A PINACOTECA DO PALÁCIO PIRATINI

O ano do Centenário do Palácio Piratini foi um marco quanto ao desenvolvimento e execução de projetos que visam à preservação em diferentes âmbitos, como a do patrimônio edificado, bens móveis e integrados. Dentro dessas circunstâncias, e considerando o Piratini como a casa de todos os gaúchos, a restauração do acervo de sua pinacoteca não poderia ficar fora das ações previstas para data tão significativa. Foi idealizada uma parceria junto ao curso de Bacharelado de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, da Universidade Federal de Pelotas, para ações de restauro de 17 obras que compõem esse recorte do acervo artístico do Palácio Piratini.

O conjunto de pinturas abarca artistas como Guido Mondin, Benette, Leopoldo Gotuzzo, Helios Seelinger, Uragami, Ângelo Guido, dentre outros. O Governo do Rio Grande do Sul ao disponibilizar seu acervo e subsidiar meios para a realização dos procedimentos de restauração contribui com a formação dos alunos do curso, fomentando a pesquisa científica e a cultura. Em contrapartida o Palácio terá suas pinturas de cavalete restauradas, além de ter o setor documental enriquecido com as pesquisas e trabalhos de conclusão de curso desenvolvidos acerca da coleção.

O governo do Estado, ao estabelecer pontes entre instituições em nome de um bem comum – desta feita, a restauração de parte de sua pinacoteca - não apenas reafirma valores imprescindíveis ao processo civilizatório como também devolve à sociedade o produto de tais ações e democratiza o acesso à um patrimônio que é de todos nós.

_ Mateus Gomes e Isis Fófano
Diretor Executivo e Conservadora-restauradora
Gabinete do Governador | Departamento de Conservação e Memória do Patrimônio Cultural do Palácio Piratini

 

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A EXPOSIÇÃO DAS OBRAS RESTAURADAS

Como museu universitário o MALG apresenta à comunidade o resultado de um importante projeto de cooperação envolvendo o Estado do Rio Grande do Sul e a Universidade Federal de Pelotas, promovendo a cultura, o conhecimento e o patrimônio artístico do Estado.

O resultado desse projeto de cooperação pretende oferecer, através desta exposição e de maneira clara e didática, algumas informações relativas aos procedimentos e processos desenvolvidos pela equipe de professores, técnicos e estudantes do Laboratório Aberto de Conservação e Restauração de Pinturas durante o período em que se dedicaram ao trabalho cujo resultado pode ser conferido nas obras expostas.

Outro aspecto que merece destaque é o zelo da equipe do Palácio com o conjunto das obras apresentadas que, como toda coleção, traz consigo as marcas e registros históricos de sua constituição, materializadas através de diferentes temas, estilos, artistas e técnicas de pintura. Além disso, trata-se de uma situação singular esta coleção ser exposta para o grande público fora de sua sede, que é o próprio Palácio Piratini, e em outra cidade, que não a capital do Estado – em consonância com outras ações que têm sido realizadas para interiorização da arte, da cultura e do patrimônio.

O MALG agradece às instituições e aos profissionais participantes pela parceria estabelecida na exposição deste importante projeto e espera proporcionar a todos e todas uma experiência de proximidade e envolvimento com os distintos saberes em diálogo e a magnitude das obras da Pinacoteca do Palácio Piratini.

_ Prof. Dr. Lauer Alves Nunes dos Santos
Diretor do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo
MALG | CA | UFPel

 

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O LABORATÓRIO ABERTO DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE PINTURAS

O projeto promove a valorização do patrimônio cultural e artístico do estado do Rio Grande do Sul e tem como escopo a recuperação dos acervos de instituições públicas e privadas. Concomitantemente, oportuniza um espaço para a formação qualificada dos alunos dos Cursos de Bacharelado em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis do Instituto de Ciências Humanas (ICH) da Universidade Federal de Pelotas.

A exposição apresenta as pinturas restauradas pelo Projeto de Extensão “Laboratório Aberto de Conservação e Restauração de Pinturas (LACORPI)” dentro da ação “Palácio Piratini 100 anos - Restauração das Pinturas de Cavalete pertencentes ao acervo do Estado” que integra o acordo técnico-científico celebrado entre a UFPel e o Estado do Rio Grande do Sul.

A restauração restitui a integridade das obras e ainda possibilita várias práticas que envolvam a comunidade e a universidade, a fim de debater a importância da preservação do patrimônio cultural, nesse sentido, foi possível a restauração de 17 pinturas muito significativas para a História da Arte gaúcha.

Fazem parte das etapas do projeto procedimentos que envolvem a conservação-restauração como os exames pontuais e globais, análises estética, iconográfica, iconológica, histórica, assim como os procedimentos práticos da restauração. Além da restauração em si, o projeto gerou vasta documentação que contribuirá para a criação de um E-book. É válido ressaltar que a UFPel acompanhou de forma ativa o transporte das obras garantindo a salvaguarda das mesmas até a exposição.

