Pesquisadoras do Midiars têm trabalhos aprovados na 24ª Conferência da AoIR

O Laboratório Midiars tem presença confirmada em mais um importante evento internacional, trata-se da 24ª Conferência Anual da AoIR (Association of Internet Researchers), que ocorre em outubro, na Philadelphia. O grupo obteve a aprovação de três trabalhos para a conferência, que neste ano tem como eixo central “Revoluções” e irá debater as promessas e falhas relacionadas às tecnologias digitais. A conferência deste ano é organizada pela Universidade de Temple (TU) e pela Universidade da Pennsylvania (Penn).

Segundo a organização da AoIR, o objetivo da conferência é debater questões complexas e cruciais para a sociedade contemporânea, entre elas: Como as tecnologias digitais têm sido inscritas em projetos revolucionários? Como os discursos de revoluções tomaram forma em projetos de justiça social, na reorganização de ordens sociais ou como manipulações corporativas de promessas revolucionárias? Questões extremamente atuais no debate sobre tecnologias digitais e que atravessam diversas das pesquisas desenvolvidas no âmbito do laboratório Midiars.

Veja os trabalhos das pesquisadoras do Midiars aceitos para a AoIR 2023:
>> Toxicity against brazilian women deputies on Twitter: a categorization of discursive violence | Raquel Recuero (UFPel/ UFRGS) e Camilla Tavares (UFMA)
>> Jair Bolsonaro and the National Congress of Brazil | Marco Bastos (University College Dublin) e Raquel Recuero (UFPel/UFRGS)
>> Mineral exploration in indigenous lands: The discursive normalization of illegal mining in Brazil | Taiane Volcan (UFPel)

MIDIARS é indicado ao Prêmio Luiz Beltrão da Intercom, na categoria “grupo inovador”

É com imensa alegria que o laboratório Midiars anuncia que foi indicado ao Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação 2023, na categoria “grupo inovador”. As indicações são feitas pela comunidade acadêmico-científica e homologadas pela Diretoria Cultura da Intercom de acordo com os critérios estabelecidos no regulamento do prêmio. Agora, os indicados seguem para avaliação do júri, composto por ex-presidentes da  Intercom, pelo presidente atual da entidade, Juliano Domingues (Unicap), e por vencedores(as) da categoria Maturidade Acadêmica em edições anteriores.

A premiação será durante a etapa presencial do Intercom 2023, entre os dias 5 e 8 de setembro, na PUC Minas, em Belo Horizonte. Veja a lista completa de indicados na categoria “Grupo Inovador 2023”:

  • Agência Nacional de Favelas;
  • GP Comunicação Antirracista e Pensamento Afrodiaspórico da Intercom;
  • Leme – Laboratório de Estudos em Mídia e Esportes;
  • Midiars – Laboratório de Pesquisa em Mídia, Discurso e Análise de Redes Sociais;
  • Núcleo de Comunicação o Observatório Agro Catarinense;
  • NER – Núcleo de Estudos de Rádio da UFRGS;
  • Podcast Áfricas do Joá – Pluriverso;
  • RNDC Brasil – Rede Nacional de Combate à Desinformação.

Internacionalização: Pesquisadores do Midiars participam de atividades de ensino e pesquisa na UFRGS

Aula inuaugralOs pesquisadores do laboratório MIDIARS participaram, entre os dias 5 e 8 de dezembro, de uma série de atividades de internacionalização. O grupo recebeu a visita do professor Dr. Marco Bastos, Astra Fellow na Escola de Comunicação e Informação da University College Dublin e Senior Lecturer da City of London, para o encerramento do projeto de internacionalização da FAPERGS no PPGCOM/UFRGS, focado em Desinformação. Além de uma aula aberta para a comunidade e de dois seminário de métodos, os pesquisadores participaram de uma série de reuniões para o planejamento de artigos e parcerias futuras com o professor visitante.

Na segunda-feira, 5, a coordenadora do Midiars, Raquel Recuero, apresentou o seminário “Introdução à análise de redes”, onde retomou conceitos fundamentais para a pesquisa em plataformas digitais. Na noite do dia 5, foi realizada uma aula aberta para a comunidade, com o professor Marco Bastos, intitulada “Desinformação como contrato social: notas sobre a realidade do consenso”. Bastos abordou alguns dos grandes desafios e paradoxos relacionados à desinformação na sociedade contemporânea e como a pesquisa pode contribuir para mitigar o problema.

