobre relatório “Desinformação, Mídia Social e Covid-19“, lançado no dia 17 de maio.

Reportagens da imprensa:

 

Análise:

 

Newsletter:

  • A International Fact-Checking Network – Poynter indicou o nosso relatório como sugestão de leitura em sua newsletter, a Factually.
  • Também fomos citados na newsletter do ObjETHOS, que dá destaque para um dos resultados do nosso relatório: o alto engajamento dos usuários que compartilham desinformação.

 

Quer conversar conosco sobre o relatório? Entre em contato por raquel.recuero@ufpel.edu.br (Raquel Recuero) ou fbonowsoares@gmail.com (Felipe Soares).

DESINFORMAÇÃO SOBRE COVID-19 NA MÍDIA SOCIAL BRASILEIRA: Laboratório MIDIARS divulga relatório de pesquisa

Está disponível o novo relatório de pesquisa sobre desinformação e Covid-19 na mídia social brasileira do Laboratório MIDIARS. O relatório sistematiza o um ano (2020) de pesquisas sobre o assunto, que buscou investigar os elementos de  desinformação sobre a pandemia na mídia social brasileira, bem como sugerir possíveis formas de combate ao fenômeno com base no trabalho.

Dentre os principais resultados, a pesquisa aponta que foram fundamentais  para o espalhamento da desinformação (1) o enquadramento político-partidário da pandemia e do vírus, potencializado pela polarização política; (2) a dificuldade do conteúdo verificado em circular dentro das bolhas polarizadas e extremizadas politicamente;  (3) o alto engajamento dos usuários que compartilham desinformação; (4) o enquadramento do jornalismo declaratório como suporte do conteúdo desinformativo; (5) o papel de autoridades políticas e de saúde que legitimam o conteúdo problemático através de sua posição social ou cargo público; (6) a ação de veículos apócrifos hiperpartidários na produção e espalhamento desses conteúdos problemáticos; (7) a desconfiança em relação a vacinas em função do enquadramento político do tema; (8) a associação do discurso desinformativo ao discurso da violência através da promoção da xenofobia contra a China e asiáticos em geral.

As recomendações para combate à desinformação caminham por uma ação urgente dos agentes institucionais e estatais na criação de campanhas contra esses conteúdos problemáticos que circulem não apenas na mídia social, mas também na tradicional (já que é muito difícil “furar as bolhas”); ações de letramento digital e fomento ao debate público com autoridades científicas sobre os temas-chave; cobrança de ações de combate à desinformação nas plataformas; responsabilização de agentes públicos na propagação e legitimação dos conteúdos falsos; ações dos veículos jornalísticos para evitar manchetes de baixa qualidade, de modo a impedir que sejam usados para dar credibilidade à desinformação.

O relatório com os resultados detalhados está aqui: Desinformação covid midiars 2021

E aqui você pode conferir uma apresentação em PDF do relatório.

Para entrar em contato conosco, estamos disponíveis através de raquel.recuero@ufpel.edu.br (Raquel Recuero) e fbonowsoares@gmail.com (Felipe Soares).

 

 

Nova publicação: How the Mainstream Media Help to Spread Disinformation about Covid-19

Principais pontos

  • Analisamos o compartilhamento de links da imprensa em grupos públicos no Facebook em três eventos relacionados a Covid-19. Particularmente, olhamos para manchetes que poderiam reforçar narrativas de desinformação.
  • Descobrimos que os grupos que compartilham as manchetes “problemáticas” não são os mesmos grupos que compartilham outros links da imprensa. Isto é, temos dois ecossistemas de informação distintos.
  • Identificamos também que estes links da imprensa com manchetes “problemáticas” são compartilhados em sua maioria em publicações no Facebook acompanhadas de mensagens desinformativas.