_ Profa. Dra. Andréa Lacerda Bachettini
Professora Associada do DMCOR | ICH | UFPel
Coordenadora do Projeto Laboratório Aberto de
Conservação e Restauração de Pinturas

 

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A HISTÓRIA DA ARTE NO RIO GRANDE DO SUL ATRAVÉS DA PINACOTECA DO PALÁCIO PIRATINI, RESTAURADAS PELO LACORPI/UFPel E AGORA EM EXPOSIÇÃO NO MALG/UFPel

As obras apresentadas nesta exposição fazem parte do acervo do Palácio Piratini. Em um primeiro momento não se encontra uma relação entre elas, mas com um olhar mais atento pode-se perceber que elas contam muito da História da Arte do Rio Grande do Sul.

Envolvido com lutas, batalhas, guerras e em proteger a fronteira mais longínqua do Brasil, o Estado acabou demorando para poder fazer parte da produção e incentivo às artes plásticas. Nesse período, os poucos pintores que surgiram tiveram que sair do Estado, tanto para estudar, como para comercializar suas obras, eles  se estabeleceram, principalmente, no Sudeste. Os primeiros pintores que fizeram história eram estrangeiros que excursionaram pelo país e Estado retratando figuras importantes e paisagens locais, mas sem fixar moradia no local. 

Com a "pacificação" do Estado, o surgimento de uma classe burguesa, a urbanização e a melhoria da infraestrutura nas cidades, houve condições do Rio Grande do Sul começar a pensar em arte e na sua comercialização. Surge um segundo grupo de pintores formado por estrangeiros e por brasileiros, que fixaram residência no Estado, produzindo e ensinando a arte pictórica em seus ateliês particulares. Já seguindo esses, surge o terceiro grupo: os filhos de imigrantes nascidos no Brasil.

A constituição do conjunto de pinturas do Palácio Piratini, apresentadas no MALG, foi iniciada na década de 1920. Tem-se pintores descendentes de estrangeiros nascidos no país, como: Helios Seelinger (Rio de Janeiro, 04/08/1878 - Rio de Janeiro, 21/09/1965), cujo pai era um imigrante alemão; Leopoldo Gotuzzo (Pelotas, 08/04/1887 - Rio de Janeiro, 11/04/1983) filho do imigrante italiano Caetano Gotuzzo; Guido Mondin (Porto Alegre, 06/05/1912 – Brasília, 20/05/2000) neto de imigrantes italianos; Benette Casaretto Motta (Pelotas/Cascata 3/6/1925- Porto Alegre, 02/11/2018), neta de italianos; Jatyr Loss (Bento Gonçalves, 1919 – Porto Alegre, 30/04/1988) filho de italiano.

Também temos dois estrangeiros que deixaram suas obras nessa coleção: Ângelo Guido (Cremona, 10/10/1893 – Pelotas, 9/12/1969) italiano; Masanori Uragami (Honolulu/Hawai, 7/6/1918 – Estados Unidos, 2004) japonês. E finalizando dois gaúchos: Libindo Ferrás (Porto Alegre, 13/09/1877 - Rio de Janeiro, 09/08/1951) e Glauco Rodrigues (Bagé, 05/03/1929 – Rio de Janeiro, 19/03/ 2004). Eles fazem parte dos pintores nascidos no Rio Grande do Sul e que desenvolveram suas atividades artísticas relacionadas com o Estado. 

Como é apresentado na História da Arte do Rio Grande do Sul, no começo do século XX, este é um universo masculino, com homens pintores, professores, críticos de arte e historiadores. As mulheres são exceção na história que consta nos livros, assim também é na coleção do Piratini, entre as 17 obras há apenas uma pintura de autoria feminina, que estava identificada como “pintor desconhecido”, mesmo constando no quadro o nome da pintora, Benette. 

Nessa coleção em exposição a maioria das pinturas é em óleo sobre tela, apenas duas são aquarelas, com algumas obras com suporte em cartão, Duratex ou papel. Os temas religiosos e de natureza morta eram muito recorrentes na arte pictórica no começo do século passado. A coleção do Palácio apresenta três obras com temas religiosos e uma com natureza morta. Três pinturas apresentam paisagens do Brasil: uma da Amazônia,  uma do Rio de Janeiro e outra do litoral nordestino. Apenas uma obra, intitulada “Casa de Esquina", apresenta uma paisagem parisiense, o “Café Montparnasse”, local frequentado, no início do século passado, por pintores e intelectuais que viviam na cidade de Paris, onde muitos pintores brasileiros foram estudar. No entanto, a grande maioria dos quadros trazem temas regionais, nove no total das obras apresentam locais emblemáticos do Rio Grande do Sul, cenas cotidianas dos gaúchos, paisagens locais e “A Espécie”, quadro com cavalos, que estão arraigados na cultura rio-grandense.     

Com esta análise simplificada, percebe-se que a constituição da coleção do Palácio Piratini acompanhou os mesmos caminhos da História da Arte do Rio Grande do Sul, não abrangendo-a na íntegra, mas sendo um  exemplo de um bom panorama de suas características.  

_ Darlene Vilanova Sabany
Acadêmica do Curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais | ICH | UFPel

 

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