Na terça-feira, 6, o professor Marco Bastos conduziu o seminário “Métodos Digitais – Desve

ndando o Twitter”, onde apresentou uma introdução à linguagem R, com métodos de pesquisa específicos para o estudo e extração de dados do Twitter e do TikTok para a análise de rede social.

Nos dias 7 e 8 os pesquisadores participaram de reuniões e rodadas de orientação individual com os professores Raquel Recuero e Marco Bastos. Nesses encontros, além da discussão de teses e dissertações, foram encaminhados diversos artigos e projetos futuros para o Midiars. A última visita de Bastos ao Midiars, em 2019, resultou em diversos artigos e também na ida de um dos pesquisadores do grupo para Dublin, onde atualmente desenvolve o seu doutorado.

Todas as atividades desta semana foram proporcionadas pelo Edital de Internacionalização da FAPERGS e encerraram o ciclo de intercâmbio com a University College Dublin com a promessa de parcerias futuras.

#Publicações: Novo artigo do Midiars analisa como a checagem de fatos circula em grupos de extrema-direita do Facebook

O novo artigo dos pesquisadores do Midiars “Framing Covid-19: how fact-checking circulate on the facebook far-right”, analisa um dos fatores fundamentais para compreender o fenômeno da desinformação, que é a dificuldade de circulação da checagem de fatos. Com o intuito de observar a influência política sobre a desinformação, analisamos como os links de checagem de fatos sobre a pandemia de Covid-19 circularam entre grupos e páginas de extrema-direita em comparação com outros grupos que também compartilharam desinformação no Facebook. Além disso, foi analisado o enquadramento dado aos links de checagem de fatos, ou seja, se o objetivo do compartilhamento, nesses grupos, foi legitimar ou desqualificar o trabalho das agências de checagem.

Nossos resultados sugerem que os grupos de extrema-direita são mais propensos a resistir à checagem de fatos. Além disso, embora a checagem circule em alguns grupos politicamente radicalizados, o enquadramento dado é justamente o da negação, ou seja, a checagem de fatos passa a ser objeto de questionamento. Os resultados apontam, também, o caráter conspiratório do discurso desses grupos, especialmente em relação à imprensa profissional. Por fim, nossos achados indicam que um efetivo combate à desinformação precisa ir além do aumento da checagem de fatos, especialmente por parte das plataformas.

O artigo faz parte do novo livro publicado pelo LabCom (Universidade da Beira Interior) e que faz parte da coleção Communication Books: Disinformation Studies: Perspectives from an Emerging Field. O e-book completo está disponível para download gratuito no link: https://labcomca.ubi.pt/disinformation-studies-perspectives-from-an-emerging-field/

Pesquisadores do Midiars apresentam trabalhos no SEICOM da PUC-RS

Nos dias 17 e 18 de novembro pesquisadores do Laboratório Midiars apresentaram seus trabalhos no XV Seminário Internacional da Comunicação: Diversidade, Raça e Gênero na Comunicação, organizado pela PUC-RS. O evento foi realizado de forma online, possibilitando a apresentação de quase 200 trabalhos, de pesquisadores de todo o Brasil. Entre eles, nove pesquisadores do MIDIARS, que apresentaram oito trabalhos.

Com temáticas diversas, os trabalhos representam uma amostra das pesquisas mais recentes desenvolvidas no MIDIARS, com foco nos estudos sobre desinformação; gênero; raça e política em plataformas digitais.