 

Overview

O nosso artigo “How the Mainstream Media Help to Spread Disinformation about Covid-19” foi publicado na última edição do M/C Journal. No artigo, analisamos publicações em grupos públicos no Facebook que incluíam 20 links da imprensa sobre Covid-19. Estes links foram selecionados a partir de uma análise de conteúdo para identificar manchetes que poderiam contribuir para narrativas de desinformação. Dez links possuíam manchetes “problemáticas” e os outros dez foram utilizados como um grupo controle, contendo manchetes sobre as mesmas temáticas, mas sem informações que poderiam reforçar a desinformação. Descobrimos que a maioria dos links que poderiam contribuir para narrativas desinformativas eram compartilhados em grupos que não compartilham os links do grupo controle. Foi o que chamamos de bolha da desinformação, já que também olhamos para as publicações nos grupos públicos com estes links e identificamos que a grande maioria (86,2%) eram acompanhadas de mensagens que reproduziam desinformação – como afirmar que vacinas são perigosas e que medidas de distanciamento social são desnecessárias.

A nossa pesquisa mostra como jornalistas devem estar atentos na produção de manchetes quando publicam notícias. Afinal, manchetes mal construídas, como as que analisamos, acabam sendo utilizadas para legitimar discursos desinformativos nas mídias sociais. Assim, a imprensa pode acabar contribuindo para o espalhamento de desinformação sobre Covid-19.

 

Método

O primeiro passo para a construção do nosso corpus de análise foi selecionar três eventos relacionados à pandemia de Covid-19 no Brasil. O primeiro evento selecionado foi a repercussão de pronunciamento de Jair Bolsonaro em 24 de março de 2020, quando minimizou a pandemia, criticou as medidas de distanciamento social e afirmou que era necessário salvar a economia. O segundo evento foi quando especialista da OMS falou que a transmissão da doença através de pacientes assintomáticos parecia ser rara. O terceiro evento foi quando a Anvisa interrompeu os testes da vacina Coronavac.

A partir de uma análise exploratória no Facebook, utilizando o CrowdTangle, selecionamos os links da imprensa mais compartilhados sobre cada um dos eventos. Utilizamos a análise de conteúdo (com dois analistas) para identificar manchetes que poderiam reforçar narrativas desinformativas. Por exemplo: (1) “Desemprego é crise muito pior do que coronavírus”, diz Bolsonaro; (2) Pacientes assintomáticos não impulsionam coronavírus, diz OMS. Consideramos problemáticas apenas as manchetes marcadas pelos dois analistas. Destas, selecionamos as dez de maior compartilhamento nos grupos públicos do Facebook para analisar. Para criar um “grupo controle”, que nos ajudaria a identificar onde geralmente circulam as notícias da imprensa, selecionamos também as dez manchetes com maior número de publicações em grupos públicos do Facebook que não foram marcadas como problemáticas por nenhum dos analistas.

A partir destas 20 manchetes, realizamos nova busca com o CrowdTangle. Utilizamos a plataforma para coletar publicações de grupos públicos do Facebook que incluíam o link para alguma destas notícias. No total, coletamos 2762 posts. Utilizamos a análise de redes sociais para mapear os grupos que compartilhavam estes links, identificando “comunidades” que compartilham links semelhantes (métrica de modularidade). Utilizamos também a análise de conceitos conectados para explorar os nomes dos grupos de cada comunidade. Por fim, utilizamos novamente a análise de conteúdo (dois analistas) para analisar as mensagens de posts que compartilhavam as manchetes que reforçavam a desinformação sobre Covid-19.

 

Resultados

A nossa análise mostra que as manchetes que poderiam reforçar a desinformação são publicadas, em sua maioria, em grupos que não publicam os links do nosso “grupo controle”. No total, apenas 10,7% dos grupos possuíam posts com os links de manchetes problemáticas e posts com links do grupo controle. Entre os outros grupos, 43,8% compartilhou apenas links com manchetes que reforçavam a desinformação e os outros 45,5% compartilharam os outros links da imprensa. Isto pode ser visto na imagem 1, em que links problemáticos estão em vermelho e links do grupo controle estão em azul; e na imagem 2, em que são identificadas duas comunidades a partir da métrica de modularidade (os sete links do grupo roxo foram identificados como problemáticos).

