Projeto Pomerano: língua viva

O projeto de extensão Pomerano: língua viva tem como objetivo promover ações para favorecer a vitalidade da língua pomerana falada no Rio Grande do Sul. Este projeto integra universidade e comunidade, congregando os esforços de manutenção da língua pomerana, patrimônio do estado.
A importância da manutenção ressalta-se pelo fato de o pomerano praticamente não mais ser falado na Europa, constituindo a peça histórica de uma nação que necessitou sair de sua terra para preservar sua identidade cultural, da qual a língua é um traço muito importante. Propõem-se diversas atividades para uso da língua pomerana (cursos, eventos, oficinas, entre outros) e conscientização sobre diversos aspectos relacionados à língua. Uma das iniciativas é o Instagram @platsprak, desenvolvido pelo bolsista João Nörnberg. Outra ação é o concurso de poemas e contos em pomerano, que resultará numa coletânea a ser publicada ainda em 2024.
Duração do projeto: 07/03/2022 a 05/03/2026

 

O que é didática do multilinguismo?

De acordo as pesquisadoras Karen Pupp Spinassé e Maria Lidiani Käfer (2017, p. 397), a didática do multilinguismo é “[…] uma abordagem de ensino em que se trabalhe, com o aprendiz, mais de uma língua, simultaneamente, levando-se em conta os diferentes sistemas com os quais o aluno possa estar (ou possa vir a estar) em contato” .

Através da didática do multilinguismo, busca-se desenvolver a competência plurilíngue dos alunos, incentivando-os a utilizar os conhecimentos que já possuem sobre um idioma para facilitar a aprendizagem de outro. 

Como utilizar a didática do multilinguismo?

  • Reconhecer e integrar na aula os conhecimentos linguísticos prévios dos estudantes;
  • Incentivar e auxiliar os alunos a estabelecer conexões entre as línguas; 
  • Propor atividades que sensibilizem e conscientizem os alunos para as línguas e o papel que elas exercem na sociedade; 
  • Transferir estratégias de aprendizagem de uma língua estrangeira para a outra;
  • Aprimorar a consciência (meta)linguística.

Confira, na imagem abaixo, um exemplo de atividade no âmbito da didática do multilinguismo, elaborada e aplicada por Karen Pupp Spinassé e Maria Lidiani Käfer (2017, p. 406) com estudantes de contextos multilíngues (de contato português e Hunsrückisch).

Nesse exercício, os estudantes deveriam identificar as línguas apresentadas e completar as lacunas com as línguas que sabem. Dessa forma, eles podem se abrir para outras línguas e estabelecer conexões entre as línguas, verificando que possuem conhecimentos que podem ajudar a aprender línguas tipologicamente semelhantes.

Referências
KUMARAVADIVELU, Bala. Beyond Methods: Macrostrategies for Language Teaching. Illustrated ed. New Haven: Yale University Press, 2002.
SPINASSÉ, Karen Pupp; KÄFER, Maria Lidiani. A conscientização linguística e a didática do multilinguismo em contextos de contato Português-Hunsrückisch. Gragoatá, v. 22, n. 42, p. 393–415, 2017.

O que é Hipótese Sapir-Whorf?

Também conhecida como Relativismo Linguístico, a Hipótese Sapir-Whorf, que estamos estudando no grupo de pesquisa, explora a relação entre língua e pensamento. Mais especificamente, como as línguas que sabemos podem afetar o modo como nos lembramos das coisas ou em que prestamos atenção.

A Hipótese baseia-se em duas ideias principais:

  • Diversidade Linguística: as línguas diferem entre si, tanto no nível estrutural quanto no conceitual;
  • Relatividade Linguística: as línguas podem influenciar o modo como pensamos;

Wilhelm von Humboldt via as línguas como sistemas de interpretação da realidade. Isso não quer dizer que diferentes línguas representem diferentes mundos, mas que a estrutura e o vocabulário de uma língua podem fazer seus falantes notarem e expressarem certos aspectos da realidade com mais detalhe ou frequência do que os falantes de outra língua.

A teoria é especialmente relevante nos estudos do Multilinguismo porque pode ajudar a compreender fenômenos como a transferência conceitual – quando o modo de pensar em uma língua afeta como nos expressamos em outra, e a investigar como aprendemos novas maneiras de entender e expressar conceitos como cor, tempo, espaço, movimento, gênero, dentre outros.

Referências
BASSETTI, Benedetta; COOK, Vivian. Language and Billingual Cognition. Londres: Psychology Press, 2010.
PAVLENKO, Aneta. The Bilingual Mind: and what it tells us about language and thought. Cambridge: Cambridge University Press, 2014.
FERREIRA, Renan Castro; MOZZILLO, Isabella. Transferência Conceitual: O Relativismo Linguístico na Aprendizagem de Segunda Língua. Alfa: Revista de Linguística (São José do Rio Preto), v. 65, e12799, 2021.

O que são línguas minoritárias?

O conceito de língua minoritária é relativo. O português, por exemplo, é língua minoritária no Uruguai. Línguas minoritárias são aquelas que contrapõem o que é majoritário ou dominante e têm o seu valor nas comunidades de fala.