 

Confira a lista de trabalhos apresentados pelo grupo:

  • Neoconservadorismo e a desinformação sobre gênero e sexualidade no Brasil (Carolina Bonoto);
  • O discurso LGBTfóbico na divulgação do Novo Polo no Twitter (Maurílio Luiz Hoffmann da Silva);
  • Polarização política no Twitter no Dia da Consciência Negra em 2021 (Suzana Guedes Cardoso; Taiane Volcan; Fernanda Mendonça; Franceli Jorge);
  • Mídias sociais e as disputas discursivas sobre o aborto no Brasil (Taiane de Oliveira Volcan; Carolina Bonoto; Luiz Ricardo Goulart Hüttner);
  • O discurso de culpabilização da vítima de estupro no Instagram (Franceli Couto Jorge);
  • A representação de mulheres conservadoras no instagram (Daniela Silva Agendes);
  • Análise do discurso de neopopulistas sobre direitos humanos (Julia Vilas Boas);
  • O reforço de crenças no Twitter através de teorias da conspiração (Luiz Ricardo Goulart Hüttner).

 

Midiars estará presente na II Jornada de Ciências da Comunicação-FLUC

Pesquisadores do Laboratório Midiars apresentam dois trabalhos no evento internacional II Jornada de Ciências da Comunicação-FLUC, organizado pela Universidade de Coimbra. A jornada será realizada nos dias 14 e 15 de junho, de forma virtual e terá seu debate centrado em “questões críticas e emergentes” da comunicação.

A pesquisadora Fernanda Mendonça apresentará o trabalho “Fake news e violência política de gênero: na mira Manuela d’Ávila”, já Raquel Recuero e Taiane Volcan apresentam “Exploração mineral X Garimpo ilegal: A apropriação e a manipulação do discurso ambiental no Twitter”. Os dois trabalhos debatem um dos temas centrais de investigação no Midiars nos últimos anos, a desinformação no contexto das plataformas digitais.

A II Jornada de Ciências da Comunicação-FLUC terá ainda um workshop sobre escrita acadêmica e palestras com Muniz Sodré (Professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Brasil); Anabela Carvalho (Professora Associada do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho); Maria José Carvalho (Coordenadora da Biblioteca Norte/Sul, do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra) e Maria João Silveirinha (Professora Associada da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e Investigadora do Instituto de Comunicação da Universidade Nova de Lisboa).

Divulgação científica: o MIDIARS surfando nas redes

Por Joao Pedro

 

A divulgação do trabalho científico é fundamental para a propagação do conteúdo e dos resultados das pesquisas desenvolvidas pelo Laboratório Midiars (UFPel). Ir além do âmbito acadêmico e alcançar a comunidade é um dos principais propósitos do Laboratório de Pesquisa e, por isso, a equipe do MIDIARS procura sempre participar de ciclos de palestras, entrevistas e programas que ampliem o debate sobre ciência, comunicação e redes sociais.

 

Em 2022, o grupo continua com uma agenda repleta de atividades importantes para a divulgação da ciência e o combate à desinformação, o lançamento da Rede Interinstitucional de Enfrentamento da Desinformação em Saúde, que contou com a participação da coordenadora do grupo, Raquel Recuero.

 

O debate sobre polêmica venda do Twitter para o bilionário Elon Musk contou com diversos comentários das coordenadoras do grupo, Raquel Recuero e Taiane Volcan. Raquel foi fonte para os principais veículos de comunicação do país, como G1, Estadão e BBC Brasil, já Taiane participou do MyNews e do Podcast Anticast que comentaram o episódio, ainda em definição. Também no MyNews, Taiane Volcan participou de um episódio do programa Café MyNews que discutiu as estratégias digitais utilizadas por grupos bolsonaristas.

 

No programa, a pesquisadora discute o uso de memes na política, desde sua origem até as estratégias atuais utilizadas pelo presidente Jair Bolsonaro. Taiane afirma que é um método muito efetivo e está em vigor no Brasil desde 2013: “Os políticos publicarem memes têm um efeito de aceitação nas pessoas, potencializa essa aceitação e nós vivemos um momento que falar de política está muito difícil, então o humor abre essa brecha na comunicação com o público”. Já sobre a última compra de destaque do Elon Musk, ainda não há uma resposta exata, porém existe uma grande chance de mudanças ocorrerem: “Musk defende que o Twitter é um espaço de debate público, irrestrito e que o objetivo da sua compra é ter essa democracia irrestrita e essa liberdade de expressão absoluta. Porém, o controle de uma plataforma global é muito mais do que uma simples contribuição para o debate público”, afirma Taiane.