Figura 1. Grafo de rede

 

Figura 2. Grafo de rede com modularidade

 

Para explorar que tipos de grupos faziam parte de cada comunidade, selecionamos os nomes dos grupos e criamos uma rede de conceitos a partir do método chamado análise de conceitos conectados. Este método nos permite identificar os termos mais presentes nos nomes dos grupos e suas conexões (quando aparecem juntos, são parte de um mesmo nome de grupo). Descobrimos que a comunidade roxa (Figura 3), onde circularam as manchetes que reforçavam desinformação, possui alinhamento político próximo de Bolsonaro e outras temáticas da extrema-direita. Entre os grupos mais ativos estão: “Aliança pelo Brasil”, “Bolsonaro 2022”, “Nação Bolsonaro 2022” e “Sou de direita com orgulho”. Já na comunidade verde (Figura 4), Bolsonaro também aparece com centralidade, porém está principalmente associado a conceitos contrários ao seu nome (contra, fora, anti). Também aparecem grupos de esquerda e de localidades (Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, entre outros). Estão entre os grupos mais ativos: “Somos 70%”, “União da Esquerda”, “Lula presidente”, “Anti-Bolsonaro”. Portanto, descobrimos que, na média, as duas comunidades representam diferentes discursos políticos.

Figura 3. Rede de conceitos do grupo roxo

 

Figura 4. Rede de conceitos do grupo verde

 

Por fim, olhamos para as publicações que compartilhavam links de manchetes problemáticas. Após a análise de conteúdo, descobrimos que 81,8% das publicações com estes links também incluíam mensagens com desinformação no post. Este número é maior na comunidade roxa, que chamamos de “bolha de desinformação”, já que 82,6% dos posts incluíam mensagens com desinformação junto dos links da imprensa. Alguns exemplos de mensagens são: “DESEMPREGO, A CÂMARA DOS DEPUTADOS, O SENADO E O STF MATAM MAIS DO QUE COVID19”; “QUARENTENA FAKE #FicaEmCasa, a mentira do século”; “E o Dória quer te forçar a tomar esta merda [vacina Coronavac]”.

 

Relevância

A imprensa tem um papel importante na divulgação de informações sobre a pandemia. Porém, manchetes como as que analisamos podem contribuir para a legitimação e o espalhamento de desinformação. Manchetes que apenas reproduzem declarações (desinformativas) de políticos, que se utilizam de clickbaits, ou que incluem informações fora de contexto podem contribuir para o que a Organização Mundial da Saúde chamou de Infodemia. Cabe aos jornalistas e aos veículos de imprensa ter um cuidado especial na produção de manchetes, já que este é o conteúdo mais visível no compartilhamento de notícias em mídias sociais.

 

Autores e financiamento

Os autores deste artigo são Felipe Bonow Soares (MIDIARS) e Raquel Recuero (UFPEL/UFRGS). O estudo contou com o apoio do CNPq e da FAPERGS. Os dados foram coletados através do CrowdTangle, a quem também agradecemos pelo acesso.

Nova publicação: Research note: Bolsonaro’s firehose: How Covid-19 disinformation on WhatsApp was used to fight a government political crisis in Brazil

Publicamos na Harvard Misinformation Review um paper inicial sobre as ações no WhatsApp dos grupos que espalham desinformação sobre Covid-19.   Neste estudo, analisamos mensagens desinformativas sobre Covid-19 em grupos públicos do WhatsApp. Nossos principais resultados mostram um enquadramento político da desinformação e alta prevalência de teorias da conspiração. Em particular, esta desinformação foi utilizada para reforçar uma narrativa da extrema-direita e combater uma crise sofrida pelo governo Bolsonaro.

Os nossos resultados mostram como a desinformação sobre Covid-19 no WhatsApp conectou a pandemia a questões políticas, produzindo um conteúdo que favorecia uma narrativa de extrema-direita. De forma particular, identificamos como Bolsonaro ajudou a mobilizar esta campanha de desinformação, tendo impacto no número de compartilhamentos e nos tópicos das mensagens. Estes resultados implicam que o discurso de legitimação de líderes políticos pode influenciar diretamente o espalhamento de desinformação sobre Covid-19.

Autores e financiamento
Os autores deste artigo são Felipe Soares (MIDIARS), Raquel Recuero (UFPEL/UFRGS), Taiane Volcan (MIDIARS), Giane Fagundes (UFPEL) e Giéle Sodré (UFPEL). O estudo contou com o apoio da CAPES, CNPq e da FAPERGS. Agradecemos a equipe do Monitor das Eleições, que permitiu o acesso aos dados utilizados no estudo.

Esta pesquisa já tem outros resultados que foram publicados em Português em preprint no Scielo.