O grupo operativo, segundo a concepção de Pichon-Rivière, é um instrumento de trabalho, um método de investigação e cumpre, além disso, uma função terapêutica. No entanto, sua finalidade não é tanto “curar” mas sim “resolver” os obstáculos para o desenvolvimento do indivíduo no grupo, colocando-o em melhores condições de encontrar as próprias soluções.
Ao contrário de um grupo “terapêutico” que olha mais para o passado, o grupo operativo tem uma dimensão prospectiva, tudo que surge no grupo é um ensaio do que se realizará em seguida e fora do grupo. Está centrado numa tarefa, reparando as redes de comunicação, superando a resistência à mudança, fazendo uma leitura crítica da realidade.
O grupo operativo se constitui numa equipe que aprende, enquadrando tempo e espaço, podendo ser aplicado a diferentes grupos, qualquer que seja a sua tarefa, como no ensino, teatro, música, esportes, empresas, terapia, etc.
Tem como papéis fixos o coordenador e o observador, e não fixos, que seriam os demais integrantes. A dinâmica grupal inclui as seguintes noções:
+ pré-tarefa: momento do grupo em que predominam os mecanismos de dissociação, as diferentes formas de não entrar na tarefa, mecanismo de postergação que oculta a dificuldade em tolerar a frustração de iniciar e terminar tarefas, levando a uma constante frustração.
+ tarefa: acontece quando se elaboram os quatro momentos da função operativa (estratégia, técnica, tática e logística); será mais operativo quanto maior o grau de criatividade, que se dá na medida em que se enfrentam tarefas novas com técnicas diferentes, possibilitando a aprendizagem e tornando o grupo mais flexível; ao processo no mundo externo correspondem as mudanças no mundo interno da consciência individual e grupal.
= a estratégia é o planejamento de longo alcance, a técnica são os diferentes recursos, instrumentos e a forma utilizada para operar no campo, a tática é a forma com que emprega-se o plano na prática e a logística é a observação do campo inimigo, ou seja, a resistência à mudança.
+ projeto: após a elaboração da estratégia operativa no mundo interno e sobre a base do planejamento, o sujeito ou o grupo podem orientar-se para a ação futura que emerge da tarefa.
No grupo operativo é fundamental observar a dinâmica, que reflete os fenômenos transferenciais, levando em conta a relação do grupo com a tarefa.
Para facilitar a observação dos fenômenos grupais o esquema do cone invertido pode ser útil:
+ afiliação e pertencimento: significa o grau de identificação dos membros com o grupo e entre si; alguns indivíduos sentem-se parte de um “nós” (pertencentes) e outros colocam-se na relação eu-eles (afiliados); o grau de responsabilidade com a tarefa irá variar entre os tipos, embora essa também seja uma relação dinâmica.
+ cooperação: capacidade de ajudar-se entre si e o coordenador; se dá na medida em que os papéis no grupo sejam complementares e não suplementares, que levam à rivalidade.
+ pertinência: capacidade de centrar-se na tarefa, no aqui e agora, vencendo a resistência à mudança e resolvendo os problemas.
+ comunicação: as diferentes formas de relacionamento no grupo, que inclui a não-comunicação, os subentendidos e mal entendidos.
+ aprendizagem: soma da informação que cada integrante do grupo leva à tarefa, adaptação ativa à realidade, levando à modificação do indivíduo e do meio, numa interação dinâmica, desenvolvendo condutas alternativas diante dos obstáculos.
+ tele: disposição positiva ou negativa para interatuar mais com um dos membros do que com outros; sentimento de atração ou rejeição, simpatia ou antipatia; coisa “de pele”.
No vértice do cone se encontra o mais explícito ou manifesto, enquanto na base está aquilo que é implícito ou latente.
Analisando a Poética de Aristóteles, Pichon faz uma comparação com o teatro grego, onde os expectadores participavam ativamente e, ao contemplar o espetáculo, realizavam ao mesmo tempo uma catarse emocional. Esse processo se dá pela identificação com o porta-voz-protagonista. No grupo operativo também haveria um porta-voz, que sinaliza o processo grupal, expressando algo latente, que podem ser as fantasias, ansiedades e necessidades do grupo.
Desta forma, criam-se papéis verticais (cada integrante) e horizontais (o grupo), a tarefa do coordenador será colocar em evidência essas dinâmicas que perpassam indivíduos e o grupo, sempre de modo prospectivo, levando a ações futuras e no exterior, ainda que o grupo possa apresentar fenômenos regressivos (que seriam melhor interpretados no contexto de um grupo terapêutico).
O coordenador ajuda a estabelecer um enfoque para a operação do grupo, a fim de desenvolver as tarefas reflexivas internas que conduzem às tarefas externas, de responsabilidade do grupo. O processo do grupo operativo é dinâmico, pois a atividade não deve estar rigidamente organizada, dando espaço à criatividade, reflexivo, no movimento de olhar para dentro e para diante, e democrático, pois todo pensamento e ação deve originar-se do próprio grupo, com o surgimento lideranças funcionais.
Portanto, o coordenador assume um papel diferente no grupo, não assumindo funções que possam ser realizadas por outros membros. Ao se colocar na posição de “estar no grupo, sem ser do grupo” cria o espaço para um movimento em espiral que leva a um processo sem fim, O observador cumpre uma função auxiliar, sem interferir ativamente na coordenação, mas trazendo à tona possíveis materiais que possam ser explicitados no grupo; os papéis de coordenador e observador geralmente são delegados aos profissionais da equipe de saúde, que podem se revezar nessas funções.
A partir do existente no grupo, implícito ou explícitamente, é possível propor uma nova perspectiva, esclarecendo as dificuldades e modificando as situações, uma mudança que se expressa num emergente, ou a resposta do grupo, desestruturando uma situação prévia e estruturando uma nova.
O grupo operativo é um instrumento adequado para o esclarecimento, a comunicação, a aprendizagem e a resolução da tarefa, que possivelmente resolve também as situações de ansiedade (1,2).
No contexto da Unidade Básica de Saúde, o grupo operativo poderia ter uma função de reflexão e aprendizagem, rumo a projetos individuais e grupais de saúde.
- Berstein, Marcos. Contribuições de Pichon-Rivière à psicoterapia de grupo. In: Osório, Luiz Carlos e colaboradores. Grupoterapia hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.
- Portarrieu, Maria Luisa; Tubert-Oklander, Juan. Grupos operativos. In: Osório, Luiz Carlos e colaboradores. Grupoterapia hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.