As entrevistas citadas aqui e outras participações dos pesquisadores do grupo MIDIARS estão disponíveis nos links abaixo:

 

Participação de Raquel Recuero no lançamento da Rede Interinstitucional de Enfrentamento da Desinformação em Saúde: https://www.youtube.com/watch?v=XVCUCFd3QsM&t=4089s

  • Pesquisadora explica estratégias digitais bolsonaristas, com a pesquisadora Taiane Volcan

https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=53_oWAGfSzg&ab_channel=MyNews

  • O Twitter de Elon Musk, com a pesquisadora Taiane Volcan

https://www.youtube.com/watch?v=PVeity6AobA&t=1273s&ab_channel=MyNews

Participação no programa Apura Verdade: https://www.youtube.com/channel/UC2klmeLZtHyr2YoTHouENKw/featured

Divulgação Científica: Últimas entrevistas, palestras e podcasts do Midiars

Por Taiane Volcan

Uma das principais atividades do grupo de pesquisa é a divulgação do trabalho científico. Tão importante quanto as análises e produção de artigos, para nós, é fundamental que os resultados e descobertas das nossas pesquisas cheguem até às pessoas. De preferência, de maneira clara e simples. Por isso, o MIDIARS faz questão de aceitar convites para entrevistas, palestras e eventos, especialmente quando o foco é debater temas atuais e relevantes para a sociedade e que estejam relacionados com os nossos temas de pesquisa.

Nesse sentido, os meses de outubro e novembro de 2021 foram especialmente ativos para o grupo. Tivemos a oportunidade de palestrar em eventos acadêmicos, participar de podcasts e dar algumas entrevistas que, esperamos, poderão ajudar até quem não é do meio acadêmico a compreender um pouco melhor as mídias digitais, o fenômeno da desinformação e o trabalho que desenvolvemos aqui no MIDIARS.

Confira a seguir:

 

MIDIARS na sala de aula

Além de entrevistas e eventos acadêmicos, sempre que possível os(as) pesquisadores(as) participam de atividades acadêmicas, falando um pouco mais sobre as possibilidades e rotinas de uma carreira acadêmica na área da comunicação. Em novembro, o doutorando Calvin Cousin representou o laboratório na aula de Introdução do Jornalismo da UFPel e tirou diversas dúvidas dos futuros jornalistas e, quem sabe, pesquisadores!

MISDOOM 2021: Em evento internacional, pesquisadores do Midiars apresentam trabalhos sobre os efeitos da desinformação

Por Taiane Volcan

 

Nos dias 21 e 22 de setembro, apresentamos os resultados de alguns dos trabalhos desenvolvidos nos últimos meses pelo grupo, relacionados ao tema da desinformação, no Multidisciplinary International Symposium on Disinformation in Open Online Media (MISDOOM), organizado pela Universidade de Oxford.

O MISDOOM é um importante evento internacional para divulgação dos estudos sobre desinformação no país e também um espaço fundamental para a publicização e para o registro histórico sobre as características e práticas relacionadas à desinformação no contexto brasileiro.

Conheça os trabalhos apresentados:

 

Disinformation, Fact-Checking and the Far-Right: The Covid-19 pandemic on Facebook in Brazil:

(Raquel Recuero, Felipe Soares, Taiane Volcan, Otávio Vinhas, Ricardo Huttner e Victória Silva)

 

No primeiro dia, a coordenadora do Midiars, Raquel Recuero apresentou uma análise comparativa sobre a circulação de conteúdos desinformativos e de checagem de fatos sobre Covid-19 em páginas e grupos públicos do Facebook. O objetivo do estudo foi compreender como estes conteúdos circulam na plataforma, em quais grupos e páginas circulam mais e quais os efeitos da ideologia política no compartilhamento de links sobre Covid-19 no Facebook.

 

Para este estudo, usamos um conjunto de dados de 568 links de desinformação verificados sobre a Covid-19 fornecidos pela International Fact-Checking Network (IFCN)/Poynter, que foram analisados com o suporte do CrowdTangle. Os resultados demonstram que a desinformação circulou quase quatro vezes mais do que a verificação de fatos e que apenas 10% dos grupos que compartilharam desinformação também compartilharam um link de verificação de fatos.