As línguas minoritárias têm status dinâmico: uma língua minoritária pode se tornar, ao longo dos anos, majoritária, (co)oficial ou hegemônica. 

São, por vezes, línguas minorizadas, pois o status político seria o critério central, não aspectos linguísticos. Dessa forma, os papéis que elas desempenham na sociedade as definem mais adequadamente do que as suas características linguísticas.

São exemplos de línguas minoritárias (dentre muitas outras!): 

  • Xavante; 
  • Pomerano;
  • Hunsrückisch;
  • Talian;
  • Libras;
  • Polonês; 
  • Coreano.

Algumas dessas línguas (como o Pomerano, o Talian e a Libras) já foram cooficializadas no Brasil. Confira no site do IPOL (Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística) uma lista completa (atualizada em outubro de 2022). 

Referências
ALTENHOFEN, Cléo Vilson. Bases para uma política linguística das línguas minoritárias no Brasil. In: NICOLAIDES, C. et al. (Eds.). Política e Políticas Linguísticas. Campinas: Pontes Editores, 2013. p. 93–116.
BROHY, Claudine et al. Carta Europea para as linguas rexionais ou minoritárias. Actividades para a aula. Council of Europe: Xunta de Galicia, 2019.
IPOL. Lista de línguas cooficiais em municípios brasileiros, 2022. Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística, 2022.
GRENOBLE, Lenore; ROTH SINGERMAN, Adam. Minority Languages. Oxford Bibliographies, v. Linguistic, p. 1–2, 2016.

O que é Psicolinguística?

A Psicolinguística é um campo de pesquisa relativamente recente, com origem em 1953 durante um evento na Universidade de Indiana (Estados Unidos). Ela investiga o processamento dos diversos níveis linguísticos (fonológico, sintático, discursivo etc.) e modalidades (por exemplo, vídeo, ilustração, gráfico etc.) de pessoas diversas. 

A Psicolinguística estabelece uma relação das estruturas e dos processos cognitivos com a representação, aquisição, compreensão, produção e percepção de uma ou mais línguas e possibilita a investigação de diferentes populações (idades, configurações linguísticas, distúrbios, escolaridades, status socioeconômico, entre outros grupos e variáveis).

Referências
BUCHWEITZ, Augusto; LIMBERGER, Bernardo K.; KRAMER, Rossana. Psicolinguística. Letrônica, v. 7, n. 1, p. 1-3, 2014.
FERNÁNDEZ, Eva; CAIRNS, Helen Smith. Prologue. In: FERNÁNDEZ, Eva; CAIRNS, Helen Smith (org.) The Handbook of Psycholinguistics. Hoboken: John Wiley & Sons Inc., 2018. p. xxiii-xxv.

O que é multilinguismo?

A nível individual, o multilinguismo é uma configuração linguística dinâmica e complexa que envolve, no mínimo, três línguas (De Angelis, 2007; Herdina; Jessner, 2002). No entanto, no multilinguismo, não é necessário possuir alto nível de proficiência e fluência em todas as línguas e habilidades. O que é importante para descrever a pessoa como multilíngue é o seu uso e conhecimento de várias línguas. 

O multilinguismo pode ser caracterizado como uma área de estudos com:

Além disso, o multilinguismo possibilita o acesso a diferentes culturas e facilita a aprendizagem de línguas adicionais. 

Confira, na imagem abaixo, um exemplo de um falante multilíngue de acordo com Grosjean (2010):

Marina é um indivíduo multilíngue que vive no Rio Grande do Sul. Ela nasceu no Brasil e sua língua materna é português. Marina gosta de ouvir músicas em inglês e tem aulas dessa língua na escola. Ela e sua família descendem de alemães. Ela fala pomerano com sua família e com alguns de seus amigos, mas não usa essa língua todos os dias. Por morar próximo à fronteira com o Uruguai, Marina também costuma ouvir o espanhol sendo falado em sua cidade. 

Embora Marina não seja igualmente fluente em todas as línguas, todas elas são parte integrante de seu repertório linguístico. Palavras em outras línguas (Lx) também estão incluídas no seu repertório linguístico. Ela gosta de bandas coreanas e, por isso, sabe algumas palavras em coreano. Além disso, se interessa por culinária e sabe nomes de pratos típicos de diferentes países. Marina pode lançar mão dos conhecimentos que possui sobre esses idiomas a depender do que é exigido pela situação. Isso faz dela uma falante multilíngue. 

 

Referências
DE ANGELIS, Gessica. Third or Additional Language Acquisition. Clevedon, UK: Multilingual Matters, 2007.
GROSJEAN, François. Bilingual: life and reality. Cambridge: Harvard Univ., 2010.
HERDINA, Philip; JESSNER, Ulrike. A Dynamic Model of Multilingualism: Perspectives of Change in Psycholinguistics. Clevedon/Buffalo/Toronto/Sydney: Multilingual Matters, 2002.

Convite para defesa de dissertação

Convidamos a prestigiarem a defesa de mestrado de Leonardo da Rosa Ribeiro: Translinguagem e leitura: efeitos da instrução para práticas translingues na compreensão leitora em francês como língua estrangeira.