A entrevista motivacional é um método clínico sob forma de uma orientação colaborativa e centrada na pessoa a fim de evocar e fortalecer a motivação para mudanças.
São muitas as causas de morbimortalidade relacionadas com o estilo de vida das pessoas: tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo, obesidade, dietas e controle da pressão arterial inadequados, dislipidemia e diabetes.
As motivações para mudar ou não uma conduta tem relação com os valores da pessoa: saúde, família, trabalho, amizades, lazer, etc. No entanto, muitas pessoas tendem a evitar ou postergar a solução por enfrentarem uma ambivalência, ou seja, a coexistência de ideias e sentimentos antagônicos em relação a uma coisa ou conduta, impedindo a decisão de mudar.
A maioria das pessoas que decidem modificar um hábito o fazem por uma decisão que permite, de modo gradual, obter o controle emocional suficiente para produzir a determinação de mudança..
O conceito da entrevista motivacional foi desenvolvido por Miller e Rollnick (1): “método de orientação centrado no paciente com o objetivo de aumentar a motivação intrínseca para a mudança, ajudando o paciente a explorar e resolver sua ambivalência”.
O método tem como princípios básicos:
- Inibir o reflexo de prescrição: evitar dizer ao paciente o que ele deveria fazer e a colocação de rótulos.
- Explorar e compreender as motivações do paciente: facilitar o diálogo de mudança, com base nos seus desejos.
- Escutar com empatia: mostrar que entende como o paciente se sente, suas preocupações e dificuldades, em clima de aceitação.
- Apoiar o sentido de autoeficácia: evidenciar as habilidades demonstradas em tentativas prévias, destacando atitudes e capacidades do paciente para a mudança; dar apoio e confiança para que o paciente desenvolva um plano de ação conforme suas possibilidades.
A entrevista motivacional é uma forma de se relacionar e estar com o paciente, com os seguintes elementos:
+ Colaboração: evitar a confrontação, através da negociação do compromisso com a mudança.
+ Evocação: conhecer e fazer surgir do paciente suas motivações para mudança ao invés de impor seus próprios argumentos ou pontos de vista.
+ Aceitação: ver a pessoa como ela é, assumindo que pode crescer e se desenvolver.
+ Compaixão: demonstrar sua intenção de uma relação de ajuda incondicional e genuína.
+ Apoio à autonomia: ajudar na tomada de decisões de modo compartilhado, respeitando a decisão final do paciente.
Habilidades da entrevista motivacional:
- fazer perguntas abertas: “como é seu hábito de fumar?” ou “quais dificuldades você vê em reduzir os lanches?”, evitar questões como “você fuma?” ou “quanto você bebe diariamente?” que tendem a converter a conversa em um interrogatório e são pouco efetivas.
- validar as atitudes, habilidades e interesses do paciente (p.ex: “confio em você”, “você consegue fazer”).
- escuta reflexiva: espelha elementos significativos do discurso do paciente, por repetição, refraseado, paráfrase ou metáfora.
- informação e aconselhamento: em alguns momentos pode ser necessário, sobretudo quando solitado pelo paciente, proporcionar informações ou recomendações, numa perspectiva bidirecional, para que o paciente participe ativamente na tomada de decisões.
O modelo da Entrevista Motivacional (EM) propõe uma série de processos para obter as mudanças:
= Envolver: ambas as partes estabelecem uma conexão útil e uma relação de trabalho.
= Focar: estabelecimento de uma agenda ou objetivo de mudança, que pode ser reconsiderada no meio do caminho.
= Evocar: fazer emergir, por meio da conversação, as próprias motivações do paciente para mudança.
= Planejar: plano de ação conjunto na direção da mudança.
Um modelo breve da EM poderia ser resumido nos seguintes ítens:
- Pedir permissão: “O que você acha de falarmos sobre…”
- Perguntar sobre manutenção: “Do que você mais gosta no hábito de…”
- Escutar ativamente: “Sim, entendo…”; “Conte-me mais…”
- Perguntar sobre a mudança: “Por outro lado, o que o desagrada no hábito de…”
- Resumir a ambivalência: “Sim, entendi… você gosta de… e, por outro lado, também diz que…”
- Fazer uma pergunta ativadora: “Com tudo isso, o que pensa que deveria fazer?”, “Qual seria o próximo passo?”
- Mostrar apreço: “Agradeço sua confiança para falar de…”
- Estimular a autoeficácia: “Confio que quando você se propuser a mudar encontrará a forma de fazê-lo e poderá contar com todo o meu apoio” (2).
- Miller, William R; Rollnick, Stephen. Motivational interviewing – helping people change and grow. 4 ed. New York: Guilford, 2023.
- Dohms, Marcela; Gusso, Gustavo (orgs.) Comunicação clínica – aperfeiçoando os encontros em saúde. Porto Alegre: Artmed, 2021.
Links úteis:
MINT – rede de treinadores em entrevista motivacional: https://pt.motivationalinterviewing.org/
Recursos adicionais para aprendizado e treinamento: https://www.guilford.com/companion-site/Motivational-Interviewing-Fourth-Edition/9781462552795