 

Observamos, também, que a questão socioeconômica tem um papel fundamental na circulação da desinformação e na limitação do acesso a dados verificados. A maior parte da desinformação era composta por conteúdo nativo do Facebook, ou seja, os usuários não precisavam acessar outras páginas para ler o material completo. Já a checagem de fatos, normalmente, direcionava os usuários para outros sites, o que pode representar a cobrança pelo uso de dados móveis.

 

Por fim, identificamos que grupos e páginas políticos (principalmente de extrema direita), de mídia alternativa (hiperpartidários) e religiosos desempenham um papel importante na circulação de desinformação. Estes grupos eram, em sua maioria, ligados ao presidente Jair Bolsonaro. Além disso, o compartilhamento seguiu um padrão de cluster, ou seja, os mesmos usuários publicaram a maior parte das desinformações encontradas na rede. Com isso, consideramos que a disseminação de desinformação no Facebook sobre a pandemia da Covid-19 apresentou um caráter extremamente político e polarizado.

 

 

“Made in China”: Disinformation and Sinophobia on Facebook during the Covid19 pandemic in Brazil:

(Elisa Stumpf, Felipe Soares, Taiane Volcan)

 

Neste estudo, analisamos postagens de páginas e grupos públicos do Facebook para explorar o papel da desinformação e da sinofobia no contexto da pandemia de Covid-19 no Brasil. Fizemos duas coletas de dados, em março e novembro de 2020. Em março, momento em que o​​ termo “vírus chinês” foi reproduzido por políticos brasileiros, em particular pelo filho do presidente da república e deputado federal, Eduardo Bolsonaro. Em novembro, quando novamente Eduardo Bolsonaro divulgou uma teoria da conspiração sobre a Coronavac (a vacina Covid-19 desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan do Brasil), alegando que havia sido criada para fins de espionagem.

 

Para a análise de dados, criamos redes bipartidas para os dois grupos observados (páginas e grupos pró-Bolsonaro e anti-Bolsonaro). O grupo pró-Bolsonaro apresentou um discurso alinhado com a extrema-direita, com ampla reprodução de narrativas desinformativas e sinofóbicas. Já no grupo anti-Bolsonaro, temos veículos de mídia tradicional retratando os eventos e de políticos da oposição criticando Eduardo Bolsonaro.

 

Através da Análise de Conceitos Conectados (CCA – Lindgren, 2016), analisamos as postagens do Facebook contendo links que foram compartilhadas pelo menos 10 vezes em cada grupo. Observamos que os links compartilhados dentro do grupo classificado como pró-Bolsonaro reproduziam narrativas de desinformação, como culpar a China pela pandemia e acusar o país de criar intencionalmente o vírus. Já no grupo anti-Bolsonaro, as publicações reverberam a crise política e diplomática criada pelo governo federal com a China, além de críticas de lideranças de oposição ao comportamento de Eduardo Bolsonaro.

 

Concluímos que os materiais desinformativos sobre a pandemia circularam predominantemente no grupo pró-Bolsonaro e apresentaram um caráter sinofóbico evidente. Esse discurso, especialmente conspiratório, legitima o discurso de ódio e o preconceito contra a China e o povo asiático. Observamos também a relevância dos agentes políticos para a disseminação e legitimação do discurso sinofóbico.

 

 

Disinformation, social networks and cancel culture: notes on pop culture:

(Calvin Cousin)

 

Neste artigo, buscou-se debater o papel da desinformação na chamada “cultura de cancelamento”, tema frequente em debates contemporâneos relacionados à cultura pop e que envolve uma perseguição orquestrada contra determinados sujeitos nas redes. Considerando o contexto brasileiro extremamente polarizado, que atravessa as mais diversas esferas da sociedade, a prática do cancelamento pode decorrer de disputas entre sujeitos e envolver o compartilhamento de desinformação com o objetivo de estimular o cancelamento de adversários ou desafetos.

Para este trabalho, analisamos a 21ª edição do reality show Big Brother Brasil no Twitter, que em sua última semana teve os perfis na plataforma de dois dos mais populares participantes mobilizando seus fãs para lutarem contra as supostas “notícias falsas” espalhadas sobre cada um.

