Olimpíada: um facho de luz aos atletas brasileiros na mídia

Por: Henrique König

Os Jogos Olímpicos Rio 2016 terminaram com o Brasil no 13º lugar do quadro-geral de medalhas. Foram sete medalhas de ouro, seis de prata e seis de bronze. Das modalidades coletivas, que criam grande expectativa no público, somente o vôlei e o futebol masculinos saíram campeões. São exatamente as modalidades com bases mais largas no país.

Os demais competidores deparam-se com um facho de luz forte proporcionado pela Olimpíada. É algo semelhante ao período que antecede as eleições, quando governantes impulsionam obras para demonstrar trabalho e comprometimento com a população. No caso da mídia, o período pré e durante a Olimpíada é a hora de erguer atletas e buscar histórias para emocionar. É hora de dar as devidas atenções às modalidades antes esquecidas. Para alguns atletas, o holofote também torna-se pressão demasiada pelo resultado.

Nestes Jogos Olímpicos, as chances de medalha do handebol e do vôlei feminino acabaram nas quartas de final. Apesar disso, ambas as seleções já foram campeãs pelo mundo. O handebol foi ouro no Mundial de 2013. O vôlei foi vencedor em Pequim 2008 e Londres 2012. Não conseguiu o tricampeonato.

Não se pode esquecer da seleção brasileira feminina de futebol, que atraiu muitos olhares e debates durante a competição. Sem ter como evoluir dentro do torneio, não conseguiu marcar gol nos jogos de mata-mata e acabou em quarto lugar, sem medalha desta vez e ainda com o sonho do ouro inédito. Mais do que isso, o sonho de que a mídia e o tamanho holofote já existente do futebol olhe também para as mulheres. Neste mês de agosto, começa a Copa do Brasil e os grandes veículos não trarão os devidos informativos ou discussões. Se trouxerem notas nos telejornais, já será um avanço.

As gratas surpresas aos brasileiros ficaram em competições individuais ou por dupla, em atletas pouco conhecidos. O grande destaque foi Isaquias Queiroz, baiano do município de Ubaitaba, que significa Cidade das Canoas. Não por acaso, desde muito jovem, demonstrou talento para canoagem e saiu do Rio de Janeiro com três medalhas na Lagoa Rodrigo de Freitas: duas pratas, uma ao lado de Erlon de Souza, e um bronze. Foi o primeiro atleta brasileiro a conquistar três medalhas em uma única edição de Olimpíada.

Durante as competições, os comentaristas bem lembraram o potencial brasileiro para avançar na canoagem. Há rios e lagoas pelo vasto horizonte do país. É preciso que governantes e investidores atentem a esse potencial. A modalidade, assim como muitas outras, é dominada pela Alemanha.

No vôlei de praia, o Brasil segue como país que mais somou medalhas ao longo da história olímpica. No feminino, Ágatha e Bárbara ficaram com a prata. No masculino,

Alison e Bruno Schimidt foram os campeões em Copacabana. Quanto à potencialidade do esporte no país, nem é necessário comentar o cenário favorável no litoral brasileiro.

O atletismo já havia trazido Maurren Maggi em Pequim 2008, no salto em distância. A surpresa para 2016 ficou por conta de Thiago Braz, medalhista de ouro no salto com vara, superando o favorito competidor francês Lavillenie e com direito à quebra do recorde olímpico, ao saltar 6,03m.

O judô é a modalidade com mais medalhas adquiridas pelo Brasil. No Rio de Janeiro não foi diferente e houve a superação de Rafaela Silva como destaque. Em breve relato, ela nasceu nas proximidades do local das provas, na Cidade de Deus, foi descoberta em projeto social, superou inúmeras barreiras para chegar ao profissionalismo, foi desclassificada em Londres 2012, ofendida e vítima de racismo nas redes sociais e finalmente calou os insensatos críticos: ouro na categoria até 57 kg. Lição de vida, apelo para que acreditem nas comunidades carentes, nas periferias e tapa na cara do preconceito.

Exemplo de volta por cima também dado por Diego Hypólito. Assim como Rafaela Silva, o ginasta também passou por tratamento de depressão em função de derrotas. Quando era mais cotado como favorito, falhou em Pequim 2008 e Londres 2012. Já aos 30 anos, o grande feito e a medalha olímpica: prata no solo. Lágrimas dessa vez de quem caiu de pé nos saltos.
Erlon de Souza e Izaquias Queiroz, medalhistas de prata na canoagem. Foto:Ryan Pierse / Getty Images.

São inúmeros feitos alcançados pelos atletas de norte a sul do Brasil. Homens e mulheres, muitos militares e/ou fortalecidos pelo bolsa-atleta. Apesar dos projetos e financiamentos federais, ainda é muito pouco. O Brasil teve sua melhor participação nos Jogos Olímpicos e mesmo assim terminou em 13º lugar. Tem capacidade, potencialidade para estar sempre no top 10. É um futuro muito possível e alcançável em termos de resultado.

Somente através da educação, do esporte e da cidadania, será possível a descoberta de novos competidores e, consequentemente, de novos medalhistas. Os legados ao Rio de Janeiro estão nos bons números em turismo, nos estrangeiros que prometem voltar, em algumas arenas que permanecem de pé para implorar melhor uso do que elefantes brancos da Copa do Mundo de 2014.

O legado ao país é de finalmente abrir os olhos? Um gigante que pouco descobriu seu potencial para as mais diversas competições. Uma população em

gigante desconhecimento ainda das modalidades e suas regras. Atletas que dão exemplos de pura raça e superação e mais uma vez suplicam por investimentos.

O papel da mídia é por especializações. Descobrir cada vez mais o universo de modalidades que possuem práticas e não são divulgadas. Aprimorar o aprendizado para poder passar as informações e repassar os ensinamentos ao público. Investir no acompanhamento dos atletas mais consagrados e assim incentivar novos praticantes.

Tudo isso é tirado de lição da Olimpíada Rio 2016. Em túneis de quatro anos de esquecimento de tantos atletas e tantas modalidades, o surgimento de uma claridade. Mas não pode ser somente um facho de luz para novamente apagar-se, como a saudosa pira olímpica.

Delegação brasileira na cerimônia de abertura da Olimpíada com a porta-bandeira Yane Marques. Foto:Jamie Squire / Getty Images.

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