Na análise, observamos que o foco das desinformações espalhadas sobre os participantes teve caráter homofóbico e xenofóbico. Assim, o discurso de ódio foi adotado como uma importante estratégia de mobilização dos fandoms dos participantes para sabotar a vitória do adversário. As publicações apresentavam um forte caráter conspiratório com estímulo à intolerância e discurso de ódio contra os participantes em função de questões como origem (xenofobia) e sexualidade (homofobia). Com isso, foi possível refletir sobre as relações entre os fandoms da cultura pop, o discurso de ódio e a circulação da desinformação nas redes sociais.

Preprint: YouTube as a source of information about unproven drugs for Covid-19: The role of the mainstream media and recommendation algorithms in promoting misinformation

Principais pontos

  • Analisamos 751 vídeos sobre cloroquina e hidroxicloroquina no YouTube. Buscamos compreender como é promovido o conteúdo favorável a essas drogas, que não possuem eficácia no tratamento da Covid-19
  • Identificamos um papel central da imprensa brasileira na promoção do uso de cloroquina e hidroxicloroquina para Covid-19. A maioria dos vídeos com desinformação sobre o tema foram postados por canais da imprensa tradicional.
  • Descobrimos também que os vídeos favoráveis ao uso das drogas receberam mais visualizações e geraram mais interações através de curtidas e comentários.
  • Por fim, identificamos que os algoritmos de recomendação do YouTube também promoveram o conteúdo desinformativo, já que os vídeos pró-cloroquina eram mais frequentemente sugeridos do que os vídeos que apontavam para a falta de eficácia do medicamento.

 

Overview

O nosso artigo “YouTube as a source of information about unproven drugs for Covid-19: The role of the mainstream media and recommendation algorithms in promoting misinformation” está disponível em formato preprint na SocArXiv, servidor de preprints da área da comunicação e de outras ciências sociais da Open Science Framework (OSF). Esta pesquisa será apresentada no dia 13 de setembro, durante a 7ª Conferência do International Journal of Press/Politics.

Neste estudo, exploramos a propagação de conteúdo sobre hidroxicloroquina e cloroquina no YouTube. Utilizamos o YouTube Data Tools para coletar vídeos sobre o tema. Os 751 vídeos do nosso dataset final foram analisados por meio de Análise de Conteúdo e Análise de Redes Sociais. Os principais resultados apontam para papéis centrais da imprensa tradicional brasileira e dos algoritmos de recomendação do YouTube na promoção de conteúdo promovendo as drogas que não possuem eficácia no tratamento da Covid-19.

A nossa pesquisa é relevante para compreender o contexto de promoção de cloroquina e hidroxicloroquina no Brasil. Em particular, nossos resultados apontam para o papel da imprensa brasileira na promoção das drogas, contribuindo para um cenário de desinformação. Além disso, mostramos como o YouTube também acaba promovendo conteúdo favorável a estas drogas, de forma que a plataforma também contribui para o fortalecimento da desinformação sobre Covid-19 no Brasil

 

Método

Utilizamos métodos mistosp ara a análise dos 751 vídeos sobre hidroxicloroquina e cloroquina. Utilizamos a Análise de Conteúdo para identificar o tipo de conteúdo produzido no vídeo: se favorável ao uso de hidroxicloroquina e cloroquina (pró-HCQ), se contrário ao uso das drogas para Covid-19 (anti-HCQ), ou se sem uma posição clara. A Análise de Conteúdo também foi utilizada para identificar o tipo de canal que postou cada um dos vídeos analisados. Com base na Análise de Conteúdo, utilizamos testes estatísticos para comparar o número de visualizações e interações (likes, dislikes e comentários) em vídeos pró-HCQ e anti-HCQ.

Utilizamos a Análise de Redes Sociais para explorar uma rede criada a partir dos vídeos recomendados pelos algoritmos do YouTube. Cada vídeo do nosso dataset era acompanhado por uma lista de até 50 recomendações. Com base nisto, utilizamos métricas de rede (E-I index e coeficiente de clusterização) para identificar a tendência de homofilia nas sugestões do YouTube. Isto é, se os vídeos possuíam tendência a sugerir outros vídeos com o mesmo conteúdo. Além disso, utilizamos testes estatísticos para comparar a média de vezes que vídeos pró-HCQ e anti-HCQ foram sugeridos pelos algoritmos do YouTube no nosso dataset.

 

Resultados

O nosso primeiro resultado relevante aponta para a influência da imprensa na promoção de conteúdo pró-HCQ. Os canais da imprensa brasileira foram maioria entre os produtores de vídeos pro-HCQ no YouTube, como mostra a imagem abaixo. Isto é relevante porque a imprensa é geralmente colocada em oposição a desinformação. Porém, como vimos neste estudo, a imprensa acaba contribuindo para um contexto de desinformação sobre Covid-19 ao promover medicamentos que não possuem eficácia no tratamento da doença.

Exploramos também o número de visualizações, likes, dislikes e comentários dos vídeos, com o objetivo de comparar os índices de vídeos pro-HCQ e anti-HCQ. Descobrimos que os vídeos pró-HCQ receberam mais visualizações, likes e comentários (todos com relevância estatística), enquanto os vídeos anti-HCQ receberam mais dislikes, ainda que sem relevância estatística. Isto mostra uma tendência de engajamento de usuários no YouTube na promoção de conteúdo pro-HCQ.

Na análise sobre a tendência de homofilia das sugestões do YouTube, descobrimos que os algoritmos não favorecem a formação de “câmaras de eco”, de forma geral. Porém, descobrimos que vídeos pró-HCQ possuem maior tendência de sugerir outros vídeos pró-HCQ. Vídeos anti-HCQ e sem posição clara possuem maior tendência a sugerir vídeos com outro tipo de conteúdo do que o apresentado no vídeo. Assim, há maior tendência de homofilia entre os vídeos pró-HCQ. Descobrimos que isso ocorre principalmente porque os algoritmos de sugestões do YouTube deram preferência a conteúdo pró-HCQ. Como pode ser visto na imagem abaixo, estes vídeos possuíam maior média no número de vezes que foram recomendados no nosso dataset em comparação com vídeos anti-HCQ.

Ainda que o YouTube tenha anunciado ações para combater o espalhamento de conteúdo favorável a medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento de Covid-19, os nossos resultados mostram que a plataforma acabou favorecendo a propagação de vídeos pró-HCQ. Também analisamos quantos vídeos pró-HCQ seguem disponíveis no YouTube e descobrimos que o número é superior a 90%. Entre os que fazem parte do nosso dataset, apenas 20 vídeos pró-HCQ foram removidos por ferir as normas de conteúdo do YouTube e 12 vídeos pró-HCQ estão indisponíveis ou foram tornados privados. Juntos, estes vídeos foram assistidos mais de 4 milhões de vezes. Isto indica que as ações do YouTube foram tardias, já que os vídeos retirados do ar foram visualizados milhões de vezes, e tiveram pouca eficácia, já que a maioria dos vídeos pró-HCQ segue disponível.

 

Relevância

Drogas sem eficácia no tratamento da Covid-19 foram um dos principais tópicos da desinformação sobre a pandemia no Brasil. De forma particular, a CPI da Covid investiga questões relacionadas a lobby de empresas com políticos e também a pagamentos para que médicos prescrevam drogas do “kit Covid”. Por isso, é importante compreender como o conteúdo sobre cloroquina e hidroxicloroquina circulou nas mídias sociais, em particular, no YouTube, plataforma utilizada por aproximadamente três quartos da população brasileira – segundo dados do Digital News Report, da Reuters Insitute.

Os nossos resultados destacam o papel da imprensa brasileira na promoção de drogas sem eficácia para Covid-19. Isto é especialmente problemático porque a imprensa acaba contribuindo com o contexto de desinformação sobre a pandemia no Brasil. Além disso, vimos que as ações do YouTube no combate a desinformação foram insuficientes. Mais do que isso, o YouTube acabou promovendo conteúdo pró-HCQ ao mais frequentemente recomendar vídeos que promoviam as drogas.

 

Autores

Os autores deste artigo são Felipe Soares (MIDIARS), Igor Salgueiro (UFPEL), Carolina Bonoto (UFRGS) e Otávio Vinhas (UCD).